Relatório afirma que a adaptação às mudanças climáticas vai custar até 3 vezes mais do que o previsto pela ONU
“Assessing the costs of adaptation to climate change: A critique of the UNFCCC estimates”
Um relatório divulgado nesta quinta-feira em Londres afirma que os custos de adaptar o planeta às mudanças climáticas provavelmente serão duas a três vezes mais altos que os previstos pela Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês) em 2007.
O estudo acadêmico realizado pelo Instituto Internacional para Meio Ambiente e Desenvolvimento (IIED, na sigla em inglês) e coordenado pelo professor Martin Parry, da universidade britânica Imperial College London, acrescenta que o custo total pode subir muito mais se forem levados em conta os impactos de outras atividades humanas. Reportagem de Eric Brücher Camara, da BBC Brasil em Londres.
Em 2007, a convenção da ONU sobre clima estimou o custo de adaptação à mudança climática no ano 2030 entre US$ 49 bilhões e US$ 171 bilhões por ano. Bem mais que a metade desse valor teria de ser aplicado em países em desenvolvimento.
No entanto, os cientistas reunidos pelas Nações Unidas não levaram em conta setores como energia, indústria, comércio, mineração e turismo. Além disso, outros setores incluídos teriam sido apenas “parcialmente cobertos” nos cálculos de 2007.
“Só avaliando detalhadamente os setores estudados pela UNFCCC, estimamos os custos de adaptação entre duas e três vezes mais altos. E se forem incluídos setores que a UNFCCC deixou de fora, o custo verdadeiro é muito maior”, afirmou Parry, copresidente do grupo do Painel Intergovernamental para Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês), que avaliou estudos sobre impactos, vulnerabilidade e adaptação entre 2002 e 2008.
Copenhague
O “preço da adaptação” é um dos principais pontos usados para nortear as negociações internacionais sobre mudança climática. Analistas acreditam que essa seja uma das maiores dificuldades às vésperas da reunião da ONU sobre o assunto em Copenhague, em dezembro.
Na reunião na Dinamarca, será discutido um novo tratado internacional para substituir o Protocolo de Kyoto, que estabelece limites às emissões de gases do efeito estufa e que expira em 2012.
“As finanças são a chave para um acordo, mas se os governos estiverem trabalhando com números errados, podemos acabar com um acordo falso que não vai cobrir os custos de adaptação”, afirmou a diretora do IIED, Camilla Toulmin,
Para chegar à nova estimativa, o grupo de 11 estudiosos avaliou também outros relatórios, não apenas o levantamento da UNFCCC.
As principais áreas examinadas por estes documentos são agricultura, silvicultura, pesca, água, saúde humana, zonas costeiras, infraestrutura e ecossistemas.
Os estudiosos chegaram à conclusão de que entre os fatores que contribuíram para que a estimativa da ONU ficasse abaixo do que consideram realista está a metodologia para calcular os impactos das mudanças climáticas sobre zonas costeiras e abastecimento d’água em 2030.
Segundo o estudo do IIED, as consequências podem ser bem mais drásticas que o previsto pela convenção, porque já nas próximas décadas os impactos podem ser muito mais graves.
Mau tempo
Desde 2007, boa parte da literatura científica indica que o nível dos oceanos está subindo mais rapidamente do que se acreditava, o que levou os cientistas a triplicarem o investimento em adaptação em zonas costeiras, incluindo ainda uma maior incidência de tempestades, deixada de fora do relatório de 2007.
A infraestrutura é outro ponto considerado muito subvalorizado. O novo estudo afirma que ainda são necessário investimentos para que regiões pobres sejam capazes de reduzir o atual déficit de infraestrutura, antes mesmo de investimentos em adaptação para reduzir a vulnerabilidade à mudança climática.
Com tudo isso, os custos especificamente para adaptação de infraestrutura podem ficar até oito vezes acima dos US$ 130 bilhões orçados (como teto) pela UNFCCC.
Na área de saúde, a estimativa da convenção da ONU é de que sejam necessários US$ 5 bilhões por ano, mas só leva em conta as doenças malária, diarreia e desnutrição.
Segundo os estudiosos coordenados por Martin Parry, isso só cobriria entre 30% e 50% do necessário para adaptação na área de saúde.
Na área de água, a ONU excluiu o custo em adaptação a enchentes e de transferência de água entre países vizinhos. Com isso, o custo ficou em US$ 11 bilhões, “substancialmente” abaixo do que pode ser necessário, segundo o novo relatório.
Por último, os especialistas também sugerem a inclusão da adaptação de ecossistemas aos cálculos de custo. Como isso não entrou no relatório da UNFCCC, a equipe de Martin Parry estima que sejam necessários mais US$ 350 bilhões por ano para adaptar tanto áreas protegidas quanto não protegidas.
Nota do EcoDebate: o relatório “Assessing the costs of adaptation to climate change: A critique of the UNFCCC estimates“, de Martin Parry, Nigel Arnell, Pam Berry, David Dodman, Samuel Fankhauser, Chris Hope, Sari Kovats, Robert Nicholls, David Sattherwaite, Richard Tiffin, Tim Wheeler, publicado pelo International Institute for Environment and Development, está disponível para acesso integral no formato PDF. Para acessar o relatório clique aqui.
EcoDebate, 28/08/2009
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