O aquecimento global é um fato e não temos mais tempo a perder, por Henrique Cortez
[EcoDebate] O aquecimento global, como já noticiamos e informamos em diversas edições, é resultado da interação de inúmeros fatores, razão pela qual só poderá ser reduzido pela ação combinada de várias medidas de controle.
O desenvolvimento tecnológico, a capacidade de investimento, a solidez industrial e econômica permitirão que uns poucos paises (alguns dos mais desenvolvidos) possam enfrentar as perdas econômicas – financeiras decorrentes dos desastres climáticos. Pelo menos por algum tempo.
Os paises em desenvolvimento e os subdesenvolvidos sofrerão mais intensamente, com maiores perdas de vidas e maiores danos, em uma versão ainda mais aterrorizante do que crescentemente já acontece.
Mas, qualquer que seja o cenário, até o final do século XXI, todo o planeta estará sofrendo as conseqüências do aquecimento global, incluindo a desertificação de, pelo menos, 1/4 da superfície terrestre.
O argumento de que as medidas mitigadoras do aquecimento global e a redução das emissões de gases estufa implicariam em pesados custos econômicos é estúpido porque este custo será pago de uma forma ou de outra. A diferença é que nossos netos estarão pagando muito mais caro para apenas tentar sobreviver.
Ê evidente que a redução das emissões de gases estufa e a opção por um modelo sustentável implicarão em pesados custos sociais e econômicos, mas não temos outra alternativa para garantir a vida no planeta.
Além do mais já estamos enfrentando uma colossal crise econômica global, causada pela ganância especulativa de uns poucos. Milhões perderam os seus empregos, mais de trilhão (!!) de dólares já foram gastos para contornar os impactos desta especulação e ninguém acusou os gananciosos de “sabotar” o desenvolvimento econômico mundial. Os recursos necessários para mudar o insustentável modelo econômico, baseado na produção/consumo, sempre existiram, como agora ficou provado. Faltou e continua faltando vontade política.
Precisamos dar atenção ao cientista James Lovelock, autor da teoria de Gaia, segundo a qual a Terra é um organismo vivo, capaz de se regular automaticamente para garantir as condições de vida no planeta e que é incansável em reafirmar que a mudanças climáticas já alcançaram um ponto irreversível, ao qual a nossa civilização dificilmente sobreviverá. Recomendamos que leiam os artigos de James Lovelock:
A Terra ardente, artigo de James Lovelock
A vingança de Gaia, por James Lovelock
Freqüentemente dizemos ou ouvimos sobre os nossos compromissos para ‘salvar o planeta’. Lamento, mas não podemos salvar o planeta, porque nosso ego antropocêntrico não está à altura da tarefa. Nosso planeta já passou por incontáveis processos de mudanças climáticas naturais e pelo menos dois grandes eventos de extinção maciça. De um modo ou de outro a natureza retomou o processo da vida.
Estamos gerando processos não naturais que levarão o planeta a um novo processo de mudança radical, tal como já aconteceu antes por razões naturais. Estudos demonstram que ocorreram, pelo menos, dois grandes eventos de extinção maciça. Há 250 milhões de anos cerca de 90% da vida foi extinta e há 65 milhões, quando desapareceram os dinossauros, a extinção foi estimada em 60%.
Se nossa irresponsabilidade continuar, acabaremos com a natureza tal como ainda conhecemos. Mas a história do planeta demonstra que a natureza encontrará uma alternativa, porque, mesmo com vários episódios de extinções maciças, a natureza sempre recomeçou.
Não temos mais tempo a perder com muita falação e pouca ação. Nossa negligência condenará as próximas gerações a sobreviver em um planetinha hostil.
Henrique Cortez, henriquecortez@ecodebate.com.br
coordenador do EcoDebate
P.S.: Quem achar que estou exagerando pode ler as matérias das tags “aquecimento global” e “mudanças climáticas“, abaixo relacionadas e tirar suas próprias conclusões.
[EcoDebate, 28/01/2009]
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