Pesquisadores identificam que o papel radiográfico tem mais 10 vezes mais chumbo que permitido
Chumbo no papel radiográfico: concentração 10 vezes maior que o permitido
Pesquisadores da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (FORP) da USP detectaram pela primeira vez chumbo nos papéis que recobrem as películas radiográficas usados por dentistas em radiografias da boca. O papel, um dos componentes de uma placa introduzida na boca, costuma ser descartado em lixo comum, sem cuidados de proteção, o que traz riscos a quem o manuseia e ao meio ambiente. A concentração de chumbo no papel é de 991 partes por milhão, dez vezes maior do que a permitida pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) para materiais descartados no lixo comum.
A pesquisa, realizada no Laboratório de Gerenciamento de Resíduos Odontológicos (LAGRO), mostrou que o metal solta-se com grande facilidade do papel. Assim, ao contrário do que recomendam os fabricantes, ele não deveria ser reciclado ou descartado sem cuidados especiais. O metal pode contaminar o papel reciclado ou o solo do depósito de lixo. Caso polua lençóis freáticos, o chumbo pode intoxicar animais, ser absorvido pelas plantas e depois ingerido por seres humanos.
A placa usada na radiografia é recoberta por um plástico que protege o paciente de ser contaminado. Além da camada de plástico, há uma camada de prata, o papel e, atrás, uma fina placa de chumbo, para proteger a boca dos raios X. Os cientistas descobriram que quando o raio atravessa a placa, acaba fazendo com que o metal contamine o papel. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) obriga que a camada de chumbo e de prata seja descartada corretamente, mas permite que o papel seja lançado em lixo comum.
“Ninguém sabia até agora que o papel era perigoso”, explica a química Débora Guedes, uma das autoras da pesquisa. “Chumbo faz muito mal para a saúde. Altera o sistema nervoso, danifca os rins, causa anemia, diminui a fertilidade e atravessa a placenta . Também aumenta a agressividade. O metal pode contaminar quem toca o papel. Quem manuseia a placa radiográfica deveria usar luvas de látex e usar máscaras específicas para o chumbo”, indica Débora.
Caso seja tratado como resíduo hospitalar, o papel libera o chumbo com facilidade ainda maior. Nesse caso, ou ele é incinerado, ou triturado, submetido à radiação de um microondas e jogado no lixo comum.
Débora não tem estimativas da quantidade de papel utilizada pelos 228.579 dentistas cadastrados na Confederação Brasileira de Odontologia. “Quase todos esses profissionais utilizam análises radiográficas”, explica.
Descarte
Atualmente os pesquisadores do LAGRO estão desenvolvendo um método para descontaminar o papel. Débora recomenda que profissionais que manuseiam a placa radiográfica usem luvas de látex e máscaras específicas para proteger do chumbo. O papel da placa deve ser encaminhado para laboratórios especializados em recuperar chumbo. Quem mora na região de Ribeirão Preto pode encaminhar os resíduos para o LAGRO. O endereço é Avenida do Café, sem número, na FORP.
A pesquisa teve a participação dos professores Jesus Djalma Pécora, coordenador do LAGRO, e de Márcia A.M.S. da Veiga, do Departamento de Química da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, além do pesquisador Reginaldo S. Silva, da FORP. A pesquisa foi publicada no Journal of Hazardous Materials e está disponível para consulta no site da ScienceDirect.
Reportagem de Nilbberth Silva, da Agência USP de Notícias, EcoDebate, 17/09/2009
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