5o Fórum Mundial da Água (FMA) discute escassez de água e soluções para aproveitar recursos
Imagem: Stockxpert
Considerada por muito tempo um recurso inesgotável, a água doce para o consumo humano tornou-se motivo de preocupação de vários países que sofrem com sua falta em reservatórios, leitos de rios e lagos. Aos poucos, ela entrou na pauta de discussão dos líderes mundiais e se tornou questão central de encontros internacionais. Em meados deste mês acontece o maior deles, o responsável por colocar a água na agenda mundial. O 5º Fórum Mundial da Água (FMA www.worldwaterforum5.org ) deverá reunir centenas de parlamentares, autoridades do assunto, empresários e representantes de vários países em Istambul, na Turquia, entre os dias 16 e 22 de março. Os participantes devem debater o futuro dos recursos hídricos do planeta. Matéria de Luiz de França, Veja.com, 04/03/2009 08:15,
“O fórum deste ano está muito influenciado pela questão climática. O ponto central deverá ser a adaptação às mudanças por meio do fortalecimento da gestão dos recursos hídricos”, disse em entrevista a VEJA.com o diretor-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), José Machado, que será um dos participantes do fórum. O motivo de tanta preocupação está em números já conhecidos (apenas 2,5% de toda água disponível na superfície da Terra está em forma de água fresca para o consumo, dos quais apenas 0,3% está em rios e lagos) e nas previsões alarmantes que os efeitos do aquecimento global podem ter sobre esses recursos.
Outro agravante é o acelerado crescimento populacional mundial e a estimativa da Organização das Nações Unidas (ONU) de que, em 2030, 60% da população do globo viverá nos grandes centros urbanos consumindo ainda mais água e demandando mais tratamento de água e esgoto. Segundo dados da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que agrupa os 30 países mais industrializados da economia do mercado, no ano de 2005, cerca de 2,8 bilhões de pessoas viviam em áreas onde o consumo de água excedia em 40% a capacidade dos recursos disponíveis. Esse número poderá chegar a 3,9 bilhões em 2030 caso políticas mais eficientes não sejam adotadas de imediato.
Colapso – O último relatório do Fórum Econômico Mundial, divulgado no encontro realizado em janeiro deste ano, alerta que o mundo enfrenta uma falência de seus recursos hídricos. Conforme o documento, a insistência no uso da água nos mesmos padrões do passado poderá levar a um colapso da rede econômica mundial. O estudo também prevê que em duas décadas, a água se tornará um fator de investimento tão atraente quanto o petróleo. O fórum deste mês deverá marcar o lançamento do terceiro relatório trienal da ONU sobre a água no mundo e a divulgação de documentos que serão encaminhados para algumas instâncias internacionais como o G-8 e as comissões da ONU.
No Brasil, que ainda está em uma posição privilegiada em relação a alguns países da Europa, Ásia e África, o maior problema é a poluição que os grandes centros urbanos enfrentam. “Os mananciais que cortam as regiões metropolitanas estão cada vez mais poluídos”, destaca o diretor-presidente da ANA. “Vamos ter de investir mais para buscar água de lugares cada vez mais distantes se isso não for contornado.” Mesmo considerando que o país segue uma prática de política de recursos hídricos em evolução, Machado critica o atraso de alguns estados em relação a essa política. “Muitos deles estão patinando em termo de fortalecimento de gestão do setor”.
Impacto – Conforme Machado, a poluição industrial deixou de ser o vilão da história, por sofrer uma maior fiscalização e enfrentar mais exigências para o seu funcionamento, como o tratamento da própria água e do esgoto. Por isso, o problema maior passou a ser a poluição doméstica e a difusa – o lixo das ruas levado para os leitos dos rios, lagos e reservatórios. Para Gilmar Altamirano, ambientalista e presidente da ONG Universidade da Água, a poluição difusa deveria ser a mais fácil de combater, “desde que conseguíssemos, por meio de campanhas, conscientizar todos do grave impacto que uma bituca de cigarro, um pedaço de papel e plástico ou as fezes do cachorro deixada na rua podem causar ao ambiente”.
Em São Paulo, assim como em outras cidades importantes do país, muita gente desconhece que a cidade é cortada por córregos que levam tudo o que é descartado para os rios. Segundo Altamirano, dos cerca de 3.200 quilômetros de córregos do território paulistano, pelo menos a metade está escondida embaixo dos asfaltos das ruas e avenidas da cidade. Mas é o consumo doméstico de água que mais preocupa os especialistas ouvidos por VEJA.com. Enquanto a ONU recomenda um consumo diário de 100 litros por pessoa, a maior cidade da América do Sul consome o dobro. “E, nesse quesito, o banheiro continua sendo o maior vilão”, explica Altamirano.
* Enviada por Edinilson Takara, leitor e colaborador do EcoDebate
[EcoDebate, 06/03/2009]
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