Estudo da UFV conclui que, a partir de 2050, produção de milho e feijão pode cair mais de 30% sob o impacto das mudanças climáticas
Cultura de milho, na África, atingida pela seca
Clima, vilão do campo? Dois alimentos que fazem parte da dieta do brasileiro – o feijão e o milho – correm sério risco de ter uma queda considerável de suas produções nos próximos anos, por causa do impacto das mudanças climáticas e da concentração de gás carbônico na atmosfera. Estudo desenvolvido na Universidade Federal de Viçosa (UFV), na Zona da Mata, que sai na edição deste mês da revista americana Environmental Research Letters, tentou traçar o impacto no cenário dos anos de 2020, 2050 e 2080. E as simulações não foram nada animadoras. Estima-se que, se não houver investimentos em novas tecnologias no campo e na área da agrogenética, entre 2050 e 2080 as produções podem cair mais de 30%. Matéria de Cristiana Andrade , no Estado de Minas, 20/04/2009.
A pesquisa mineira foi desenvolvida no Laboratório de Mudanças Climáticas do Departamento de Engenharia Agrícola da UFV, tendo à frente pesquisadores da UFV – Luiz Cláudio Costa (atual reitor da instituição), Flávio Justino, Leidimere de Oliveira, Gilberto Sediyama, e Carlos Lemos -, e Williams Marques Ferreira, da Embrapa Milho e Sorgo, com sede em Sete Lagoas, a 100 quilômetros de Belo Horizonte.
Segundo o professor Luiz Cláudio, foram feitas simulações de plantio de milho e feijão usando dados do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU. “O objetivo principal era avaliar como as mudanças climáticas vão afetar a questão da segurança alimentar. Temos essa preocupação com a fome mundial e isso nos motivou a estudar o fenômeno. E o que vimos foi que precisaremos de mais tecnologia, avançar mais para que a produção desses grãos se torne mais resistente às mudanças do clima. Temos potencial para desenvolver novos estudos e enfrentar o problema. A agricultura é um dos itens mais importantes do Produto Interno Bruto (PIB) do país e vamos ter danos, mas podemos minimizá-los, podemos nos adaptar”, analisa Luiz Cláudio, que coordena a equipe de especialistas em mudanças climáticas da ONU e é membro do Comitê Executivo de Mudanças Climáticas da Secretária de Ciência e Tecnologia de Minas Gerais.
De acordo com o pesquisador, a temperatura é fator de estresse para o cultivo não só de milho e feijão, mas para outras culturas, como arroz e café. “A deficiência hídrica encurta o ciclo da cultura e, se não tivermos investimentos em tecnologia e aplicação científica, produzindo variedades de milho e feijão mais resistentes e preparando o solo mais adequadamente, vamos correr riscos”, alerta.
Os estudiosos da UFV usaram o cenário A2 do IPCC, que está num nível intermediário – “nem muito pessimista nem otimista”, frisa o professor Costa. Como explica, o cenário de população mundial para 2100 é de 15 bilhões de habitantes. Nesse ano, a temperatura da Terra estará 3,8 graus acima da média atual. O cenário A2 indica que em 2020, o termômetro marcará 1 grau a mais do que hoje e, em 2080, 2,5 graus a mais.
O estudo é parte de uma linha de pesquisa em mudanças climáticas e seus impactos na agricultura, que existe há mais de 10 anos na Federal de Viçosa, mas esse projeto especificamente teve duração de dois anos e apoio do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig), com investimento em torno de R$ 30 mil.
Para ele, o hábito do brasileiro de esperar por tudo não vai poder ocorrer nessa situação. “É necessário haver treinamento agrícola, trabalhos extensionistas com os agricultores e estarmos prontos para fazer previsão de tempos sazonais, se este ano teremos veranico, se vai ser muito quente ou se o clima vai mudar radicalmente. Vai ser preciso estar cada vez mais atento para atender o agricultor”, acrescenta.
SAIBA MAIS
MILHO
O milho é considerado um alimento nutritivo, pois é rico em carboidratos, essencialmente o amido, além de conter vitaminas B1 e B2, minerais como fósforo e potássio. Ele conserva em sua casca muitas fibras. Por essas razões, é muito consumido para alimentação humana e animal.
FEIJÃO
O feijão é uma importante fonte de nutrientes, com proteínas, carboidratos, vitaminas (tiamina e riboflavina, entre outras), minerais (ferro, potássio, cobre e zinco, entre outros) e fibras. Associado a um cereal, como o arroz, o feijão tem todas suas proteínas absorvidas pelo organismo.
[EcoDebate, 23/04/2009]
Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta que envie um e-mail para newsletter_ecodebate-subscribe@googlegroups.com . O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.