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Áreas desmatadas da floresta amazônica no Mato Grosso podem não se regenerar e virar savanas

desmatamento

O Mato Grosso, estado brasileiro que responde por quase 50% do desflorestamento de toda a região amazônica, pode não conseguir regenerar a floresta tropical desmatada em seu território e, assim, caminhar diretamente para um processo de savanização. O alerta, fruto de estudo feito por pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa (UFV), indica maior urgência para a preservação do norte do estado.

Os resultados da pesquisa, publicados na última edição do periódico Journal of Geophysical Research, foram obtidos a partir de dados de um modelo que analisou o poder de recuperação da floresta em diferentes cenários de devastação. Segundo a meteorologista Mônica Senna, uma das autoras do artigo, o objetivo inicial do estudo era tentar descobrir se havia um limite máximo de desmatamento que não provocasse interferências prejudiciais na regeneração da floresta. Matéria de Isabela Fraga, no Ciência Hoje On-line.

Para realizar a análise, a equipe abasteceu o modelo não apenas com dados sobre desmatamento. Pela primeira vez em estudos sobre o processo de savanização da Amazônia, foi considerado o fato de o solo amazônico ser, por si só, pobre em nutrientes.

Os pesquisadores simularam situações com diferentes taxas de desmatamento – de zero a 100% – e adicionaram informações sobre a deficiência nutricional do solo para analisar a influência desse fator na recuperação florestal. “O modelo nos mostrou que a deficiência nutricional do solo torna a regeneração da floresta bem mais lenta”, relata Senna.

O estudo revelou também que, a partir de 40% de desmatamento na floresta amazônica, há uma drástica redução na ocorrência de chuvas na região, o que limita ainda mais a regeneração florestal. “No norte do Mato Grosso, por exemplo, o grau de recuperação é nulo”, alerta a pesquisadora.

Estado mais seco por natureza
Mas por que o Mato Grosso apresenta essa falta de capacidade para recuperar áreas desmatadas? Segundo Senna, o motivo é o fato de o estado ter, diferentemente de outros pontos da Amazônia, uma estação seca bem definida.

O modelo mostrou que o desmatamento na região diminui ainda mais a ocorrência de chuvas e estende a estação seca de quatro para cinco meses. “Mesmo nos meses chuvosos, a intensidade das chuvas diminui”, completa a meteorologista. Esses fatores seriam suficientes para impedir a regeneração da floresta.

Diferentemente dos resultados da equipe da UFV, pesquisas anteriores apontam que a savanização poderia ocorrer em todo o território amazônico. É o caso de um estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que, além do desmatamento, considerou o aquecimento global. Em um cenário otimista, com aumento de temperatura de até 3 °C e desflorestamento de, no máximo, 40% até 2050, a savana cresceria 170% na região e apenas 66,2% da floresta tropical desmatada seria capaz de se regenerar.

“Como o modelo que utilizamos não trabalha com todos os fatores possíveis, não podemos descartar a savanização da Amazônia inteira”, afirma Senna. Segundo ela, o aquecimento global, as concentrações de gás carbônico na atmosfera e a ocorrência de incêndios, entre outros aspectos, também devem ser considerados em futuros estudos.

“Levando em conta apenas o desmatamento, o fator climático e o solo pobre em nutrientes, podemos apontar a possibilidade de savanização somente no norte do Mato Grosso”, enfatiza a pesquisadora. “Mas são necessários mais estudos de campo para confirmar as conclusões do modelo climático”, completa.

A savanização de parte da Amazônia acarretaria uma perda significativa de biodiversidade na região, já que a adaptação de espécies a um novo ecossistema demora séculos ou até milênios. “Portanto, o desmatamento no Mato Grosso deve receber mais atenção das autoridades, pois a maior sensibilidade climática da região pode fazer com que ela em breve deixe de ser abrigo para milhares de espécies da floresta tropical”, conclui a meteorologista.

* Enviada por Edinilson Takara, leitor e colaborador do EcoDebate.

[EcoDebate, 27/03/2009]

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