Não tome remédio na frente das crianças! artigo de Américo Canhoto
[EcoDebate] Recebo com frequência e-mails de amigos leitores do blog que se desculpam por não divulgarem nossas idéias por serem radicais demais em alguns aspectos. Compreendo e estou me esforçando para ser bem light – mas, ás vezes me deparo com situações que me deixam muito mais azulado e quase roxo.
Neste comentário procurei ser bem light e acho que consegui.
Vamos a ele:
Todos os dias acontecem acidentes de intoxicação causada por remédios que ficam ao alcance da molecada. As pessoas esquecem os avisos para manter medicamentos fora do alcance delas; mesmo com tantos alertas aumenta o número de acidentes desse tipo.
Um dos fatores: medicar-se virou uma banalidade; as pessoas tomam tanto remédio que no dia a dia esse descuido tornou-se normal.
Por que os remédios que os adultos tomam desperta tanto interesse na crianças?
As menores, são atraídas pela cor e aspecto dos comprimidos – boa parte deles se parece com guloseima – também pelo odor e gosto adoçado dos xaropes, etc.
Nas maiores acaba sendo mais por imitação, decorrente do aprendizado via repetição; pois de tanto verem os adultos fazer isso; elas querem experimentar; pois a gurizada é movida pela curiosidade; mas, dependendo da faixa etária um novo fator se associa á curiosidade: a busca de limites na fase da contradição; pois, de tanto ouvir que não pode tomar é que brota uma vontade imensa de experimentar. Além disso, não é desprezível a didática do faça o que eu digo; mas, não o que eu faço – Nesse caso, o raciocínio da criança é simples e direto: Se você toma, gosta e não morre; porque eu não posso e morro se tomar o teu remédio? – Será que o teu é mais gostoso que o meu?- Alem disso, muitos adultos sem que o percebam fazem, na ânsia de sentirem-se amados e aceitos pela turma em torno, pose de dódoi ao tomar remédios; especialmente os doentes crônicos. Nossas doenças crônicas sempre sinalizam, falta de raciocínio e pobreza de consciência (preguiça, etc.) pela recusa em aprender com o sofrer nas suas fases agudas.
Mas, como não existem milagres e vivemos numa sociedade doentia; vamos ao que interessa:
Além do fator intoxicação que pode ser grave dependendo da idade da criança, da quantidade do medicamento ingerido e do tipo, quero ressaltar o fator pouco abordado: aprendizagem da doença.
Na nossa cultura, especialmente na era da tecnologia e do consumo, a doença passou a ter um valor máximo; claro que, para consumir mais remédios; e como a formação médica é dominada pela indústria de tecnologia e de fabricação de fármacos que alimentam a indústria que gera empregos, etc. – a política da saúde está mais do que atrelada a esse doentio processo.
Saúde não tem valor nenhum para pessoa alguma até que tenha sido perdida; daí, quem tem valor e dá status é a doença – É engraçado quando ouvimos: o Ministério da Saúde dará remédios de graça para tal doença; exames para outra; ou, o Ministério da Saúde avisa, etc. – Na verdade, o nome correto seria Ministério da Doença; pois, saúde verdadeira seria exatamente criar uma consciência de valorizar o estar saudável num sentido amplo e um forte trabalho de prevenção baseado não em vacinas, exames ou remédios; mas, num processo educacional onde a saúde fosse realmente ressaltada, premiada e valorizada.
Claro que sempre aparece a turma do deixa disso íntimo para desculpar-se da própria falta de competência em livrar-se do jugo do sistema: Não é bem asssim; você está sendo radical!
No atual contexto, para quem quiser checar essa maluquice basta ir a uma sala de espera de uma clínica ou hospital e assistir ao campeonato de doenças – as pessoas competindo para ver quem é o campeão do sofrimento, quem faz os exames mais caros; quem toma mais remédios, etc. Estar doente nos coloca na posição de vítimas; de injustiçados pela sorte na vida (doentes de tanto trabalhar; doentes de tanta falta de competência emocional carregando os problemas dos outros para alcançar a tal da salvação – aliás a religião é cumplice do sistema); além disso, o estado de sofredor serve de álibi para frustrações de não ser um participante no melhor estilo da forma de viver da neurose da competição (é meio que um anestésico da dor da inveja) ou como justificativa de não tornar-se um vencedor em qualquer expectativa dele ou dos em torno; e até para punir os á sua volta; por não amarem a vítima como ela se acha merecedora.
Mas, como justificar o estado de doença sem tomar remédio?
