Fiscalização da Anvisa apreende 1 milhão de litros de agrotóxicos adulterados na Bayer
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária interditou, na última sexta-feira (24), 1 milhão de litros de agrotóxicos adulterados, em Belford Roxo (RJ). A fiscalização, realizada pela Agência com apoio da Polícia Federal, ao longo de toda semana passada na empresa Bayer, de origem alemã, identificou a produção de agrotóxicos com formulação adulterada, sem autorização dos órgãos competentes.
No total foram encontradas irregularidades em 12 agrotóxicos. O caso mais grave, identificado pela Agência, foi a importação do ingrediente ativo do agrotóxico Procloraz e a produção do agrotóxico comercial Sportak 450 EC, sem controle obrigatório de impurezas toxicologicamente relevantes. A falta desse controle pode causar câncer nos trabalhadores expostos ao agrotóxico e na população que ingere alimentos contaminados com tais produtos.
A interdição é valida por 90 dias, prazo em que os produtos não poderão ser produzidos nem comercializados. Caso sejam comprovadas as irregularidades, a empresa poderá pagar multa de até R$ 1,5 milhão por irregularidade.
No começo do ano, a Bayer, segunda maior empresa no segmento de agrotóxicos em todo mundo em 2008, teve o registro do agrotóxico Evidence (imidacloprido) cancelado. O produto, usado nas culturas de cana de açúcar e fumo, era produzido com adulteração na fórmula.
Adulteração
Agrotóxicos são produtos com alto risco para saúde e meio ambiente e, por isso, sofrem restrito controle de três órgãos de governo: Anvisa, IBAMA e Ministério da Agricultura. Alterações na fórmula desses produtos aumentam significativamente as chances do desenvolvimento de diversos agravos à saúde como câncer, toxicidade reprodutiva e desregulação endócrina em trabalhadores rurais e consumidores de produtos contaminados.
Só este ano, a Anvisa já apreendeu, 4,5 milhões de litros de agrotóxicos adulterados. As fiscalizações ocorrem, principalmente, quando são identificados indícios de irregularidades nos produtos acabados.
Produtos Apreendidos
Produto
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Ingrediente ativo
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Culturas
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Sphere Max
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Ciproconazole + trifloxistrobina
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Café e soja
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Cropstar
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Imidaclopride + tiodicarbe
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Milho
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Rovral SC 500
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Iprodiona
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Alface, batata, café, cebola, cenoura, cevada, crisântemo, feijão, morango, pêssego, pimentão, trigo e uva
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Folicur 200 EC
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Tebuconazole
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Abacaxi, álamo, algodão, alho, amendoim, arroz, aveia, banana, batata, beterraba, cacau, café, cebola, cenoura, cevada, citros, crisântemo, feijão, figo, gladíolo, goiaba, mamão, manga, maracujá, melancia, melão, milho, morango, pepino, pêssego, rosa, soja, sorgo, tomate, trigo e uva
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Tríade
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Tebuconazole
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Abacaxi, alho, amendoim, arroz, aveia, banana, batata, beterraba, cacau, café, cebola, cenoura, cevada, citros, crisântemo, feijão, figo, gladíolo, goiaba, manga, maracujá, melancia, melão, milho, morango, pepino, pêssego, rosa, soja, sorgo, tomate, trigo e uva
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Tamaron BR
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Metamidofós
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Algodão, amendoim, batata, feijão, soja, tomate e trigo
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Quasar
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Metamidofós
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Algodão, amendoim, batata, feijão, soja, tomate e trigo
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Rivat
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Metamidofós
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Algodão, amendoim, batata, feijão, soja, tomate e trigo
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Dinafós
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Metamidofós
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Feijão e soja
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Sportak 450 EC
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Procloraz
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Cebola, cenoura, cevada, mamão, manga, melancia, rosa, tomate e trigo
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Procloraz Técnico
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Procloraz
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Produto não acabado sem indicação agrícola
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Sencor 480
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Metribuzim
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Aspargo, batata, café, cana de açúcar, mandioca, soja, tomate e trigo
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Informações da Anvisa publicadas pelo EcoDebate, 30/09/2009
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Será que essas adulterações não são reflexo do sistema de registro de agrotóxicos, um sistema extremamente caro e burocrático, onde qualquer alteração na formulação (como um novo surfactante) pode ser enquadrado como “adulteração”?
Resposta do EcoDebate:
Esta é uma possibilidade a ser considerada. Entretanto, o registro de um agrotóxico é baseado na sua exata formulação, a partir da qual são considerados diversos fatores, inclusive de segurança e toxidade.
A alteração da formulação, acidental ou não, modifica os seus efeitos, trazendo novos fatores de risco não considerados ou avaliados quando do registro. Esta é a razão das alterações não registradas serem consideradas ilegais.
Mas a pior hipótese de adulteração é a que ocorre clandestinamente, quando diversos agrotóxicos são misturados, criando um coquetel tóxico que dizem ser mais ‘forte’. Por mais ‘forte’ entenda-se como com maior toxidade.
Henrique Cortez
coordenador do EcoDebate