Comentário de Henrique Cortez, do Ecodebate, sobre a matéria Carne de porco contaminada da Irlanda pode ter ido para 25 países
Embutidos feitos de carne de porco dispostos em refrigerador de supermercado de Belfast, Irlanda do Norte. Foto da AFP
[EcoDebate] Sempre me surpreendo com hipocrisia européia. Sempre buscam argumentos protecionistas para boicotar os produtos agropecuários do terceiro mundo, mas sempre são “compreensivos” com os problemas originados da própria Europa. A matéria “Carne de porco contaminada da Irlanda pode ter ido para 25 países” é um bom exemplo deste modelo convenientemente ambíguo.
Os recentes casos de febre aftosa na Inglaterra ou da língua azul no norte da Europa são exemplos típicos deste comportamento com dois pesos e duas medidas.
Na Itália, no caso da muçarela contaminada [Ministra italiana ordena retirar lotes contaminados de muçarela de búfala. CE não adotará mais medidas contra muçarela após a resposta da Itália], a hipocrisia chega ao limite, tendo em vista a sua contaminação por dioxinas. Tudo indica que a contaminação do leite ocorreu devido a substâncias tóxicas acumuladas no terreno ano após ano, devido a uma péssima gestão do lixo na região. Mas, tudo bem, nada demais e não se fala mais nisso
No caso atual, na Irlanda, segundo a matéria, a Associação Irlandesa de Processadores de Carne Suína afirmou que a ração contaminada veio de um fornecedor e que a fonte foi isolada. E nada mais. Se fosse do seu interesse protecionista, a Irlanda estaria fazendo uma campanha internacional de denúncia contra o fornecedor, que, por ser irladês, permaneceu com sua marca sob sigilo.
Para que possam compreender melhor os riscos do consumo de um produto contaminado com dioxinas, transcrevo a descrição da Wikipédia (in http://pt.wikipedia.org/wiki/Dioxina), para que os leitores julguem por si mesmos:
A dioxina, é um organoclorado altamente tóxico, carcinogênico e teratogénico. É um dos poluentes orgânicos persistentes sujeitos à Convenção de Estocolmo.
As dioxinas são subprodutos não intencionais de muitos processos industriais nos quais o cloro e produtos químicos dele derivados são produzidos, utilizados e eliminados. As emissões industriais de dioxina para o meio-ambiente podem ser transportadas a longas distâncias por correntes atmosféricas e, de forma menos importante, pelas correntes dos rios e dos mares. Conseqüentemente, as dioxinas estão agora presentes no globo de forma difusa. Estima-se que, mesmo que a produção cesse hoje completamente, os níveis ambientais levarão anos para diminuir. Isto ocorre porque as dioxinas são persistentes, levam de anos a séculos para degradarem-se e podem ser continuamente recicladas no meio-ambiente.
A dioxina mais potente que se conhece é a 2,3,7,8-tetraclorodibenzo-p-dioxina (TCDD).
A exposição humana às dioxinas provém quase que exclusivamente da ingestão alimentar, especialmente de carne, peixes e laticínios. Exposições extremamente altas de seres humanos às dioxinas que acontecem, por exemplo, após exposição acidental/ocupacional, juntamente com experimentação em animais de laboratório, mostraram efeitos de toxicidade no desenvolvimento e reprodutiva, efeitos sobre o sistema imunológico e carcinogenicidade. Mais preocupantes ainda são dados de estudos recentes que mostram que as concentrações das dioxinas no tecido humano, na população de países industrializados, já estão – ou estão próximos – dos níveis nos quais os efeitos sobre a saúde podem ocorrer.
Henrique Cortez, henriquecortez@ecodebate.com.br
coordenador do EcoDebate
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