Pesquisa sugere que comerciais de cerveja estimulam consumo de álcool por menores de idade
Segundo os autores do artigo, o argumento de que os anúncios não se direcionam ao público adolescente , porque visam exclusivamente à fidelidade da marca, não se sustenta
O estudo encontrou uma associação positiva entre exposição e apreciação de propagandas de bebidas alcoólicas por adolescentes menores de idade, além de altas taxas de consumo de álcool. Para os autores, consumo de bebidas ainda é tratado com poucas regulamentações
Um estudo feito por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) encontrou uma associação positiva entre exposição e apreciação de propagandas de bebidas alcoólicas por adolescentes menores de idade, além de altas taxas de consumo de álcool. A pesquisa, publicada na última edição da revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz, avaliou a opinião de 133 estudantes, entre 14 e 17 anos, de três escolas estaduais da cidade de São Bernardo do Campo (SP), e concluiu: 82,7% desses jovens já experimentaram bebidas alcoólicas e, destes, 44,4% afirmaram consumir com alguma freqüência, sendo 30,1% uma vez ao mês e 14,3% aos finais de semana.
“É importante avaliar os resultados encontrados aqui levando em conta o fato de que o consumo de bebidas alcoólicas ainda é tratado no Brasil com poucas e frágeis regulamentações”, comentam os pesquisadores. “Não há, na prática e em níveis nacionais, restrições ao acesso, preços razoáveis e nem prevenção ampla no Brasil. Além disso, o mercado de bebidas alcoólicas no país ainda é considerado imaturo, ou seja, ainda há espaço potencial para crescimento dos níveis globais de consumo”.
Para a análise, foram selecionadas 32 propagandas televisivas que englobavam uma variedade de 14 marcas de (11 de cerveja e 3 de bebidas ice). Cada comercial foi exibido para os estudantes duas vezes em sessões que tinham em média 50 minutos de duração. Os resultados apontaram que 79% dos adolescentes já haviam assistido previamente pelo menos uma das 32 propagandas exibidas e 2/3 deles viram ao menos uma das cinco primeiras colocadas mais de dez vezes.
“Entre os cinco comerciais mais apreciados, o conhecimento prévio da propaganda estava geralmente associado com a nota atribuída; e a nota aumentou na medida em que aumentou o número de vezes que a propaganda foi vista”, afirmam os estudiosos. Além disso, eles destacam que quanto mais os adolescentes gostaram da propaganda maior o consumo de bebidas alcoólicas destes e vice-versa. “Apesar de a análise não permitir inferir a relação de causalidade, isto é, se o consumo é maior devido ao fato de gostarem mais das propagandas de álcool ou ao contrário, a associação entre gostar da propaganda e consumo de álcool ficou evidente”, explicam os pesquisadores.
De acordo com os estudiosos, a alta exposição verificada questiona as regras de autorregulamentação publicitária e a eficácia do controle ético das propagandas de álcool, já que o público adolescente, que deveria estar protegido, está exposto de modo significativo a uma grande quantidade de mensagens notadamente atraentes para a faixa etária. “Esses achados podem servir de fundamento para a criação de políticas públicas, no sentido de restringir e regulamentar a veiculação e o conteúdo das propagandas de bebidas alcoólicas”, esclarecem. “O argumento das indústrias de bebidas e dos setores da publicidade e propaganda de que os anúncios não se direcionam ao público adolescente menor de idade, porque visam única e exclusivamente à fidelidade da marca, não se sustenta, diante dos dados apresentados”.
Matéria de Renata Moehlecke, da Agência Fiocruz de Notícias
[EcoDebate, 23/03/2009]
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