Transnacionalidade impõe desafios aos países amazônicos
Eles deverão avançar em conjunto em temas como o acesso à biodiversidade. Assunto foi abordado na Reunião Regional da SBPC em Tabatinga (AM)
A extensão da Amazônia por todo o norte da América do Sul e a sua relação ambiental com outros países longínquos a caracteriza como um território sem fronteiras, por onde transitam livremente elementos que compõem o seu bioma. “As águas do Rio Amazonas vêm dos Andes, passam por vários países e desembocam no Oceano Atlântico, não raro carregando algum material biológico de grande porte, como uma árvore, por exemplo. E, em determinados períodos do ano, andorinhas do Canadá migram para a Amazônia brasileira, se alimentam aqui e voltam para seus países de origem carregando informações biológicas dela em seus estômagos”, conta o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Adalberto Luís Val.
De acordo com o pesquisador, esse caráter transnacional da Amazônia imporá aos países que detêm parte de seu bioma a necessidade de tomar decisões políticas consensuais no que diz respeito a temas como a regulamentação do acesso a sua biodiversidade.
“Quando se faz leis sobre a Amazônia no Brasil, obviamente elas só valem para o território brasileiro, não abrangendo países vizinhos, como a Colômbia e a Bolívia, por exemplo. Porém, em todos esses lugares ocorre material biológico do mesmo tipo. Portanto, toda a vez que a gente regula aqui e não faz um acordo internacional para promover um controle mais amplo, estamos tomando conta somente de uma parte do problema”, avalia o pesquisador, que proferiu na sexta-feira, 20, a conferência “Amazônia, um mundo sem fronteiras” durante a Reunião Regional da SBPC que se realizou na semana passada em Tabatinga, no Estado do Amazonas.
Integração – Algumas questões, como as relativas à infraestrutura da região, já são discutidas pelos países amazônicos no âmbito da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA). Porém, segundo o pesquisador, é necessário o avanço na integração desses países em outros temas, como a melhoria da capacitação deles em ciência e tecnologia, que ainda é muito baixa.
“Por mais que a infraestrutura para pesquisa científica na Amazônia brasileira ainda seja bem tímida, ela é muito melhor do que a que existe nos países vizinhos. Mas nós também estamos em uma situação bastante crítica em termos da capacidade de geração de informações sobre o bioma amazônico, que não existem ou foram geradas por expedicionários que passaram pela região em tempos remotos, e ainda se encontram em sua forma inicial”, afirma.
Natural de Campinas, no interior de São Paulo, e morando há 28 anos em Manaus, Adalberto Val observa que um dos entraves para a geração de conhecimento sobre a Amazônia é justamente a dificuldade de fixar pesquisadores na região. “Nós não temos gente aqui. Em todo o Brasil, há mais de cem mil pesquisadores. Nos noves estados da Amazônia, esse número não chega a três mil”, estima o biólogo, que avalia que a revolução no financiamento da pesquisa científica que ocorreu no país nos últimos anos não foi acompanhada de um avanço significativo na melhoria e ampliação dos quadros de pesquisadores na região amazonense.
Sobre o evento: A Reunião da SBPC em Tabatinga foi o 30º evento de caráter regional realizado pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Neste tipo de evento, pesquisadores de várias partes do Brasil se reúnem para discutir, com bases científicas, questões importantes para o desenvolvimento social e econômico da região onde o evento é realizado.
Na Reunião de Tabatinga, o tema central foi “Conhecimento na fronteira”, em referência ao fato de a cidade estar localizada no extremo oeste amazonense, onde o Brasil faz divisa com o Peru e a Colômbia.
Por Angela Trabbold, da Assessoria de Imprensa da SBPC
[EcoDebate, 27/03/2009]
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