Sobre os males que a atitude promíscua de tomar remédio na frente das crianças gera dá para escrever muitas páginas; mas, um fato cultural salta aos olhos: além do mau exemplo, esse hábito criou um estilo de sociedade que pratica a cultura da gariba, do remedeio, da meia boca, do quebra galho em todos os segmentos da vida; especialmente na coisa publica. Além disso, criou-se a interesseira ilusão de que remédio traz saúde. Sabe qual a semelhança entre o médico e o tapador de buracos de rua? – Adivinhe! – Só uma dica: “Campanha de combate á doença tal” – e do outro lado “Operação tapa-buracos da Prefeitura tal”…
Criança só toma remédio quando a família obriga!
– Errado.
Nas escolas é muito mais comum do que manda o bom senso; crianças fazendo cara de coitado que está morrendo de dor; e porque não está a fim de assistir aula ou está com problemas psicológicos herdados da família: lá vai um analgésico, retirado da lancheira ou solicitado na secretaria ou na enfermaria da escola – Não é raro garotos (alguns cascateiros; mas, outros já tomaram mesmo) apresentando aos colegas, como troféu, um comprimido de viagra do pai, gabando-se de já ter experimentado; meninas gostam mais de mostrar-se para as outras com o antidepressivo ou o sonífero da mãe – analgésicos e remédios para dor de estômago são arroz de festa (todo mundo toma) e não dá Ibope – esses a molecada já toma escondido.
Infeliz e perigosamente, na infância; já não se toma mais remédio como antigamente…
O problema agrava-se a cada dia; e não se trata apenas dos estados de intoxicação que geram urgência em PS; mas, do envenenamento lento, gradual e precoce; cada vez mais precoce; e o pior; a sociedade da correria e da pressa em aproveitar as modernidades da vida não está nem aí; tomar remédio de forma contínua até virou coisa normal.
Tudo bem – Adultos que exerçam seu livre arbítrio! (para quem ainda tem um restinho dele – pois, toda vez que fazemos uma escolha errada o encolhemos segundo a lei de ação e reação) – Mas, e as crianças, que ainda não puderam desta vez exercitar sua liberdade de escolhas; quem vai cuidar delas? – Serão impedidas de ler as “porcarias de bula” escritas numa linguagem não acessível á maioria da população? – Como fazem muitos adultos pouco competentes na arte de viver; e que fujões da arte de desenvolver a responsabilidade sobre si mesmos e seus atos; fazem questão de não ler a bula para não terem o trabalho mental de questionar e continuarem na cômoda função de cobaias travestidas de vítimas.
Nessa guerra ou competição entre cobaias:
Não bastasse o absurdo de medicamentos que são prescritos (pelas cabaias do sistema médico ás cobaias pacientes infantis) em razão do aumento de doenças que se curam apenas com mudança de hábitos, como alergias e outras; e que aumentam em progressão geométrica; para complicar a saúde presente e futura da criançada; ainda há um fator de peso, e pouco comentado, nesse imbróglio: as substâncias usadas na confecção dos alimentos industrializados, especialmente nas “porcarias” e guloseimas que as crianças comem o dia todo (conservantes, estabilizantes, edulcorantes, emulsificantes, etc, etc) – No que vai dar só Deus sabe; embora eu arrisque um palpite: só um milagre de modernas descobertas pode resolver o que vem pela frente; mas como eu não acredito muito em milagres; acho que vai dar caixão precoce; muita choradeira – e para os que já tem bruxismo: muito ranger de dentes – Será um dos capítulos do tal de final dos tempos da arte de vier como cobaia?
O que posso fazer?
Parodiando a estória do beija flor que tentava apagar o incêndio fazendo sua parte:
Quem não consegue deixar de tomar seus remédios; ao menos colabore: NÃO TOME REMÉDIO NA FRENTE DAS CRIANÇAS!
Américo Canhoto: Clínico Geral, médico de famílias há 30 anos. Pesquisador de saúde holística. Uso a Homeopatia e os florais de Bach. Escritor de assuntos temáticos: saúde – educação – espiritualidade. Palestrante e condutor de workshops. Coordenador do grupo ecumênico “Mãos estendidas” de SBC. Projeto voltado para o atendimento de pessoas vítimas do estresse crônico portadoras de ansiedade e medo que conduz a: depressão, angústia crônica e pânico.
* Artigo de Américo Canhoto e colaboração de Ana Echevenguá para o EcoDebate, 02/10/2009
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