Painéis solares geram energia com cascas de frutas
Novos painéis solares usam processo inspirado na fotossíntese.
Pesquisadores italianos da Universidade Tor Vergata, em Roma, anunciaram ter produzido energia elétrica a partir de painéis solares elaborados com cascas de frutas, verduras e legumes. Os cientistas trabalham no Pólo Solar Orgânico, instituto criado dois anos atrás pela região de Lazio e com a participação da iniciativa privada para estudar o emprego de materiais orgânicos em fontes renováveis de energia.
A nova geração de painéis solares substitui o uso do silício por uma mistura de pigmento de alimentos que podem ser sintetizados biologicamente. A inovação está na elaboração de um material que absorve a radiação solar e a transforma em eletricidade. O grupo de pesquisadores inspirou-se na fotossíntese, processo natural das plantas de absorção de gás carbono e emissão de oxigênio na atmosfera. Matéria de Guilherme Aquino, de Milão para a BBC Brasil.
As células solares orgânicas são formadas por corantes naturais extraídos do mundo vegetal. A ciência básica por trás é a mesma do painel tradicional. Mas muda a composição química dos elementos e a espessura da lâmina que pode ser aplicada ao produto final em película, plástico ou vidro.
“ Em comparação com as atuais células solares, a orgânica é mil vezes mais fina. A diferença de capacidade de absorção da energia solar varia de pigmento para pigmento, mas ela é mínima, afirmou o professor Franco Giannini, diretor do Pólo. Os componentes eletrônicos e químicos do painel localizam-se entre as duas placas de eletrodo e são sobrepostos uns aos outros, em camadas de estratos na quais ocorrem as reações fotovoltaicas.
Durante o processo de transformação da energia, alguns componentes recebem a irradiação solar e outros extraem a carga para a produção de eletricidade. “ Trabalha-se essencialmente com o dióxido de titânio. As células ativadas pelos corantes absorvem a energia solar, permitindo o fenômeno da separação das cargas para a produção de energia “, descreve Giannini.
Os principais elementos da nova tecnologia fazem parte de uma longa lista de pigmentos naturais de origem vegetal. Frutas silvestres ricas em antocianinas ( pigmento natural encontrado na berinjela, amoras e uvas ), ou folhas de espinafre, com complexos de proteína, por exemplo, possuem propriedades capazes de ajudar na transformação da energias solar em elétrica. O Brasil tem uma agricultura forte e pode se interessar por essa tecnologia”, afirmou Giannini, que trabalhou no país.
VANTAGENS
O painel, semitransparente ou colorido, pode captar a luz independentemente dos raios solares. Esses fatores contam no processo, mas menos com a nova tecnologia.
“ Uma diferença fundamental é que estas células orgânicas são tridimensionais, enquanto as tradicionais são bidimensionais. Isso significa que podem absorver a luz em todas as direções, são mais eficientes. Elas captam a radiação da luz difusa “, contou Giannini. Isso significa que o céu encoberto de nuvens continua a ser uma fonte de energia solar. A nova tecnologia poderá aumentar a produção dos painéis solares reduzindo o custo do valor da energia transformada. Hoje, os painéis a base de silício custam entre 6 a 12 euros por watt. Com a revolução a caminho, os preços podem cair para 2 euros por watt através dos painéis orgânicos. O silício é o principal elemento químico encontrado no planeta depois do oxigênio e a matéria prima usada para a elaboração dos semicondutores, usados nos painéis.
O mineral , presente na areia do mar, por exemplo, é caro por causa do processo de transformação para a indústria. Ele acaba sendo o responsável por 60% do preço final do produto. “ O custo da aplicação do silício se paga em quatro anos, contra um das células orgânicas “, diz Giannini. Além disso, as máquinas para construção dos painéis devem custas uns 15 ou até mesmo 100 milhões necessários para outras formas de painéis fotovoltaicos. Os novos modelos também serão mais seguros.
“ A manutenção é mais fácil e o roubo não é interessante, pois como alguém vai levar embora uma janela, por exemplo ? “, pergunta o professor. O painel incorporado à janela tem ainda a função de repor a energia elétrica em parte usada na iluminação noturna, descarregando-a em uma bateria. A fonte de calor das lâmpadas da energia irradiada pela luz em eletricidade.
* Matéria da BBC Brasil, enviada por Carol Salsa, colaboradora e articulista do EcoDebate
[EcoDebate, 20/04/2009]
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