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Amazônia tem um Reino Unido em pastos degradados

Pasto degradado, em foto de arquivo
Pasto degradado, em foto de arquivo

Enquanto ambientalistas e ruralistas disputam uma área maior do território brasileiro para a preservação do meio ambiente ou para o agronegócio, uma extensão de terras estimada em quase três vezes o Estado de São Paulo é ocupada por pastagens degradadas, com baixa ou nenhuma produção.

Só na Amazônia, as pastagens com grau avançado de degradação equivalem ao tamanho do Reino Unido. Estudo da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) estima que o avanço da pecuária na Amazônia já deixou um rastro de 22,4 milhões de hectares na Amazônia em fase média ou avançada de degradação.

Os números são resultado de uma lógica perversa. Avançar sobre a floresta ou a vegetação nativa é mais barato do que recuperar as áreas degradadas. Matéria de Marta Salomon, na Folha de S.Paulo.

“O custo [da recuperação das áreas degradadas] é relativamente baixo, entre R$ 1.500 e R$ 3.000 por hectare, mas o valor não é tão baixo quanto avançar em área virgem e desmatar mais. Isso custa entre R$ 300 e R$ 600 por hectare”, avalia o ministro Roberto Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos), que elegeu o tema como uma de suas prioridades.

“Grande parte do Brasil hoje é pastagem degradada”, resume Unger, certo de que é possível multiplicar a produção brasileira com a recuperação das pastagens degradadas. “Hoje em dia é muito mais fácil, mais simples e mais barato fazer tudo errado”, endossa o ministro Carlos Minc (Meio Ambiente). Minc reconhece que o acesso às linhas de crédito criadas pelo governo federal para a recuperação de terras ainda é muito baixo. Procurado pela Folha, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, não quis se manifestar.

Dados do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) confirmam o desinteresse dos produtores ou a dificuldade para tomar esses financiamentos, apesar de a taxa de juros cobrada, de 5,75% ao ano, estar abaixo das cobradas pelo mercado.

Do total de R$ 1 bilhão de créditos oferecidos em junho de 2008 para o período de um ano, apenas R$ 80 milhões (8%) foram desembolsados até agora. Outros R$ 13,2 milhões foram “comprometidos”, diz o banco.

O crédito para a recuperação de áreas degradadas é limitado a R$ 400 mil por produtor, podendo ser elevado em 15% caso o proprietário da terra tenha registrado área de reserva legal, que não pode ser desmatada. A CNA (Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil) avalia que grande parte dos produtores não pede o crédito por dois motivos: falta de regularidade fundiária ou ambiental da terra ou falta de condições de mercado que justifiquem o investimento.

Estudos feitos pela entidade estimam em R$ 56 bilhões o custo anual para recuperar, em cinco anos, 70 milhões de hectares de pastagens degradadas no país. Outros R$ 2,4 bilhões teriam de ser investidos para manter esses pastos. A conta considera que 40% da área ocupada pela pecuária no Brasil (de 170 milhões de hectares) está degradada.

Há estudos que estimam em até 100 milhões de hectares a extensão das pastagens degradadas. O cálculo da dimensão das pastagens degradadas no Brasil ainda exige estudos mais precisos. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) adiou para o segundo semestre do ano a divulgação dos dados do censo agropecuário, baseado em informações dadas pelos produtores.

[EcoDebate, 08/06/2009]

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