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Cidade australiana ganha fama mundial por proibir água engarrafada

Foto de Adam Ferguson no The International Herald Tribune
Foto de Adam Ferguson no The International Herald Tribune

Quando os moradores de Bundanoon (Austrália) votaram neste mês pela proibição da venda de água engarrafada na cidade, não imaginavam que conquistariam fama mundial.

Com uma votação quase unânime em uma reunião da comunidade, os moradores desta pequena cidade turística iniciaram um debate mundial sobre os efeitos sociais e ambientais da água engarrafada que colocou a indústria de bebidas na defensiva. Reportagem de Meraiah Foley, em Bundanoon (Austrália), The New York Times.

Autoridades estaduais e municipais nos EUA vêm diminuindo o uso de água engarrafada em escritórios públicos nos últimos anos, alegando diversas preocupações, dentre elas a energia usada para produzir e transportar as garrafas e o aumento da desconfiança do público na água encanada. Até onde sabem os ativistas, Bundanoon é a primeira cidade no mundo a proibir a venda de água engarrafada.

Localizada nas terras altas no sudeste de Sydney, Bundanoon é uma cidade pacata de jardins arrumados e chalés graciosos cercados por casas de campo de cidadãos urbanos ricos. É o típico lugar onde desconhecidos conversam nos bancos do parque ao longo da pitoresca rua principal e as pessoas do lugar deixam flores no memorial de guerra local.

De acordo com Huw Kingston, proprietário do Ye Olde Bicycle Shoppe e líder da campanha, a proibição não começou como cruzada ambiental. Começou quando a empresa engarrafadora pediu permissão para extrair milhões de litros de água do aquífero local.

A princípio, os moradores não gostaram da ideia de caminhões de água atravessando suas ruas tranquilas. Mas, com o crescimento da oposição, muitos moradores começaram a questionar o próprio conceito de transportar água por caminhão por cerca de 160 km ao norte, para uma engarrafadora em Sydney, para depois ser transportada para outras partes – possivelmente até de volta a Bundanoon – para ser vendida.

“Tomamos consciência, enquanto comunidade, do que é essa indústria”, disse Kingston. “Então nasceu a questão: se não queremos uma fábrica de extração em nossa cidade, talvez não devêssemos mesmo vender o produto final”.

Uma dezena de ativistas se reuniu e convocou uma reunião da comunidade. Dos 356 moradores que apareceram para votar com um aceno de mão, apenas um fez objeções.

A proibição é inteiramente voluntária. Com o apoio do público, os seis principais comerciantes de alimentos da cidade concordaram em tirar a água engarrafada de suas prateleiras a partir de setembro. Eles planejam recuperar suas perdas vendendo garrafas reutilizáveis e baratas que poderão ser enchidas em fontes e bebedouros que serão distribuídos pela cidade.

Alguns dos 2.500 moradores da cidade dizem que apoiam o projeto porque se preocupam com os efeitos dos agentes químicos das garrafas plásticas; alguns veem como demonstração positiva contra a engarrafadora.

Uns não acreditam que a prefeitura conseguirá manter as novas fontes, enquanto outros se preocupam com as implicações para a saúde de deixar apenas alternativas açucaradas nas prateleiras das lojas.

“Não vejo porque se deve teimar apenas com a água”, disse Trevor Fenton, morador aposentado de Bundanoon. “O que eu gostaria era de vê-los se livrarem de todos os refrigerantes, mas eles nunca fariam isso.”

Os ambientalistas vêm ganhando força na luta contra a água engarrafada. Além das novas restrições de governos estaduais e municipais nos EUA, muitos restaurantes importantes também começaram a substituir água mineral importada por água da bica. Recentemente, um comitê do Congresso norte-americano debateu se não deve aumentar a regulação sobre a indústria da água engarrafada, após revisar dois novos estudos que questionavam se a água engarrafada era mais saudável do que a da bica.

A repercussão do assunto irritou a indústria, que envolve quase US$ 60 bilhões (em torno de R$ 120 bilhões) por ano no mundo e cerca de US$ 400 milhões (R$ 800 milhões) por ano na Austrália. Grupos da indústria dizem que é injusto discriminar a água engarrafada quando muitos outros produtos -como fraldas descartáveis e produtos importados, queijo e vinho- têm igual ou maior impacto no meio ambiente.

Na Austrália, a maior parte da água mineral é produzida nacionalmente, em garrafas recicláveis que perfazem uma proporção muito pequena dos aterros sanitários, de acordo com Geoff Paker, diretor executivo do Australian Bottled Water Institute.

“Precisamos manter o produto em perspectiva”, disse Parker. “Há dezenas de milhares de produtos no setor de bens de consumo e há um vasto número com uma pegada de carbono maior do que a água engarrafada.”

A questão é sensível. No dia da votação em Bundanoon, o governo de New South Wales anunciou que ia parar de comprar água engarrafada, levando o ministro do meio ambiente a instar outros Estados a fazerem o mesmo. As medidas geraram uma enxurrada de editorais nos jornais e em programas de rádio no final de semana em toda a Austrália.

Os comerciantes de Bundanoon dizem que ficaram intrigados com toda a atenção que se voltou para eles com a proibição, e até receberam oferta de garrafas de água reutilizáveis com uma marca especial de uma importante fornecedora europeia.

Em frente a sua loja de revistas e jornais, Peter Stewart disse que os holofotes sobre Bundanoon iam compensar os US$ 1.200 (aproximadamente R$ 2.400) por ano que deve perder com a proibição da venda de água mineral.

“Que um grupo de pessoas possa se reunir por alguns meses e chegar às manchetes do mundo todo, é realmente impressionante”, disse ele. “A cidade está muito orgulhosa”.

Tradução: Deborah Weinberg,

Reportagem do New York Times, no UOL Notícias.

[EcoDebate, 20/06/2009]

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