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Tremembé pedem demarcação. Entrevista com a liderança Tremembé Adriana Carneiro de Castro

[EcoDebate] Luta contra turismo predatório – Mais de 200 famílias Tremembé, no Município de Itapipoca, no Ceará, estão ameaçadas pelo projeto NOVA ATLÁNTIDA, que nasceu com o objetivo de se transformar no maior complexo turístico residencial do mundo, com mais de 3100 hectares. Conforme apresenta o site do Nova Atlántida, este é um projeto de um consórcio de 17 empresas que pretende cobrir uma superfície de trinta e dois milhões de metros quadrados, incluindo 27 hotéis de luxo e 7 campos de golfe, orçado em US$ 15 bilhões.

Mas o lugar é o território dos Tremembé. Desde 2008, a empresa espanhola “Afirma Housing Group” é responsável por este projeto que vai tirar as raízes das famílias Tremembé. O diretor da Nova Atlántida, Frank Roman, confirma o acampamento das comunidades, mas diz que os manifestantes são “pseudoíndios”. Mas os indígenas de São José e Buriti não querem ser expulsos por esta forma de desenvolvimento. Eles lutam para a demarcação das suas terras e pedem ajuda à ONG alemã Rettet den Regenwald. Desde o final de março, já mais de 5.900 pessoas mandaram cartas de apoio à FUNAI de Brasília. A socióloga Márcia Gomes falou com a liderança Tremembé Adriana Carneiro de Castro sobre este assunto.

* Qual é a história dos Tremembé? Vocês sempre viveram neste lugar?

Nossa história, nós nascemos e criamos nesse lugar. Nós broiamos daqui (alguém cortou a árvore e broiou novos galhos). Uma árvore que sempre foi deste lugar.

* Quantas pessoas há na comunidade hoje?

A FUNASA cadastrou 107 famílias. São mais ou menos 520 pessoas cadastradas. É um total de 205 famílias nas duas aldeias, São Jose e Buriti. Também temos parentes não identificados como índio, porque trabalham para a empresa. Já foram 100 trabalhadores, entre homens e mulheres. Hoje eles têm 30 trabalhadores.

* Como vivem tradicionalmente os Tremembé?

Nós vivemos até hoje de pesca, caça (principalmente de peba) e agricultura de mandioca. Também recebemos Bolsa Família e Aposentadoria Rural.

* Como é a geografia do lugar? Há restinga, lagoas?

Temos rios, mananciais. Temos lagoas no alto dos morros, com muita pesca. Há nascentes que nunca secaram. Temos a mata silvestre, a mata do murici que dá grande sobrevivência para nós. E no mês de novembro tem a Festa do Murici.

* Deste quando a empresa está na área?

Desde 1981 eles começaram a negociar com posseiros da região.

* Quem são estes posseiros?

Nossa terra já vem sendo roubada por muitos anos. Estes posseiros se apossaram de nossas terras. Toda esta terra está no processo de demarcação.

* No momento, o que a empresa está fazendo?

No momento a empresa não está construindo nada, até porque está na Justiça. Mas temos receio de que a qualquer momento ela possa fazer. Ela já fez construções, como viveiros de plantas e cercamento, tirando o nosso acesso aos manguezais.

* Quais plantas a empresa está fazendo muda nestes viveiros?

Não sei. Não são plantas daqui. Não tem nada a ver com o lugar.

* A empresa está fazendo o trabalho de distribuir mudas nas escolas, dizendo que é ecológico. Quanto tempo a empresa distribui estas mudas?

Há mais de três anos.

* Então as escolas da região e os políticos não apóiam vocês, não se relacionam com vocês? Vocês não têm a possibilidade de falar nas escolas contra isso?

Estamos começando a nos mobilizar e dar o nosso grito. Estamos começando a ir à Câmara Municipal e pedindo aos políticos de Itapipoca que nos respeitam como filhos dessa terra. Já pedimos para os vereadores observarem os projetos com atenção e não assinar projetos nas terras dos índios.

* Vocês têm sofrido ameaças e intimidações?

Sofremos muitas ameaças. Já houve processo contra nós no Fórum do Município de Itapipoca. A empresa usa o nome de pessoas do lugar para entrar com o processo. O processo foi contra mim e a minha irmã, porque denunciamos eles. Pegaram nós duas como se a gente fosse as cabeças. Processaram dizendo que nós não somos índios, que somos pagos para dizer que somos índios.

Outro conflito ocorreu em 2005. Nossa terra tem um sítio grande de coqueiral, tanto em São José quanto em Buriti. Tem uma cultura de coco só para a alimentação própria da gente. E nós queremos preservar o coqueiral. A empresa queria derrubar o nosso coqueiral e os índios proibiram. A Polícia Militar de Itapipoca foi paga pela empresa para nos agredir. A polícia bateu até em mulheres e crianças dentro das nossas terras. Este conflito durou dois meses. Teve gente presa. Mas a FUNAI do Ceará nos apoiou e a Polícia Federal deu ordem judicial proibindo a entrada deles nas nossas terras.

* E em relação à empresa, qual é o pensamento de vocês? O que vocês querem que aconteça com a empresa?

Nosso pensamento geral é que a empresa vá embora para bem longe e para sempre. A empresa é a contaminação da terra. Queremos que ela saia de nosso meio, da nossa terra. Que não faça nada aqui. Não deixe raízes.

* Como o povo brasileiro e os cidadãos do mundo podem ajudar vocês?

Desde 2006 foi prometido o GT de demarcação, mas a FUNAI não tomou nenhuma providência até agora. No momento o que tem de mais importante é que a FUNAI faça a demarcação. Tudo que pedimos é que a FUNAI de Brasília tome a decisão em nosso favor.

* Vocês têm contato com funcionários da FUNAI? Há uma comunicação entre vocês?

A gente manda a nossa reivindicação, mas a FUNAI de Fortaleza não tem poder. A FUNAI do Ceará depende da FUNAI de Brasília.

* Neste momento como está o processo de demarcação?

Desde 2006, foi prometido o Grupo de Trabalho de demarcação, mas nada foi feito até agora.

* Muito obrigada.

Vamos lutar e vencer juntos.

Entrevista realizada por Márcia Gomes (Socióloga e Professora) e edição de Norbert Suchanek (Jornalista de Ciência e Ecologia, colaborador e articulista do EcoDebate)
www.regenwald.org
www.salveaselva.org/
www.regenwald.org/protestaktion.php?id=388
www.salveaselva.org/protestaktion.php?id=390

Ver também: http://www.PetitionOnline.com/indios08/petition.html

[EcoDebate, 03/04/2009]

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