Mangabeira e as abelhas, artigo de Roberto Malvezzi (Gogó)
Caatinga. Foto da APNE – Associação Plantas do Nordeste
[EcoDebate] O Ministro de assuntos estratégicos continua pautando os rumos do Brasil a partir de sua própria cabeça. As andanças pelo Brasil pouco influenciam na sua leitura do que seja o Brasil, a não ser as novidades que se encaixem exatamente no que ele pensa. As mudanças na legislação ambiental, com a finalidade de facilitar o avanço do capital, têm as mãos de Mangabeira, Dilma e Lula.
Depois de passar pelo Nordeste, Mangabeira reconheceu que existe aqui um fenômeno econômico a partir da produção de mel. De fato, a região, baseada em produtores descentralizados, tem tornado a abundância natural de abelhas e mel num processo econômico que melhora a renda das famílias envolvidas. Já era uma prática antiga, mas os apicultores tinham todos os vícios de queimar as colméias e amassar o mel com a cera, o que resultava num mel de péssima qualidade. A entrada de ONGs e do próprio SEBRAE vem melhorando o manejo e transformando esses extratores de mel em apicultores. Hoje o Brasil produz cerca de 50 mil toneladas de mel/ano, gerando 80 milhões de reais. Cerca de 350 mil apicultores estão envolvidos com a atividade, grande parte no Nordeste. (www.abemel.com.br)
O que maravilhou Mangabeira foi a tecnologia avançada para produzir um mel de qualidade. Ok, ela é importante. Mas aí Mangabeira mostrou também os limites de sua visão de mundo. Muito mais importante que a tecnologia, o que favorece a produção de mel na região é sua base natural, isto é, a caatinga ainda em pé. Com suas árvores baixas, com muita produção de flores, é a região brasileira mais apropriada para a apicultura, particularmente o sul do Piauí e o norte da Bahia. Além do mais, distante das áreas poluídas por agrotóxicos, nosso mel é considerado orgânico e puro. Portanto, sem caatinga em pé não há apicultura no Nordeste.
O economista do Vinod Thomas, do Banco Mundial, comparando um hectare de pastagem com um hectare de floresta em pé, disse que a diferença econômica é de duzentos para dez mil dólares. Oras, com o processo de desmatamento tantas vezes incentivado pelo próprio governo federal, através da entrada do eucalipto, da cana, das carvoarias e de outros ramos do agro e hidronegócio, a caatinga está sendo devastada. O que cresce é o deserto. Portanto, não há tecnologia que salve o a apicultura nordestina caso prossiga a devastação da caatinga.
São esses e centenas de outros exemplos que mostram como a concepção de desenvolvimento de nossas elites acabam matando nossas galinhas que põem ovos de ouro.
Roberto Malvezzi (Gogó) é Assessor da Comissão Pastoral da Terra – CPT, colaborador e articulista do EcoDebate.
[EcoDebate, 26/05/2009]
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Há alguns anos atrás, quando eu lecionava em Alfenas-MG, um de nossos alunos apareceu com um problema sério: havia engravidado uma colega e se julgava no dever de casar. Acontece que ele e a namorada faziam faculdade particular custeada pelos pais e não queriam parar os estudos. Também não queriam depender do pais para sustentar a família.
Quando o assunto foi levado a um professor de Engenharia Florestal, este não teve nenhuma dúvida. Nosso amigo precisava se inteirar das práticas apícolas e montar um apiário. Foi o que ele fez e se tornou um dos maiores apicultores da região.
O nosso amigo Malvezzi (Gogó para os íntimos) toca num assunto importantíssimo: a apicultura, que se trata de um segmento importante de inclusão social. Não é à toa que o Piauí é o segundo estado produtor de mel do país. Entretanto, o Nordeste Brasileiro, embora tenha flora apícola durantante todo o ano, somente ocupará uma posição de vanguarda no cenário nacional nesse segmento quando solucionar o problema da água. As abelhas necessitam de água durante todo o ano e não podem ficar à mercê de rios intermitentes e de chuvas concentradas em apenas três meses. Por isso, entendo que, para que o Nordeste Brasileiro possa incrementar sua produção de mel e de derivados vai ter, antes de tudo, que solucionar sua carência de água.