Nos EUA o número de crianças que tomam medicamentos para doenças crônicas subiu dramaticamente, por Henrique Cortez
[USA: number of children who take medicines for chronic diseases has risen dramatically, by Henrique Cortez]
O número de crianças que tomam medicamentos para a diabetes tipo 2, estreitamente ligada à obesidade, mais do que duplicou entre 2002 e 2005, para uma taxa de 6 casos para 10 mil crianças. Os médicos também identificaram grandes aumentos nas receitas para o colesterol elevado, asma, déficit de atenção e hiperatividade. Houve menor crescimento de prescrições de medicamentos para depressão e pressão arterial elevada. No Brasil, especialistas apontam crescimento no índice de pedra nos rins em crianças. Por Henrique Cortez, do EcoDebate.
Estes dados constam do artigo “Trends in the Prevalence of Chronic Medication Use in Children: 2002–2005“, publicado na edição de novembro da revista Pediatrics, November 2008, Volume 122, Issue 5 . O artigo retoma o debate se as crianças estão mais doentes ou se estão mais medicadas.
A pesquisadora Emily Cox, diretora da Express Scripts, Pharmacy Benefit Management (PBM), empresa que administra prescrições de medicamentos para seguros médicos, acredita que as crianças estão mais doentes. “Nós temos um monte de crianças doentes”, diz a autora. “O que temos visto em adultos, nós estamos vendo agora também em crianças.”
O estudo foi baseado nos registros de prescrição de quase 4 milhões de crianças por ano, com idades de 5 a 19, coberta pela Express Scripts. Ela diz que os resultados podem não se aplicar às crianças que são abrangidos por planos de saúde governamentais.
Os números do crescimento da prescrição de medicamentos para doenças crônicas, no período de 2002 a 2005, são alarmantes
Taxas de crescimento:
Diabetes: 103%
Asma: 47%
TDAH: 41%
Colesterol: 15%
Os números são preocupantes porque estes são casos crônicos, tratados com medicamentos de uso continuado, ou seja, estas são crianças que usarão medicamentos pelo resto das suas vidas.”
A maioria dos caso de aumento de medicação para diabetes, déficit atenção/hiperatividade e depressão foi observada em meninas. A diferença entre os sexos foi mais marcante na diabetes: enquanto o número de meninos, tomando medicação, aumentou 39%, o número de meninas que os utilizam aumentou 147%.
No caso brasileiro, a Folha Online, na sua edição de 05/11/2008, informa o crescimento dos casos de cálculo renal em crianças. Na matéria, Miguel Zerati Filho, chefe do Departamento de Uropediatria da Sociedade Brasileira de Urologia diz que “Não há um trabalho científico brasileiro que mostre esse fato, mas é possível afirmar isso com base em conversas com outros urologistas. Atendo uma criança por dia com pedra no rim. Alguns anos atrás, havia um caso por mês“.
Segundo a matéria, “as mudanças dos hábitos alimentares são uma das causas do aumento da incidência do problema. É que a dieta mais rica em alimentos industrializados e pobre em ingestão de água favorece a formação de cálculos.”
Refrigerantes e sucos artificiais, além de oferecerem sódio, contêm corantes, que também contribuem para a formação dos cálculos renais. “A comida muito rica em sal, como salgadinhos e hambúrguer, provoca aumento da eliminação do cálcio nos rins”, explica Nilzete Liberato Brezolin, presidente do Departamento Científico de Nefrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Para eliminar o sódio em excesso, o organismo também passa a eliminar mais cálcio. Esses cristais, que podem ser formados também por sais de cálcio, ácido úrico, estruvita ou cistina (um tipo de aminoácido), quando presentes em grande quantidade, podem se aglomerar e formar pedras.”
No estudo norte-americano, a autora, em suas conclusões, destaca que os motivos para o incremento da medicação em crianças permanecem em aberto. Ela reconhece que o tratamento medicamentoso é eficaz para tratar muitas condições crônicas em crianças, mas o risco de utilização indevida também existe. O uso continuado de medicamentos para doenças crônicas também aumenta o risco de exposição a reações adversas e problemas com interações medicamentosas.
No entanto, permanecem as questões relativas aos fatores que desencadearam esta “epidemia” de doenças crônicas. Muitas destas doenças são, reconhecidamente, associadas ao estilo de vida e a alimentação e, talvez, a expansão das doenças crônicas esteja ocorrendo na mesma proporção do aumento de um modo de vida cada vez menos saudável.
Para acessarem a íntegra do artigo “Trends in the Prevalence of Chronic Medication Use in Children: 2002–2005″, no seu original em inglês, clique aqui.
Abaixo transcrevemos o resumo do artigo, conforme publicado na revista Pediatrics. Para traduzir o texto utilize a barra de ferramentas de idiomas, no topo da matéria, logo abaixo do título e, na caixa de opções, selecione o idioma “Português”.
OBJECTIVE. Our goal was to estimate the quarterly prevalence of and evaluate trends for chronic medication use in children.
PATIENTS AND METHODS. A cross-sectional study of ambulatory prescription claims data from 2002 to 2005 was conducted for a nationally representative sample of >3.5 million commercially insured children who were 5 to 19 years old. Prevalence of chronic medication use was measured quarterly for antihypertensives, antihyperlipidemics, type 2 antidiabetics, antidepressants, attention-deficit disorder and attention-deficit/hyperactivity disorder medications, and asthma-controller therapy.
RESULTS. First-quarter 2002 baseline prevalence of chronic medication use per 1000 child beneficiaries ranged from a high of 29.5 for antiasthmatics to a low of 0.27 for antihyperlipidemics. Except for asthma medication use, prevalence rates were higher for older teens aged 15 to 19 years. During the study period, the prevalence rate for type 2 antidiabetic agents doubled, driven by 166% and 135% increases in prevalence among females aged 10 to 14 and 15 to 19 years, respectively. Therapy classes with double-digit growth in prevalence of use were asthma medications (46.5%), attention-deficit disorder and attention-deficit/hyperactivity disorder medications (40.4%), and antihyperlipidemics (15%). Prevalence of use growth was more moderate for antihypertensives and antidepressants (1.8%). Rates of growth were dramatically higher among girls than boys for type 2 antidiabetics (147% vs 39%), attention-deficit disorder and attention-deficit/hyperactivity disorder medications (63% vs 33%), and antidepressants (7% vs –4%).
CONCLUSIONS. Prevalence of chronic medication use in children increased across all therapy classes evaluated. Additional study is needed into the factors influencing these trends, including growth in chronic disease risk factors, greater awareness and screening, and greater affinity toward early use of drug therapy in children.
[EcoDebate, 27/12/2008]
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