Ciência e conhecimento popular em momento de reflexão sobre segurança alimentar
Uma região de enorme biodiversidade , onde o alimento saudável está ao alcance da mão, oferecido democraticamente pela natureza, a Amazônia ainda enfrenta um dos mais graves problemas do mundo moderno: a desnutrição infantil.
Dados que comprovam essa cruel realidade foram apresentados nesta quinta-feira(25) pela pesquisadora Lúcia Yuyama, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). “A deficiência alimentar em pré-escolares chega a 35% na zona rural e o resultado disso é o elevado número de crianças anêmicas e com problemas de crescimento”, revelou ela, que atualmente participa de alguns dos principais projetos de cultivos amazônicos, cujo objetivo é levar informação sobre o potencial agrícola e nutricional de espécies regionais.
A palestra da pesquisadora foi apresentada durante o painel que discutiu os sistemas agroflorestais (SAFs) como estratégia de segurança alimentar e dividiu espaço de troca de conhecimento com o agricultor baiano Henrique de Abreu. Juntos, descobriram que, mesmo em regiões diferentes do território brasileiro, tem desenvolvido ações semelhantes e por objetivos comuns: valorizar o que vem da terra.
Entre as nativas espécies nativas sustentáveis, Lucia Yuyama falou sobre a importância da pupunheira – cujos frutos podem ser transformados em farinha, rica em óleo, carboidratos e fibras. Falou do açaí, do tucumã, do buriti, do araçá-boi, do cupuaçu, da graviola, do camu-camu e do cubiu. “Essa é a colaboração da ciência, uma atividade que deve estar voltada para o social”, afirmou, destacando o atual paradoxo em que vive o mundo: “Como é possível tanta biodiversidade e ainda conviver com a fome?” .
Jardins florestais
Para o agricultor de Jequié (BA), Henrique de Abreu, o grande impasse enfrentado hoje pela sociedade, tem origem na transformação do alimento em um bem econômico. “Por isso, ele é escasso. No momento em que desvincularmos o alimento da economia, ele voltará a ser abundante, assim como a água o ar que a gente respira”, disse.
Henrique apresentou a experiência em SAFs administrada por ele e sua família, em que todos se envolvem nas diversas etapas do processo – do cultivo à colheita, e ao beneficiamento final dos produtos posteriormente revendidos para o sustento da casa. É o que prefere definir como jardim florestal.
“Apesar de todas as potencialidades de cultivo que temos em SAFs, o mercado – extremamente seletivo – impõe os padrões de consumo e dita os hábitos”, critica o agricultor. Como uma espécie de “receita de sucesso” para enfrentar as dificuldades, ele defende o total envolvimento familiar no processo produtivo dos sistemas agroflorestais. “Marido, mulher, filhos devem compreender que temos todos uma dívida com a natureza, por isso não só cuidamos do que plantamos, como plantamos todas as sementes do que comemos”, diz. “Fechamos o ciclo”.
Texto de Kátia Marsicano, da Embrapa Informação Tecnológica, publicado pelo EcoDebate, 30/06/2009
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