Especialistas dizem que os incêndios na Austrália são alerta climático
Incêndio Florestal em foto de arquivo
‘Sabíamos quais eram as previsões e realmente vimos na prática’, disse Matthew Clarke, da Universidade Deakin
Os incêndios florestais que mataram 173 pessoas durante o fim de semana na Austrália servem de alerta e prenúncio das mudanças climáticas para a opinião pública e os políticos, disseram especialistas nesta terça-feira, 10.
O número de mortos depois da onda de incêndios mais grave da história australiana continua subindo. Alguns analistas dizem que, diante de tamanha tragédia, a iniciativa privada pode desistir de pressionar o governo por metas menos rígidas para a redução das emissões de gases do efeito estufa. Matéria de David Fogarty, da Agência Reuters.
“O que os incêndios florestais poderiam fazer é tirar o oxigênio do debate. Acho que a consciência da opinião pública está novamente voltada para a mudança climática. Sabíamos o que os cientistas haviam previsto, e realmente vimos na prática”, disse Matthew Clarke, da Universidade Deakin, em Melbourne.
“Pode ficar dificílimo para quem quiser metas mais fracas para a redução do carbono ou para os que querem seu adiamento apresentar esses argumentos para a esfera pública. A atmosfera pode ser mais hostil a esses argumentos”, disse Clarke, professor-associado da Escola de Estudos Internacionais e Políticos.
O fogo, que devastou comunidades na Grande Melbourne, foi alimentado pela onda de calor e pelo vento. No sábado, a temperatura na cidade atingiu o recorde de 46,4 graus Celsius.
O governo divulgou em dezembro um dossiê com suas propostas para a criação de um mercado de créditos de carbono, a fim de controlar as emissões que provocam o aquecimento global.
Por essa proposta, a Austrália deveria, em 2020, emitir 5 por cento de carbono a menos do que em 2000. Caso no final deste ano haja a definição de um novo tratado climático global, a meta seria ampliada para 15 por cento.
Mas o Partido Verde, citando os incêndios e as inundações no norte do país, pede metas mais rígidas.
Os verdes e dois políticos independentes são os fiéis da balança no Senado, e o governo do primeiro-ministro Kevin Rudd deve ter dificuldades em aprovar o pacote climático.
As grandes empresas, especialmente as concessionárias de energia que geram eletricidade em usinas a carvão, dizem que o esquema de créditos de carbono será custoso demais. O setor do gás natural liquefeito, que fatura bilhões de dólares em exportações, diz que pode até mesmo ter de se mudar do país.
Alguns analistas dizem que os incêndios eram previsíveis e que há anos os climatologistas alertam para a vulnerabilidade da Austrália por causa da elevação das temperaturas e redução das chuvas em grande parte do sul da ilha-continente.
Matéria da Agência Reuters, publicada no Estadao.com.br, terça-feira, 10 de fevereiro de 2009, 10:40 | Online
[EcoDebate, 10/02/2009]
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