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Ibama associa crime ambiental a trabalho escravo, tráfico e exploração infantil no Pará

Madeira apreendida pelo Ibama, em foto de arquivo
Madeira apreendida pelo Ibama, em foto de arquivo

Operação coordenada pelo Ibama apreendeu 5,5 mil metros cúbicos (equivalente a cerca de 370 caminhões carregados) de madeira nobre extraída ilegalmente da Reserva Indígena Alto do Rio Guamá, próxima ao município de Nova Esperança do Piriá no nordeste do Pará. A ação batizada como “Operação Caapora”, que em tupi quer dizer aquele que vive do mato, lavrou mais de R$ 7 milhões em multas desde 6 de abril.

A terra indígena explorada ilegalmente pertence aos índios Tembé, e é rica em madeiras de grande valor como maçaranduba e ipê. A madeira apreendida estava sendo retirada do lado oeste da reserva que tem cerca de 280 mil hectares e 1.500 habitantes. A Operação Caapora não tem prazo para terminar. O Ibama pretende percorrer toda a borda da reserva.

Segundo o Ibama, em 20 dias de operação, foram fechadas 22 serrarias ilegais; apreendidas cinco armas de fogo, quatro tratores, três caminhões, uma Picape, cinco motocicletas, 11 motosserras, além de computadores portáteis e aparelhos de radiocomunicação. Apesar dos fiscais encontrarem os motores das máquinas de serrar ainda quentes (recentemente desligados), ninguém foi apanhado e preso em flagrante até agora.

Conforme o superintendente do Ibama no Pará, Aníbal Picanço, as serrarias envolvidas na extração ilegal de madeira não pagavam impostos e exploravam mão-de-obra de forma análoga ao trabalho escravo, com remunerações inferiores a R$ 10 ao dia.

“Esses madeireiros não são da região. Tão logo a riqueza termina eles abandonam a região, deixando rastro de pobreza e miséria. O que eles dão de volta: nenhuma assistência social, benefício nenhum”, disse. Apesar disso, o dirigente calcula que extração irregular de madeira fez com que a população de Nova Esperança do Piraí triplicasse desde 2004 e hoje atinja mais de 24 mil pessoas.

O aumento populacional, a pobreza e a ilegalidade da atividade madeireira favorecem a ocorrência de mais ilícitos. Aníbal Picanço informa que na região é comum a exploração sexual de crianças e adolescentes. “O histórico da região é de exploração sexual principalmente em postos na beira da estrada”, informou citando os postos de combustíveis das estradas vicinais que fazem ligação com a Belém-Brasília (BR 153) e a Belém-Marabá (PA 150) como alguns dos locais onde o crime ocorre.

O superintendente do Ibama também cita casos recentes de pistolagem e de tráfego de drogas na região. Na operação foram apreendidos 50 quilos de maconha prontos para consumo e mais cinco quilos de sementes. Também foram encontrados uma plantação com 2.500 pés maconha em uma clareira na floresta.

Além do Ibama, participam da operação a Funai, Força Nacional de Segurança, Polícia Rodoviária Federal, o Corpo de Bombeiros, Batalhão de Polícia Ambiental do Pará e a Secretaria de Meio Ambiente do Estado.

A Operação Caapora foi planejada após o fechamento de diversas madeireiras em Paragominas no ano passado. Os fiscais do Ibama desconfiaram da movimentação registrada nas madeireiras da cidade e verificaram em sobrevôos de helicóptero que a madeira estava sendo retirada da Reserva Indígena Alto do Rio Guamá.

A madeira apreendida pela operação será destinada à construção de 12 escolas municipais na região e quatro pontes. Parte da madeira ilegal também será doada à Caritas, entidade da Igreja Católica para atendimento social.

Matéria de Gilberto Costa, da Agência Brasil

[EcoDebate, 28/04/2009]

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