Matriz energética brasileira e pratos chineses sugerem alguma semelhança? artigo de Carol Salsa
Matriz de produção de energia elétrica no Brasil
[EcoDebate] Quem foi frequentador de espetáculos circenses deve se lembrar de ter presenciado a tentativa do atores circenses em manter o equilíbrio dos pratos chineses, geralmente, em número de doze. Associando os pratos chineses aos 12 tipos de energia, renováveis e não renováveis, existentes no mundo, tais como: hidro, termolétrica , aterro, fóssil, solar, eólica, maremotriz, geotérmica, gás natural, aterro, biomassa e gravitacional, imaginamos que elas possam girar embaladas pelo seu movimento ajudadas por varetas malabaristas num momento surpreendente. Dessas, vamos consideramos apenas as relacionadas à matriz energética brasileira. O equilíbrio a ser obtido no mercado interno deveria ser diretamente proporcional à importância de cada um dos tipos de energia na composição da matriz conforme o potencial que cada um apresenta, considerando-se o estágio de desenvolvimento em pesquisas e tecnologias já consolidadas, além da produtividade. Mas não é assim que acontece.
O físico José Goldemberg fez um pronunciamento no qual afirmou que o petróleo pode drenar os recursos que seriam direcionados a energias alternativas. A exploração do pré-sal é um risco ao processo de consolidação do Brasil como líder mundial em energias renováveis. Ou seja, ao privilegiar o petróleo em sua matriz energética o país corre o risco de seguir na contramão dos que buscam os demais países: alternativas que reduzem suas atuais emissões de carbono. A avaliação é do prof. José Goldemberg também presidente do Conselho Consultivo do Centro Nacional de Referência em Biomassa, durante o fórum “O Novo Cenário Energético Mundial e as Oportunidades para o Brasil”, promovido no dia 24/09, próximo passado, pela Revista Época em São Paulo.
“O Brasil tem hoje 44% de sua energia proveniente de fontes renováveis. Essas novas reservas de petróleo não vão durar para sempre, além de contribuir para elevar as emissões de carbono que deverão ser taxadas. Portanto, o Brasil vai entrar em uma situação hoje enfrentada pelos grandes produtores de petróleo”, antecipa Goldemberg.
“Certamente, os recursos disponíveis para energias alternativas irão diminuir. A exploração do pré-sal vai custar pelo menos 100 bilhões a 200 bilhões de dólares. O programa etanol se mantém porque está nas mãos da iniciativa privada. Já o biodiesel, que era fortemente subsidiado, praticamente desapareceu, Agora vamos ver o que vai acontecer com a energia eólica.
Do ponto de vista econômico, segundo Goldemberg, das atuais fontes de energia alternativas disponíveis, a melhor delas é a hidroelétrica. “Até agora, o Brasil só utilizou 33% do seu potencial hidroelétrico e deveria continuar nessa linha”.
Sem entrar no mérito da escolha do prof. Goldemberg em relação ao tipo de energia que privilegia o país – visto por muitos ângulos – o Governo Federal ao brindar a descoberta do pré-sal poderá estar jogando fora toda uma tecnologia de décadas do etanol entre outras. É necessário pensar que elas foram alentadas por acadêmicos, pesquisadores, distribuidores e revendedores, e que uma atitude precipitada aniquilará uma cadeia produtiva significativa para o Brasil. Poderá, também, estar promovendo um desperdício entre tantos já computados no Brasil pela descontinuidade de políticas públicas adotadas.
Lembra-nos a década de 70 onde o número de projetos de viabilidade, básico e executivo de barragens brasileiras enchia as empresas projetistas de grandes obras. Em relação à quantidade de papel em plantas e relatórios técnicos que se acúmulo chegou-se a pensar em testar a estabilidade de uma barragem feita com o estoque deste material, como uma forma lúdica de dizer do desperdício de horas a fio de trabalho de campo e de escritório de profissionais e técnicos envolvidos. O título do artigo terá uma resposta afirmativa se o equilíbrio entra as energias disponíveis no Brasil tiverem simultaneamente solução de continuidade. Caso contrário a matriz energética brasileira nada tem a ver com o equilíbrio dos pratos chineses. Portanto, o deslumbramento político pode ter limite. O limite é quando essa inútil paisagem chamada de “deslumbramento” segue na rota de colisão dos anseios populares. Alguém pagará por esta irresponsabilidade mais tarde. E já sabemos quem. Por que não avaliar melhor as conseqüências desses atos, se eles levarão à glória os bem ou mal intencionados governantes brasileiros, nos próximos anos ?
O deslumbramento é algo pernicioso na vida pública. Entre o “estou” e o “sou” vai uma grande distância, múltipla de quatro, em relação a um ou dois períodos. O que deve ser pensado é se a definição desta ou daquela política colocará o Brasil num nível social mais condizente com o ser humano e se as desigualdades sociais estarão sendo combatidas. Se assim não for, meus pêsames. O Brasil ficará de luto!
Caso contrário, brindaremos ao sucesso do Brasil de Todos.
Carol Salsa, colaboradora e articulista do EcoDebate é engenheira civil, pós-graduada em Mecânica dos Solos pela COPPE/UFRJ, Gestão Ambiental e Ecologia pela UFMG, Educação Ambiental pela FUBRA, Analista Ambiental concursada da FEAM.
EcoDebate, 02/10/2009
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