Estudo da UE aponta disseminação de racismo e xenofobia no continente
Membros da etnia rom na Itália, país com grande número de queixas
Racismo e xenofobia estão mais presentes na Europa do que os registros oficiais apontam, afirma estudo da Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia.
Um estudo da União Europeia (UE) apontou que, nos últimos 12 meses, 12% de todos os entrevistados foram vítimas de atos criminosos racistas. A pesquisa divulgada nesta quarta-feira (22/04) em Bruxelas foi feita entre migrantes e pessoas pertencentes a minorias étnicas em todos os 27 países-membros.
Os resultados da pesquisa mostraram que não somente em quase todos os países da UE pessoas vivenciaram discriminação racial, mas que também muitas vítimas guardaram para si humilhações e ataques.
“As cifras oficiais mostram somente a ponta do iceberg”
Para o dinamarquês Morten Kjaerum, diretor da Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia (FRA), a pesquisa mostrou que há poucos registros de crimes racistas e discriminação na Europa. “As cifras oficiais mostram somente a ponta do iceberg”, afirmou.
Mas os países-membros da UE possuem legislações antidiscriminatórias. Ao menos de forma teórica, existe a proteção contra a discriminação. Resta saber por que ela não é denunciada à polícia pelas vítimas.
Joanna Goodey, uma das coautoras do estudo, disse que a maioria dos entrevistados (63%) afirmou não acreditar que, se denunciasse tais crimes, alguma providência seria tomada e que algo mudaria.
“Vemos aqui uma grande parcela de resignação. Do total, 40% disseram que tais incidentes seriam normais, que aconteceriam constantemente. Outros 36% afirmaram que não sabiam a quem se dirigir. E um quarto das pessoas declarou ter medo de retaliações posteriores, caso registrassem queixa”, relatou Goodey.
O estudo da FRA constatou que principalmente os membros da etnia rom declararam ser vítimas de discriminação. Na média da UE, um em cada dois membros da etnia afirmou que foi vítima de racismo nos últimos 12 meses, seja através de desvantagens, seja por meio de insultos ou violência. Mas muitos africanos também tiveram a mesma experiência.
Um quarto das vítimas mencionou lugares onde teriam sido especialmente discriminadas. Para os membros da etnia rom, isso aconteceu principalmente na Hungria, na República Tcheca, na Eslováquia e na Grécia.
Nenhum país tem a consciência limpa
Entre os países de onde vem o maior número de queixas está a Itália, não importa quais sejam os tipos de minorias e migrantes. Segundo a pesquisa, no entanto, nenhum país tem a consciência limpa. As queixas provêm de somalis na Dinamarca, como também de poloneses no Reino Unido ou de brasileiros em Portugal.
A pesquisa da UE evitou estabelecer um ranking de racismo entre os países do bloco. Seu objetivo é estimular as vítimas a denunciar oficialmente as experiências que vivenciaram, para que governos e autoridades possam agir de forma consequente.
Pois enquanto essas vítimas permanecerem mudas, a política nada poderá fazer, disse Kjaerum. “Significa que os criminosos continuarão impunes, que não será feita justiça às vítimas e que os políticos não poderão tomar as providências necessárias para evitar tais incidentes”, explicou.
Por tratar-se do primeiro levantamento desse tipo, a agência da UE não pôde constatar se a situação melhorou ou piorou através dos anos. Conclusões sobre esse desenvolvimento só poderão ser tiradas a partir de um segundo estudo, a ser feito nos próximos anos.
Autor: Christoph Hasselbach
Revisão: Alexandre Schossler
*Matéria da Agência Deutsche Welle, DW-WORLD.DE
[EcoDebate, 28/04/2009]
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