Estudo relata que cientistas admitem omissão ou descuido em artigos
Revisão de trabalhos estrangeiros aponta decisão subjetiva e silêncio sobre dados contrários
Até 34% de cientistas estrangeiros admitem ter realizado práticas de pesquisa questionáveis, como omitir novos resultados que colocariam em xeque trabalhos anteriores ou descartar certas informações obtidas em experimentos por uma percepção subjetiva de que estão incorretas. Foi o que mostrou uma revisão sistemática de artigos sobre má conduta científica realizada por Daniele Fanelli, do Instituto para o Estudo da Ciência, Tecnologia e Inovação da Universidade de Edimburgo, na Escócia.
Cerca de 2% dos pesquisadores chegaram a confessar que já fabricaram, falsificaram ou adulteraram dados para melhorar os resultados das suas publicações. A íntegra [How Many Scientists Fabricate and Falsify Research? A Systematic Review and Meta-Analysis of Survey Data] pode ser lida na revista digital Public Library of Science ONE (PLoS ONE). Matéria de Alexandre Gonçalves, do O Estado de S.Paulo, com informações complementares do EcoDebate.
Daniele examinou 3.276 pesquisas que tratam de desvios éticos na ciência. Separou 22 artigos publicados nos últimos 23 anos. Todos reúnem dados de questionários respondidos livre e anonimamente pelos próprios cientistas. Os estudos foram escolhidos por usar metodologias semelhantes que possibilitam a consolidação dos resultados.
A autora considera os porcentuais estimativas conservadoras, pois dependem da sinceridade dos pesquisadores. Declarações sobre condutas questionáveis de outros cientistas também foram consideradas nos artigos. Segundo a revisão sistemática, cerca de 14% dos estudiosos conheciam alguém que tinha fabricado ou adulterado voluntariamente dados. Até 72% disseram ter testemunhado outras práticas de pesquisa reprováveis menos graves.
Casos de plágio foram ignorados, pois o trabalho analisou somente desvios éticos que produziriam erros nos resultados científicos. Ao Estado, Daniele afirmou que a pressão do “publique ou pereça”, que obriga os pesquisadores a produzir continuamente artigos científicos, explica boa parte dos deslizes.
Acostumado a revisões sistemáticas, o cirurgião Wanderley Marques Bernardo afirma que é comum encontrar trabalhos onde há fortes indícios de omissão de dados desfavoráveis ou supervalorização de resultados menores. “Algumas vezes isso ocorre por problemas involuntários de metodologia”, aponta Bernardo. “Em outras, é deliberado.” Ele participa do comitê técnico da Associação Médica Brasileira (AMB) que elabora as diretrizes terapêuticas baseadas em evidências científicas. “Há até mesmo um check-list para verificar se há distorções em um artigo.”
O chefe de gabinete do CNPq Felizardo Penalva da Silva explica que todos os trabalhos de pesquisa financiados pelo órgão são aprovados por comitês técnico-científicos. Os relatórios de conclusão dos projetos também passam por uma avaliação. Se algum problema é identificado, o CNPq estuda caso a caso a melhor abordagem: diálogo com o pesquisador ou, nos casos mais graves, uma ação judicial para restituir o dinheiro investido ao erário. “Em caso de fraude, a maior punição para o pesquisador é o descrédito”, afirma Silva. “Todas as portas vão se fechar para ele.”
O artigo “How Many Scientists Fabricate and Falsify Research? A Systematic Review and Meta-Analysis of Survey Data“, publicado na PLos One, está disponível para acesso integral no formato HTML. Para acessar o artigo clique aqui.
Para maiores informações transcrevemos, abaixo, o abstract:
How Many Scientists Fabricate and Falsify Research? A Systematic Review and Meta-Analysis of Survey Data
Daniele Fanelli*
INNOGEN and ISSTI-Institute for the Study of Science, Technology & Innovation, The University of Edinburgh, Edinburgh, United Kingdom
Abstract
The frequency with which scientists fabricate and falsify data, or commit other forms of scientific misconduct is a matter of controversy. Many surveys have asked scientists directly whether they have committed or know of a colleague who committed research misconduct, but their results appeared difficult to compare and synthesize. This is the first meta-analysis of these surveys.
To standardize outcomes, the number of respondents who recalled at least one incident of misconduct was calculated for each question, and the analysis was limited to behaviours that distort scientific knowledge: fabrication, falsification, “cooking” of data, etc… Survey questions on plagiarism and other forms of professional misconduct were excluded. The final sample consisted of 21 surveys that were included in the systematic review, and 18 in the meta-analysis.
A pooled weighted average of 1.97% (N = 7, 95%CI: 0.86–4.45) of scientists admitted to have fabricated, falsified or modified data or results at least once –a serious form of misconduct by any standard– and up to 33.7% admitted other questionable research practices. In surveys asking about the behaviour of colleagues, admission rates were 14.12% (N = 12, 95% CI: 9.91–19.72) for falsification, and up to 72% for other questionable research practices. Meta-regression showed that self reports surveys, surveys using the words “falsification” or “fabrication”, and mailed surveys yielded lower percentages of misconduct. When these factors were controlled for, misconduct was reported more frequently by medical/pharmacological researchers than others.
Considering that these surveys ask sensitive questions and have other limitations, it appears likely that this is a conservative estimate of the true prevalence of scientific misconduct.
Citation: Fanelli D (2009) How Many Scientists Fabricate and Falsify Research? A Systematic Review and Meta-Analysis of Survey Data. PLoS ONE 4(5): e5738. doi:10.1371/journal.pone.0005738
Editor: Tom Tregenza, University of Exeter, United Kingdom
Received: January 6, 2009; Accepted: April 19, 2009; Published: May 29, 2009
Copyright: © 2009 Fanelli. This is an open-access article distributed under the terms of the Creative Commons Attribution License, which permits unrestricted use, distribution, and reproduction in any medium, provided the original author and source are credited.
Funding: The author is supported by a Marie Curie Intra European Fellowship (Grant Agreement Number PIEF-GA-2008-221441). The funders had no role in study design, data collection and analysis, decision to publish, or preparation of the manuscript.
Competing interests: The author has declared that no competing interests exist.
* E-mail: dfanelli{at}staffmail.ed.ac.uk
[EcoDebate, 05/06/2009]
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