Fábrica de celulose promoverá ‘bota fora’ nas regiões dos Cocais e Tocantins no Maranhão, artigo de Denilton Santos Carneiro
[EcoDebate] No período de 05 a 31 de agosto a fábrica, paulista, de celulose SUZANO estará consolidando o seu programa de retirada compulsória de comunidades tradicionais da região dos Cocais e do Tocantins. A empresa pretende desenvolver um complexo agroflorestal à base do plantio e processamento do eucalipto naquela região.
Um dos jornais de maior circulação ( O Estado do Maranhão) diz que as cidades atingidas são: Porto Franco, Amarante e Carolina; não é verdade. O complexo de plantação do eucalipto envolve, só na região dos Cocais, 21 cidades e atinge centenas de povoados, comunidades tradicionais(quilombolas) agricultores familiares, atingindo , principalmente, seu modo de viver, produzir e reproduzir-se socialmente.
Para organizar o “bota fora” (termo utilizado pela empresa em seu termo de referencia (Projeto SPC 1008) , no que diz respeito, ao destino dos povos das terras tradicionalmente ocupadas) a SUZANO, papel e celulose, contratou a STPC do Paraná que, por sua vez, contratou no Maranhão: o Instituto de “Desenvolvimento Sustentável”-IDESA. O esquema consiste em “escrutinar” , a partir de um diagnóstico, a vidas das populações dessas áreas. Temas como uso e posse da terra, lideranças locais e movimentos sociais são informações altamente valorizadas no diagnostico.
A metodologia adotada pela STPC -PR/IDESA-MA( ao qual foi convidado para atuar como antropólogo) é altamente neocolonizadora. Ela consiste em pagar altos salários para profissionais de nível superior(engenheiros agrônomos, economistas, sociólogos, antropólogos, assistentes sociais, Mestres em agroecologia, em biologia, etc) para promoverem o escrutínio a partir de oficinas e uma pesquisa socieconômica e antropológica altamente high-fast. Ou seja, quando os moradores abrirem os olhos e perguntarem pra que serve aquilo, eles já se foram.
Desse modo, coerente com minha ética e responsabilidade que avalia as consequências de um ato tão desastroso como esse; além disso, projetando, metaforicamente, o futuro com poços secando, plantas e animais silvestres morrendo; homens, mulheres, crianças e adolescentes morrendo de sede, de fome, ou migrando para cidade para se prostituir; entregando-se as fazendas de trabalho escravo, ou mesmo, de trabalho infantil. A verdade é que a partir desses valores (ética e responsabilidade) ou desse pesadelo, que resolvi fazer um parecer cientifico(EM ANEXO) e, me desligar, oficialmente, da pesquisa antropológica high-fast proposta pelo ITPC e pelo IDESA/MA . Por outro lado, resolvi escrever esse artigo, denunciando e solicitando as pessoas sensatas que olhem a carta e mande sugestões e propostas para nos contrapormos a neocolonização do seculo XXI no Maranhão; afinal, o diabo é high fast e temos que sê-lo também; caso contrario, teremos o inferno como única certeza para todos nós; devotos ou não devotos do demo.
Denilton Santos Carneiro, Sociólogo – Especialista em sociologia das interpretações do Maranhão: Povos, comunidades tradicionais, politicas étnicas e desenvolvimento sustentável.
* Colaboração do Fórum Carajás para o EcoDebate, 15/08/2009
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