Solo, compartimento de emissão e sequestro de carbono, artigo de Carol Salsa
“ Ao longo de duas décadas passadas uma nova concepção da vida, um novo sistema de olhar a vida está emergindo na vanguarda da ciência. Eu não tenho tempo para descrever esta nova concepção da vida com muitos detalhes mas quero mencionar algumas características importantes. A percepção central é que existe um padrão básico da vida que é comum a todos os sistemas vivos, organismos vivos, ecossistemas ou sistemas sociais. O padrão básico é a rede. Existe uma teia de relações entre todos os componentes dos organismos em um ecossistema ou entre pessoas nas comunidades humanas. Uma das características chave dessa rede viva é que o fato de que todos os seus nutrientes passam ao longo de ciclos ecológicos.[…] ” Fritjof Capra
[EcoDebate] O carbono é considerado um dos princípios fundamentais de toda vida. Está presente na atmosfera, na vida animal e vegetal, em substâncias orgânicas não vivas, em rochas, em combustíveis fósseis e dissolvido nos oceanos. O ciclo de vida e morte dos vegetais resulta na acumulação de tecido vegetal decomposto, sobre e sob o solo ( raízes ) e produz um quantidade significante de carbono orgânico. Dentre os principais reservatórios de carbono estão os combustíveis fósseis ( 5.000 Pg C ) ( Brady & Weil,1999), os oceanos ( 38.000 Pg C), a atmosfera ( 730-750 Pg C) e , os ecossistemas terrestres ( solo : 1.500 Pg C) ( Prentice et al., 2001).
COMPARTIMENTO SOLO
Qualificando o comportamento do solo, Cerri afirma: “O solo se constitui em um compartimento chave no processo de emissão e sequestro de carbono. Há duas a três vezes mais carbono nos solos em relação ao estocado na vegetação e cerca do dobro em comparação com a atmosfera.”
Manejos inadequados podem mineralizar a matéria orgânica e transferir grandes quantidades de gases de efeito estufa para a atmosfera. As atividades antrópicas liberam anualmente 7,5 Pg do Carbono existente no solo para a atmosfera na forma de CO2.
Cientistas, usando dados obtidos de pesquisas em camadas de gelo, combinado com o monitoramento a longo-prazo dos níveis de CO2 na atmosfera, verificaram grandes oscilações no CO2 atmosférico durante os últimos duzentos mil anos. Em 1850, a concentração de CO2 na atmosfera era cerca de 280 ppm; em 2000, 369 ppm; em 2005, apresentou um nível de 379,18 ppm e em 2006, 381,2 ppm. Atualmente a concentração é de 385 partes por milhão. Na velocidade em que se dá esta variação, de 2,02 ppm ao ano, o planeta tenderá à insustabilidade muito em breve.
Plantio Direto
Nesse momento em que o Brasil se preocupa com as mudanças globais, o seqüestro de carbono da atmosfera para o solo promovido pelo plantio direto resulta numa contribuição adicional muito relevante, sendo mais um indicador da possibilidade de se construir uma agricultura altamente sustentável nos trópicos. Considerando a área total sob plantio direto ( 22,5 milhões de ha ) tem-se uma estimativa de retirada de CO2 de 29 a 40 milhões de ton/ano. Tais números são aparentemente ínfimos se comparados com o total de emissões anuais do Planeta da ordem de 29 bilhões de toneladas de CO2.
Tipos de Solo & Estoques de Carbono
A definição nos estoques de carbono entre solos sob mesma vegetação nativa é influenciada fortemente pela textura do solo. A matéria orgânica é retirada do solo em função da superfície específica das partículas deste. Portanto os estoques de carbono nos solos de textura fina, os argilosos, são bem maiores daqueles em solo de textura grossa ( arenoso ).
“ Em trabalho recente, publicado na revista Soil & Tillage, elaborado a partir de dados dos próprios autores e da revisão de outros dados já publicados no país, os cálculos mostram que, na média, em lavouras de grãos cultivados sob plantio direto registra-se, na região de Cerrados, um acúmulo de carbono no solo da ordem de 350 kg/ha/ano, seqüestrado da atmosfera e que pode atingir 480 kg/ha/ano na região do sul do Brasil, numa profundidade de 20 centímetros. Nas áreas sob manejo convencional, ao contrário, observa-se a emissão de carbono para a atmosfera. Convertendo esses valores em quantidade de dióxido de carbono ( CO2) tem-se, para o Cerrado e para a região sul, respectivamente, totais aproximados de 1,28 ton/ha/ano e 1,76 ton/ha/ano de CO2 retirado da atmosfera.
O Laboratório de Biogeoquímica Ambiental da USP está iniciando um projeto de pesquisa cuja proposta é avaliar as emissões de CO2, CH4 e N2O provocadas pelo uso e mudança do uso da terra nos estados de Rondônia e Mato Grosso, nos últimos 30 anos e prever, através de modelagem, os impactos futuros. Em complemento serão avaliadas a degradação do solo e as implicações sócio econômicas da expansão agrícola na região que, juntamente com os objetivos anteriores, constituem elementos indispensáveis para a formulação de planos de políticas públicas que visam a mitigação do aquecimento global sem perder de vista a produção de alimentos e o desenvolvimento sustentável da Região Amazônica.
O uso de técnicas isotópicas e convencionais em pesquisas sobre a dinâmica do carbono, nitrogênio e fósforo da Matéria Orgânica do Solo em ecossistemas naturais do Brasil ( Amazônia, Mata Atlântica e Cerrado ), suas modificações pelo uso agrícola ( pastagens, cana-de-açucar, soja ) e manejos ( plantio direto, aplicação de biossólidos) constituem a linha principal de pesquisa no Laboratório Biogeoquímica Ambiental. Cita-se, entre os projetos em andamento, o “ seqüestro de carbono nos solos do Brasil : efeito de uso da terra” que muito contribuirá para um mapeamento dos estoques de carbono nos biomas brasileiros.
Carol Salsa, colaboradora e articulista do EcoDebate, é engenheira civil, pós-graduada em Mecânica dos Solos pela COPPE/UFRJ, Gestão Ambiental e Ecologia pela UFMG, Educação Ambiental pela FUBRA, Analista Ambiental concursada da FEAM ; Perita Ambiental da Promotoria da Comarca de Santa Luzia / Minas Gerais.
[EcoDebate, 07/05/2009]
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