Enchente histórica é a marca da destruição do cerrado piauiense, artigo de Dionísio Neto
As enchentes dos últimos dias no Cais do Rio Parnaíba e Ponte do Raiz, em União. Foto do jornal Meio Norte, PI
A bacia hidrográfica do Rio Parnaíba é a quarta maior do país e banha todo o Estado do Piauí e parte do Maranhão. A rica biodiversidade da bacia é acompanhada pelo cerrado, que vêm sendo destruído a cada dia com a expansão desordenada das monoculturas, especialmente, a soja. E o reflexo da destruição do bioma é a enchente histórica do ano de 2009.
O cerrado piauiense é tido pelo Governo e produtores, como a última fronteira agrícola a ser explorada no Brasil. A instalação de empresas como a Brasil Ecodiesel e a multinacional Bunge Alimentos nos últimos seis anos acelerou o processo de extinção do cerrado. A perda dessa vegetação além de estimular o aquecimento global com o acentuado número de queimadas tem provocado enormes catástrofes com a chegada das chuvas no Piauí.
Rios e riachos que o cortam o coração do cerrado até desaguar no Rio Parnaíba estão completamente cheios, e levam vorazmente o resto da mata ciliar e o sonho de inúmeros povos ribeirinhos. O fenômeno é conhecido por “desenvolvimento a qualquer custo”. A busca incessante pelo lucro é o objetivo principal das grandes empresas, que destroem e estimulam a retirada da cobertura vegetal de forma estúpida, e assim provocam alterações irreversíveis no clima. E essa substituição da mata pelas monoculturas desequilibram não somente a vida da floresta, mas também a do homem que nela vive.
O desmatamento desenfreado tem o aval do Governo Estadual e de órgãos que deveriam fiscalizar e proteger a floresta destas ações criminosas. O desaparecimento do cerrado é sentido na pele pelo povo piauiense, que inocentemente culpa a água que cai do céu, mas não se pergunta, ou não tem a capacidade de analisar a verdadeira origem da onda de destruição dos rios.
O cerrado é um dos biomas mais ricos do planeta, e o mais esquecido pela imprensa, governo e políticos. Bem diferente da Amazônia com seus rios imensos e caudalosos apreciados pela sua abundância, mas também não deixam de sofrer com o desmatamento, e o patinho feio e esquecido fica com o cerrado que some a cada ano juntamente com o seus rios e riachos soterrados pelos interesses políticos e financeiros. Coitados dos rios do cerrado, a exemplo do Parnaíba, que é o maior rio legitimamente nordestino, e só é lembrado nas épocas de chuvas, pois o tão sofrido e assoreado rio ainda tem de agüentar toda a sobrecarga de água e areia de seus afluentes provocando as destrutivas inundações.
Pobre de quem estiver na frente de seu percurso, pois o rio não quer saber quem é certo ou quem é errado, todos os homens pagam na mesma moeda. Enquanto os miseráveis se preocupam com a água que irá tomar posse de suas casas, os ricos se preocupam com os rios de dinheiro e soja no cerrado piauiense.
Dionísio Neto, da Rede Ambiental do Piauí – REAPI
http://piaui-governododesmatamento.blogspot.com/
Artigo enviado por Norbert Suchanek, colaborador e articulista do EcoDebate
[EcoDebate, 08/05/2009]
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