As águas do rio Grande
São José do Rio Preto, 22 de fevereiro de 2009
Nilce Lodi 09:00 – O rio Grande que divide os Estados de São Paulo e Minas Gerais com suas águas, cachoeiras e saltos, faz parte da memória histórica coletiva e do imaginário dos rio-pretenses. O Grande, ao longo do século 20, sofreu transformações radicais com a hidrelétrica, porém continua a atrair aqueles que desejam conhecer suas belezas naturais. No “Diário de uma viagem pelo sertão paulista, realizada em 1904”, de Cornélio Schmidt, em viagem feita com o norte-americano Thomaz Canty, é descrito um rio muito diferente daquele que podemos ver hoje. Cornélio Schmidt era formado pela Escola de Minas de Ouro Preto. Acompanhou o norte-americano Thomaz Canty durante dois meses e meio, percorrendo a cavalo a respeitável distância de 350 léguas em busca de terras públicas do Estado, ainda pouco povoadas, que pudessem ser adquiridas para a formação de um núcleo de colonização, com imigrantes norte-americanos. O diário de Schmidt é um documento importante, produto de uma visão particular do sertão, porém não deve ser considerado documento definitivo e portador de “verdade” absoluta. No Correio Web, 22/02/2009 09:00:58.
A viagem
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Comentário de Jorge Gerônimo Hipólito em As águas do rio Grande
Caríssima Nilce Lodi, o seu texto sobre as águas do Rio Grande enriqueceu o domingo, principalmente daqueles que concretamente o amam, diga-se de passagem, ao ponto de até hoje empreenderem esforços no sentido de preservá-lo.
Infelizmente, a preservação dos nossos rios, hoje é quase que impossível, mas, felizmente, perceba que ainda existe o quase. Esse se continua a existir deve-se ao privilégio de poder contar com pessoas que ainda contam histórias. A história nos conduz para uma viagem, onde nas nossas telas particulares testemunhamos o avanço, bem como o retrocesso da vida. Eu quero ousar e solicitar para que conte também alguma história sobre o Rio Tiete em especial naquele trecho, aonde havia o Salto do Avanhandava. Certa vez, logo que cheguei ao policiamento ambiental (1977) me interessei por pilotar embarcações e, de pronto, fui escalado para fazer o itinerário entre a Barragem de Promissão (jusante) até o Salto. Eu nunca havia ali navegado. O rio era turbulento, ou seja, predominavam as corredeiras. Eu penso que naquela época, muito raramente, o policiamento ambiental por ali fazia presença e isso se devia ao fato de contarem com efetivo reduzido. O meu auxiliar conhecia menos ainda. Navegamos o dia todo e encontramos inúmeras irregularidades ambientais. Os pescadores ficavam surpresos com nossa presença e até indagavam: vocês são de onde? Por volta das 18h30min nem sabíamos onde estávamos, mas sabíamos que descíamos e que deveríamos aportar na margem direita junto a um porto de areia. Quando me dei conta avistei o porto, porém com visão um pouco prejudicada, vez que o sol ainda estava escaldante e atrapalhava olhar em frente. De repente, meu auxiliar me chamou a atenção e disse: o rio parece que termina logo ali na frente! Levantei-me da popa e olhe por cima da proa e percebi que cinqüenta metros a frente havia uma espécie da barragem, ou seja, por sorte não nos despencamos barragem abaixo. Aliás, a minha pouca experiência aumentou o risco, pois consegui retornar a embarcação bem próxima da barragem. O tempo passou muita coisa aconteceu até que em 1.983, com o fechamento da Barragem de Nova Avanhandava, as águas ficaram lisas e eu naveguei no mesmo local, no entanto, com muita saudade das águas turbulentas, onde dourados, caranhas, piaparas, piaus, pintados e lambaris promoviam shows nos períodos de piracema. Infelizmente, eu não tenho fotografias, mas presumo que aqueles pescadores freqüentadores do Clube de Pesca que também foi coberto pelas águas devem tê-las. Por oportuno, eles também poderiam contar as suas histórias, bem como mostrar suas fotografias. No futuro, as histórias e as fotos promoverão as viagens dos nossos descendentes, pois a continuar essa corrida desenfreada pelo progresso, eles, certamente, não navegarão em águas lóticas e muito menos em águas lênticas.
[EcoDebate, 25/02/2009]
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