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Notícia

Trabalhadores do Aterro Sanitário de Cuiabá estão expostos diariamente ao risco de contraírem graves doenças por causa da ‘irresponsabilidade social’

Essa é a conclusão de um estudo realizado pelo professor Roberto Naime, do Centro Universitário Feevale, de Novo Hamburgo (RS), Eduardo Fiqueiredo Abreu, analista ambiental,especialista e mestrando, atualmente secretário-adjunto de Meio Ambiente de Cuiabá, e, James Hassarden Abreu, engenheiro cívil. O estudo tratou de avaliar as condições de trabalho dos “catadores” da central de triagem de lixo. A pesquisa, realizada no final de 2007, teve como objetivo levantar a situação de segurança de trabalho e saúde daqueles trabalhadores. Matéria de Edilson Almeida, da Redação 24 Horas News.

E eis a dura verdade: os resíduos misturados, matéria orgânica junto com materiais perfuro-cortantes, cacos de vidro, latinhas de alumínio e garrafas PET, expõem os catadores a “riscos inaceitáveis” para conseguirem separar os resíduos que poderão ser transformados em renda ao serem destinados para atividades de reciclagem. Pelo menos 15% dos trabalhadores que integram a cooperativa dos catadores já sofreram perfuração com outros materiais. Segundo o levantamento, não existe coleta seletiva no município. Pouco mais de 5 % do lixo é triado e 1% do lixo gerado é encaminhado para a reciclagem.

A pesquisa mostra claramente que de um lado existe a falta de incentivo e organização por parte do Poder Público, que não estimula a coleta seletiva; de outro, a própria falta de consciência da população para o tratamento do lixo. “Mesmo com equipamentos de proteção individual (EPIs), existem formas e maneiras tecnologicamente adequadas de evitar os riscos a que estão expostos os trabalhadores da cooperativa” – dizem os pesquisadores, cujo trabalho acaba de ser publicado nas revistas “Estudos Científicos”, da Universidade Vale do Rio dos Sinos, em São Leopoldo (RS), e “Revista Tecnologia” da Universidade Luterana do Brasil, ULBRA, de Canoas (RS).

A implantação de sistemas de coleta seletiva, ainda que por bairros, começando pelos bairros de elite que tem maior quantidade de resíduos sólidos secos ou recicláveis e destinando estes resíduos sólidos apenas para a atividade de triagem, segundo os pesquisadores, “diminuiria enormemente os riscos de acidentes e otimizaria muito os resultados alcançados pela cooperativa, melhorando muito a renda e a qualidade de vida de todas estas populações envolvidas nestes processos”.

“Este raciocínio simples precisa ser exercido por todos os atores vinculados ao processo, e não existem razões de qualquer outra natureza que possam se sobrepor à melhoria de qualidade de vida, não apenas dos catadores, mas de todos. Isto porque a coleta seletiva, ainda que parcial na cidade de Cuiabá, muito contribuiria para a educação ambiental de toda a população e para a economia de recursos naturais, na medida em que aumentem as quantidades de resíduos reciclados” – frisa Roberto Naime.

O consumo de bebidas alcoólicas ajudam a aumentar a exposição dos riscos enfrentados pelos catadores. A pesquisa indicou que há um percentual expressivo de 9% que reconhece que a utilização de bebidas alcoólicas no local causa acidentes na atividade de triagem que já se constitui numa ocupação difícil e até mesmo perigosa para os trabalhadores da cooperativa, pelas condições em que ocorre. O consumo de álcool pelos catadores que trabalham no local é admitida por 52%. “É lícito interpretar que este consumo de álcool episódico admitido, seja permanente em praticamente metade dos catadores envolvidos com a central de triagem” – qualifica os estudiosos, que classificam a situação como sendo “muito delicada” e tratam da “necessidade premente de uma intervenção nos critérios de gestão integrada da situação”.

No trabalho, os pesquisadores também consideram fundamental “mais investimentos por parte do poder público na estruturação da cooperativa de reciclagem, que têm grande potencial gerador de novos empregos e, conseqüentemente de renda, sobretudo, para a população socialmente excluída”.

A situação dos catadores expostos é apenas um do rosário de problemas que cerca a questão do lixo em Cuiabá. Não é preciso falar nem mesmo do escândalo administrativo envolvendo a Qualix, empresa que faz a coleta na cidade e também em Várzea Grande, já alvo inclusive de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) realizada no ano passado pela Câmara, cujos resultados “ninguém sabe, ninguém viu” e que, por certo, são bastante duvidosos do ponto de vista da obrigação. O próprio estudo lembra que o aterro sanitário de Cuiabá, instalado ao lado do Garimpo do Mineiro, entre o bairro do CPA, e a Rodovia Manoel Pinheiro, que liga à Chapada dos Guimarães, não tem cobertura contra a chuva. Os ciclos de mosquito, principal vetor de doenças, são prevenidos por uma camada de argila depositada diariamente sobre os resíduos.

Matéria do 24 Horas News, 27/01/2009 – 15h24

[EcoDebate, 28/01/2009]

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