(Aniversário de Marabá) Lembrete aos Errantes, artigo de Raimundo Gomes da Cruz Neto
No cotidiano da vida ocorrem proposições que provocam ou não ações e relações, questionamentos ou acomodações. Geralmente as proposições que se tornam obrigações para ações são feitas por quem se considera com o poder de determinar para outros cumprirem, sem que haja uma discussão entre as partes: propositor, agentes das ações e supostos beneficiários ou compartilhados.
Na semana passada tomei conhecimento da vasta programação referente ao aniversário de Marabá, por sinal louvável, considerando as anteriores. Embora tenha me chamado atenção o formato que não me agradou, ou seja, os restritos espaços geográficos contemplados com as atividades, concentradas na marabá Pioneira, principalmente na praça Duque de Caxias, que até então tudo era na orla.
Não que eu seja contra realização de atividades na praça Duque de Caxias, pelo contrário, temos que continuar valorizando aquele espaço e os moradores deste complexo, Marabá Pioneira. Gosto muito daquela praça da minha infância, que de forma arbitrária foi descaracterizada com uma obra horrível(uma delas) feita pelo prefeito Tião Miranda.
É bom lembrar que faz muito tempo que a cidade de Marabá não é mais só a Marabá Pioneira, e a Nova Marabá não é só o Ginásio Olímpico da Folha 16. Existe o complexo integrado dos bairros Cidade Nova composta pelos bairros Cidade Nova, Amapá, Novo Horizonte, Belohorizonte, Vale do Itacaiuinas, Vila Poupex, Lanranjeiras, Novo Planalto, Bom Planalto, Liberdade, Independência, Jardim União, Bela vista, Agrópolis do INCRA e várias ocupações recentes já se constituindo como novos bairros.
Existe, ainda São Félix Pioneiro – que tem sua origem na década de 40, quando caçadores e pescadores escolheram aquele lugar para habitar -, São Félix I, II e III, Morada Nova, complexo Cidade Nova e diversas folhas que ficaram fora da programação. Estes locais não poderiam ser excluídos, em respeito e consideração ao seu povo, sua história e seus artistas que poderiam participar e animar as atividades culturais.
Diante da falta de condições para a maioria da população se deslocar e diante do medo que domina o imaginário do marabaense, devido a falta de segurança e o alto índice de roubos, furtos, assaltos, estupros e assassinatos que impera no município e região, e por necessidade de integração, não faz sentido querer concentrar as pessoas, o bom senso indica a descentralização para possibilitar mais oportunidades.
Sou amigo incondicional do grupo Mayrabá, tenho consideração e respeito pelo grupo Yaguara e todos artistas da terra lembrados nesta festividade. Mas quantos grupos culturais, quantos artistas das diversas artes existem nos diversos bairros, que não recebem oportunidades para aparecerem, se apresentarem, que poderiam estar tendo oportunidade se os olhares dos errantes sofressem de menos miopia?
Mas nem tudo é por acaso, tudo é motivado por uma lógica e uma ordem, uma proposição e um certo formato para acomodação e alienação. Não é de hoje que prevalece a determinação de que para melhor dominar o povo é necessário concentrá-lo, embriagá-lo de ilusões manipular sua consciência e fazer voltar para casa cheio de falsas satisfações, que no outro dia já não mais existem.
Basta de propaganda enganosa de que é “o povo governando”, se na realidade o povo não governa nada porque sempre é excluído das decisões. Até a de opinar como melhor sejam realizadas as festividades para que mais pessoas possam participar, visto que estas são patrocinadas com seu dinheiro.
È bom lembrar que nem todos marabaenses são errantes ou sofrem de miopia e que também não estão dispostos a serem teleguiados por idéias mirabolantes de quem quer que seja. Festejemos o aniversário de Marabá com a grandeza de nossa gente, em todo e qualquer lugar da cidade e do campo, que possamos construir a felicidade, alegria e liberdade, mesmo sem a participação daqueles que controlam nosso dinheiro e querem controlar nossas vontades.
Marabá, 30 de março de 2008.
Raimundo Gomes da Cruz Neto
rgc.neto{at}yahoo.com.br
* Artigo enviado por Rogério Almeida, do Blog FURO.
[EcoDebate, 01/04/2009]
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