Novo relatório cientifico diz que os EUA sofrerão severos impactos com as mudanças climáticas, por Henrique Cortez
A crença de que os EUA sofreriam poucos e mitigáveis impactos com as mudanças climáticas é um mito com mais de uma década e que se fixou no imaginário popular e nas políticas públicas, relacionadas ao aquecimento global, dos governos Clinton e Bush.
No entanto, um novo estudo diz que os Estados Unidos podem sofrer os efeitos das mudanças climáticas bruscas de forma mais intensa e mais cedo do que os norte-americanos supunham.
O relatório, encomendado pelo U.S. Climate Change Science Program, diz que dentro de algumas décadas, mais cedo do que se supunha, os EUA enfrentarão severos danos pelo aumento do nível do mar e com a desertificação do meio oeste, além de maiores e mais freqüentes secas no cinturão agrícola do país.
A pesquisa foi realizada por especialistas U.S.Geological Survey e da U.S. Climate Change Science Program, Columbia University’s Lamont-Doherty Earth Observatory, tendo sido apresentada esta semana, na reunião anual da União Geofísica Americana.
O novo relatório sintetiza as mais recentes evidências publicadas sobre quatro ameaças específicas para o século 21. Ele utiliza estudos não estão disponíveis para o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), cujo relatório, amplamente citado em 2007, explorou questões similares. “Este é o mais atualizado, uma vez que inclui pesquisas que sairam depois do IPCC consolidar os seus dados”, diz Edward Cooke, climatologista no Lamont-Doherty e um dos principais autores do novo estudo.
Os pesquisadores dizem que o IPCC estimou a elevação do nível do mar ao máximo de dois metros, até 2100, mas que este máximo pode ser ultrapassada, porque os dados mostram a aceleração do delelo. Entre outras coisas, há agora uma boa prova de que o gelo antártico está efetivamente perdendo massa global.
Quando da elaboração do relatório do IPCC, os cientistas ainda tinham como incerto se o delego, ao largo do oceano da Antártica ocidental, estava sendo compensado pela acumulação de neve no interior do continente.
O novo relatório confirma que a Antártica está perdendo massa e o degelo na Groelândia também está acelerando.
O relatório, no entanto, não estima quanto o mar poderia subir porque os pesquisadores não podem dizer que as taxas de degelo vão continuar estáveis ou crescentes. No entanto, avalia que a estimativa do IPCC foi conservadora.
No interior dos Estados Unidos, uma prolongada seca, que começou no sudoeste a cerca de 6 anos, poderia ser um prenuncio de algo a tornar-se mais freqüente até o final do século.
Os pesquisadores afirmam que a secas periódicas, ao longo dos últimos 1000 anos, têm sido impulsionadas pelos ciclos naturais na circulação do ar e que estes ciclos parecem ser mais intenso e persistente por conta do aquecimento global.
Entre as novas pesquisas citadas há a desenvolvida pelo cientista Lamont Richard Seager,em 2007, demonstrando como as variações de temperatura ao longo do Pacífico têm impulsionado, em grande escala, secas em toda a América do Norte ocidental.
A pesquisa avalia que duas outras alterações sistêmicas parecem menos iminentes, mas ainda são motivo de preocupação. Vastas quantidades de metano, um potente gás com efeito de estufa, estão escapando para a atmosfera a partir de sedimentos oceânicos, zonas úmidas e do derretimento do permafrost.
O aquecimento poderia desestabilizar ainda mais este escape para a atmosfera, potencializando os efeitos do aquecimento global, acelerando as mudanças climáticas.
A pesquisa avalia que esta potencialização parece provável, ao longo deste século, duplicando as emissões.
A pesquisa analisou, também, a contínua circulação do oceano Atlântico, que envia água morna em direção ao norte e ao sul, controlando o clima da Europa ocidental. Alguns cientistas dizem que esta circulação (circulação termoalina ou termosalina) poderia entrar em colapso com o derretimento polar e da groelândia, diluindo a água salgada.
Os pesquisadores consideraram este cenário improvável no curto prazo, mas alertam que a circulação termoalina perderia força, diminuindo de 25% a 30% até 2100.
Lamentavelmente não é um cenário de um filme de ficção cientifica [O dia depois de amanhã / The day after tomorrow, de 2004], mas evidências científicas cada vez mais consolidadas.
Os cenários se agravam a ponto de que a ONU e diversos pesquisadores já alertam para a necessidade de nos prepararmos para seguidos e severos desastres decorrentes das mudanças climáticas (COP 14: ONU alerta para o aumento da capacidade de resposta aos desastres climáticos e mudanças climáticas: A prioridade agora é evitar que os desastres naturais piorem a vida de milhões de pessoas)
Os norte-americanos acreditam que pouco sofrerão com o aquecimento global e as mudanças climáticas. Esta pesquisa indica que, mais uma vez, eles estão errados. E, mais uma vez, arrastarão o planeta para as conseqüências de seus equívocos.
Para acessarem a pesquisa “Synthesis and Assessment Product 3.4: Abrupt Climate Change“, no formato PDF, cliquem aqui.
Por Henrique Cortez, do EcoDebate, com informações de Kevin Krajick, do The Earth Institute at Columbia University
Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta que envie um e-mail para newsletter_ecodebate-subscribe@googlegroups.com . O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.
Fechado para comentários.