Brasil sempre considerou as gripes como simples resfriados, diz médico
O presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, Celso Ramos, disse ontem (3) que o país sempre considerou os diversos tipo de gripe como “um simples resfriado”. Ele lembrou, por exemplo, que governo e profissionais de saúde só passaram a se preocupar com a vacinação de adultos há cerca de dez anos. Ao participar de audiência pública na Câmara dos Deputados, Ramos revelou que em boa parte das faculdades de medicina, a doença não é discutida da maneira como deveria.
Especificamente sobre a da influenza A(H1N1) – gripe suína – ele criticou o fato de os exames serem feitos apenas por laboratórios de referência do governo. Para Santos, os laboratórios privados também deveriam estar habilitados, uma vez que já têm condições para isso. “Precisamos abrir isso para a população como um todo”, disse.
Ele acredita ainda que houve uma espécie de “retardo” do Ministério da Saúde para declarar oficialmente que o país já apresentava transmissão autóctone da doença – quando o vírus circula em território nacional. Antes disso, o exame só era feito em pacientes que apresentavam vínculo epidemiológico, o que pode ter agravado o cenário da doença no Brasil.
A restrição de acesso ao medicamento Tamiflu também foi criticada pelo médico, já que o mecanismo de distribuição, segundo ele, ficou “emperrado” na rede pública de saúde. “Temos um sistema de saúde bom, mas não perfeito”, disse.
Para o presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Juvêncio Furtado, o medicamento disponibilizado de maneira mais ampla e com mais agilidade alterou a gravidade da doença no Brasil. A partir do momento em que o tratamento passou a ser feito de forma precoce, segundo ele, os casos mais graves começaram a cair.
“A grande questão para o próximo ano e ainda para este ano é como esse medicamento, única arma disponível, poderá ser ampliado”, afirmou, ao destacar que não há como enfrentar uma nova pandemia sem que haja ainda o aumento no número de leitos em Unidades de Terapia Intensiva (UTI).
Eduardo Hage, diretor de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, argumentou apenas que uma avaliação a posteriori sobre a situação da doença no país “é sempre fácil”. “A medida que se vai conhecendo mais, é natural que os sistemas adequem seus protocolos”, disse.
Ao todo, 6.592 casos graves de gripe suína foram notificados. Dos 6.592 casos graves de gripe registrados no Brasil, 87% foram provocados pelo vírus Influenza H1N1, 1.859 municípios já apresentam pessoas infectadas e 786 pacientes morreram por causa da doença.
Reportagem de Paula Laboissière, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 04/09/2009
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