EcoDebate

Plataforma de informação, artigos e notícias sobre temas socioambientais

Notícia

Perdas no sistema de distribuição desperdiçam metade da água tratada de Natal

Essencial à vida e fundamental para a manutenção da biodiversidade, a água é hoje o centro de debates entre ambientalistas, governistas e organizações internacionais. Antes considerada um recurso renovável, já se sabe que a água será motivo de conflitos internacionais no século 21. O Brasil é o país mais rico em água no mundo, com 13,7% dos recursos hídricos, mas não tem preservado essa riqueza. Em média 40% da água tratada é perdida no percurso desde a fonte até as residências. Em Natal, o índice de perdas chega a 50%, segundo dados da própria Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern). O problema é causado principalmente pela desafagem da atual rede de distribuição. Matéria de Patrícia Britto, do Diário de Natal, RN, 07/12/2008.

A perda da água desde a produção (quando retirada das fontes) até o consumo é calculada pela diferença entre a macro-medição (água produzida) e a micro-medição (água consumida). Ou seja, a empresa distribui determinado volume de água, mas a medida do consumo é menor. Em Natal, segundo o diretor técnico da Caern, Isaías Costa Filho, o volume de água produzida é de 2.100 litros por segundo. Desse total, as perdas variam de 45% a 50%.

O engenheiro sanitarista Manoel Lucas Filho, com doutorado em engenharia de recursos hídricos e também diretor do Centro de Tecnologia da UFRN, explica que há uma proporção de perdas inevitável no transporte da água. Mesmo assim o limite ideal é que elas não ultrapassem 20%. E ele alerta que os dados atuais podem estar subestimados, já que as informações vêm das próprias empresas responsáveis pela distribuição.

As perdas são classificadas em físicas e administrativas (ou não-físicas). As primeiras ocorrem quando há vazamentos na rede de distribuição, adutoras ou ramais prediais, ou ainda durante operações de manutenção e limpeza, como lavagem de filtros ou reservatórios. Quando o vazamento é oculto, o desperdício é maior. Por exemplo, se uma tubulação se rompe embaixo de uma camada de asfalto, pode levar meses até que o vazamento seja percebido.

O principal motivo para as perdas físicas da água tratada é a desafagem da atual rede de distribuição. Segundo o diretor técnico da Caern, Isaías Costa Filho, 50% da rede em Natal existe há mais de 35 anos. O material usado na rede antiga é o cimento amianto, que já passou do prazo de garantia. ”O amianto é o nosso grande vilão, responsável por 90% dos vazamentos”, revela Isaías.

Outros fatores podem levar aos vazamentos na rede, como pressão em excesso, quando não há controle eficaz da distribuição de acordo com a demanda. Se numa região, por exemplo, a oferta é maior que a demanda, a pressão da água acumulada pode danificar as tubulações, provocando vazamentos. O engenheiro sanitarista Manoel Lucas explica que no Rio Grande do Norte há um descontrole da operação para controlar oferta e demanda, porque falta tecnologia e conhecimento da rede. ”A nossa operação é muito arcaica. Esse processo de desconhecimento da rede veio caminhando e nunca mudou. Isso leva à má distribuição do produto e ao desperdício”, disse ele.

Já as perdas administrativas são causadas por fraudes, como gatos ou ligações clandestinas. Nesse caso, o usuário consome a água sem que isso seja registrado e, conseqüentemente, não há cobrança. Pela falta de cobrança, é comum que não haja preocupação por parte dos usuários em economizar. Por isso, além de prejuízos financeiros, as perdas administrativas levam ao maior desperdício de água pelos consumidores.

Manoel Lucas atribui as perdas administrativas ao descontrole do abastecimento. E esse problema, segundo o engenheiro sanitarista, não tem boas perspectivas para ser resolvido a curto prazo. ”Para adequar a rede à modernidade, levaria pelo menos oito anos. Hoje a oferta ainda não está atendendo à demanda exigida, e para a Caern atender à demanda com a pressão mínima, esse desperdício vai aumentar muito mais. O sistema de abastecimento de água de Natal hoje é uma bomba de efeito retardado. Não temos boas previsões”, disse ele.

Lucas acredita que é preciso haver uma reestruturação e reforço da rede, o que ele considera uma tarefa hercúlea. ”Adequar a rede ao sistema moderno é sacrifício em termos financeiros e transtornos à população, principalmente no que se refere ao trânsito”. A má gestão na empresa responsável pela distribuição da água no Estado é outro problema na opinião do engenheiro. ”A Caern tem um corpo técnico bom, mas nunca pôde fazer pela empresa o que de fato ela necessita. Ao longo de três décadas, foi uma gestão desastrosa. Os erros acumulados da Caern são grandes demais”, disse ele.

As perdas de 50% dizem respeito apenas ao transporte da água desde a fonte até os imóveis. Nos cálculos não está incluso o desperdício que ocorre dentro das próprias residências, pelo qual o consumidor paga. Os exemplos mais comuns de desperdício que poderiam ser evitados são a demora desnecessária no banho, torneira aberta enquanto se ensaboa a louça, torneira pingando, vazamento de descargas e lavagem de carro ou calçada com mangueira, ao invés de balde.

Nota do EcoDebate: Lamentavelmente, a situação em Natal não é um caso isolado. Ao contrário, é exatamente a média do que acontece no país. Sobre o desperdício de água tratada no Brasil sugerimos que leiam, também “Desperdício diário de água é suficiente para abastecer 38 milhões de pessoas. Uso consciente da água pode evitar desperdício

[EcoDebate, 08/12/2008]

Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta que envie um e-mail para newsletter_ecodebate-subscribe@googlegroups.com . O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.