Energia nuclear divide a União Européia
Alemanha: Depósito de lixo atômico de Asse, na Baixa Saxônia
Energia atômica é um dos principais temas em discussão na UE – Para críticos da energia nuclear, a construção de novos reatores na Europa é desperdício de dinheiro. Segurança e armazenamento definitivo do lixo atômico preocupam, no entanto, mais do que os custos.
O tratado que estabeleceu a Euratom (Comunidade Europeia de Energia Atômica), visando o uso pacífico da energia nuclear, foi também um dos marcos de criação da União Europeia (UE). Ele pertence aos chamados Tratados de Roma de 1957.
No entanto, quando o assunto é a segurança energética da UE, poucos temas são tão controversos quanto a energia nuclear. Para alguns, esse tipo de energia é perigoso e caro demais. Para outros, é solução rentável que respeita o meio ambiente.
Fato é que muitos países europeus querem, também no futuro, usar a energia nuclear como uma formas constantes de obtenção de energia, ou seja, como um dos ingredientes de uma “mix energético”. Nesse contexto, permanece a discussão em torno da segurança e do armazenamento definitivo de dejetos nucleares no bloco europeu.
No oeste da Finlândia
A pequena cidade de Eurajoki, no oeste da Finlândia, é um exemplo que faria palpitar mais rápido o coração de qualquer lobista da energia atômica. Na ilha de Olkiluoto, situada à frente do vilarejo, dois reatores nucleares já estão em operação e um terceiro em construção. Além disso, o prefeito da cidade não vê problema algum em construir ali um depósito definitivo para o armazenamento dos dejetos radioativos.
Pelo contrário, o prefeito Harri Hiitio afirma que “quando tivermos um depósito definitivo aqui, poderemos construir mais usinas nucleares. Por isso, a palavra-chave se chama ‘responsabilidade’. Se quisermos nos beneficiar da energia atômica, temos também que cuidar dos dejetos”.
Em seu site oficial, Eurajoki se diz “a comunidade mais eletrificada da Finlândia”. Centenas de pessoas vivem ali dos negócios em torno da energia nuclear. O prefeito salienta que a cidade fornece energia elétrica à região – o que é importante fator para que a Finlândia continue independente da Rússia.
Em prol da independência
Na União Europeia, cada país-membro é livre para compor seu “mix energético”. Com a ressalva de que, a partir de 2020, cerca de um terço da energia na UE deverá provir de fontes renováveis. Entre os países do bloco, principalmente a França aposta intensamente na energia atômica.
Desde a crise do gás, no início deste ano, aumentou consideravelmente o interesse dos novos países-membros do Leste Europeu – como Polônia, Eslovênia ou países bálticos – pela energia nuclear.
Para o deputado europeu democrata-cristão Herbert Reul, claro defensor da energia nuclear, a posição desses países é bastante compreensível: “Energia barata, que respeita o meio ambiente, sem se tornar dependente de outros: isso não se encontra todo dia”.
No entanto, os planos da Eslováquia e da Bulgária de reativarem reatores da época soviética não agradam nem mesmo ao deputado conservador. Para Reul, a anuência com a energia nuclear implica a comprovação de que foi feito tudo o que era humanamente possível para garantir a segurança. “Não é correto que instalações tecnicamente antiquadas sejam reativadas”.
Anuência da população
Principalmente esquerdistas e verdes no Parlamento Europeu exigem, por outro lado, que todos os reatores sejam desligados. E rapidamente. No entanto, o fato de a maioria dos parlamentares europeus serem a favor da energia nuclear não é somente fruto do trabalho do rico e influente lobby atômico em Bruxelas.
Também entre a população europeia, o clima não é de rejeição tão forte como há alguns anos. Pesquisas apontam que, em 2008, quase metade dos cidadãos da UE concordavam com a energia nuclear.
Para Ulrike Lunacek, deputada europeia verde, o fenômeno é de fácil explicação. “O lobby atômico, que também investe bastante dinheiro, trabalha com o medo da população de que um dia a luz irá se apagar”, critica a deputada austríaca, cujo país desistiu da energia nuclear desde um plebiscito realizado há 30 anos.
Desperdício de dinheiro
A Itália e o Reino Unido, todavia, praticam uma política pró-energia nuclear. Recentemente, a Suécia voltou atrás na decisão de abdicar da energia atômica. O precursor da energia nuclear na UE é claramente a França. Usinas atômicas são responsáveis por bem mais que dois terços da energia usada pelos franceses. A França é exportadora de tecnologia atômica e, como os finlandeses, também está construindo no momento uma nova usina nuclear.
Para os críticos da energia nuclear, isso é desperdício de dinheiro. No entanto, a segurança dos reatores e o armazenamento definitivo preocupam os ativistas ambientais mais do que os custos – ainda que reatores nucleares sejam menos poluentes do que usinas termelétricas. “Tanto a construção em si quanto os depósitos finais são perigosos demais. Esse problema não está resolvido! Quem diz aqui que vai ‘dar um jeito’ está mentindo”, diz Lunacek.
Regras europeias
Há pouco, os ministros do Meio Ambiente da UE decidiram tornar obrigatórias as regras da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) para a segurança nuclear. O objetivo é melhorar o controle e a supervisão no continente. Até então, as regras de segurança da AIEA eram empregadas de forma voluntária pelos 27 países-membros da União Europeia.
Para o deputado Reul, a decisão foi de grande importância, “principalmente se tratando das antiquadas instalações da Europa Oriental. Assim, acredito que demos um grande passo à frente”. Para os opositores da energia atômica, todavia, tal decisão ainda não é satisfatória.
Em 1989, havia 177 reatores em funcionamento na região dos atuais 27 países-membros da UE. Hoje, são somente 144. Na Alemanha, todos os 17 reatores deverão ser desativados até fins de 2020. Entretanto, espera-se que o funcionamento das chamadas “usinas seguras” seja prorrogado, caso a União Democrata Cristã, partido da premiê Angela Merkel, vença as próximas eleições parlamentares do país.
Autora: Susanne Henn/Carlos Albuquerque
Revisão: Soraia Vilela
Matéria da Agência Deutsche Welle, DW-WORLD.DE, publicada pelo EcoDebate, 10/09/2009
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