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A megacidade de São Paulo exporta lixo para cidades vizinhas

A macrometrópole e megacidade de São Paulo, com seus mais de 11 milhões de habitantes e 6,2 milhões de veículos, é também uma “macro-mega” produtora de lixo. Estima-se que cada paulistano jogue fora aproximadamente 900 gramas por dia. Parece pouco, se comparado ao americano, que produz 2,5 kg. Mas a soma disso, 15 mil toneladas por dia, resulta em montanhas de lixo, como a que se formou no aterro São João, em São Mateus, na zona leste da capital, que atingiu 155 metros – altura equivalente a um prédio de 40 andares – e desmoronou em agosto do ano passado.

Na opinião do especialista ambiental, consultor da ONU e presidente do Instituto Brasil Ambiente, Sabetai Calderoni, a construção de aterros representa mais um problema do que uma solução. “Esse modelo que temos hoje deveria atingir seu limite em um século, mas na cidade isso ocorre em apenas dez anos”, alerta.

Para Sabetai, se comparado ao lixão, o aterro sanitário é uma opção melhor. “Mas é uma péssima alternativa frente a outras saídas, como a reciclagem, por exemplo.” Do O Estado de S.Paulo, 06/12/2008.

GASTOS

De acordo com Calderoni, autor do livro Os Bilhões Perdidos no Lixo, o grande problema da cidade está no custo com o transporte de resíduos, que representa dois terços do total de R$ 500 milhões gastos por ano, entre a coleta e a destinação final dos detritos. O motivo principal é que, quando acaba a vida útil do aterro sanitário, é preciso construir outro mais distante do anterior.

“Surge um gasto enorme com caminhões e combustível só para enviar o material para outra cidade. É um problema econômico e ambiental”, explica, referindo-se ao envio de lixo para o aterro particular da Essencis, em Caieiras, na Grande São Paulo, que recebe cerca de 4 mil toneladas diárias de resíduos da capital. “Não há mais espaço para lixo nem para aterros em São Paulo, entramos em colapso. Um dia o aterro de Caieiras também se esgota.”

Conforme o supervisor operacional da Essencis, Fábio Zorzi Leme, o depósito de Caieiras tem previsão para funcionar até 2028, mas poderá ter sua vida útil ampliada. O modelo, banido na Europa, ainda é utilizado em países com grandes extensões de terra disponíveis como Canadá e Estados Unidos. Nesses casos, o lixo domiciliar recolhido em zonas urbanas é enviado por trem para aterros no interior.

“Enquanto novas áreas estão sob análise para utilização, o lixo pode continuar sendo enviado para Caieiras”, informa a Secretaria Municipal de Serviços de São Paulo. O prefeito eleito da cidade, Roberto Hamamoto, diz que “o único problema com o aterro é o forte odor que desvalorizou bairros do entorno”. Ele afirma que exigirá o cumprimento de normas ambientais, implantação de projetos sociais e mais impostos.

Além do aterro, há uma série de possibilidades para amenizar o problema do excesso de lixo na capital, como ampliar o programa de coleta seletiva e educação ambiental e instalar usinas de compostagem e de sistemas de redução de resíduos. Essas medidas estão previstas nos contratos de concessão e serão executadas de acordo com as prioridades definidas pela Prefeitura.

RECICLAGEM

Apesar dos esforços para diminuir a quantidade de resíduos enviada para os aterros sanitários, a coleta seletiva de lixo nem sequer foi instalada em todos os bairros de São Paulo. De acordo com a secretaria, hoje, dos 96 distritos do município, 74 são atendidos pelo sistema (um total de 3.500 toneladas de material reciclável por mês).

Hoje, 20% do lixo produzido na cidade pode ser reciclado, mas apenas 7% desse total é efetivamente recolhido para esse fim. Neste ano foram gastos R$ 500 mil com o serviço por mês. A estimativa é dobrar o investimento em 2009.

“O sistema ainda é muito caro para o orçamento da Prefeitura”, diz Ricardo Acar, presidente da concessionária responsável pelo recolhimento e destinação do lixo das zonas sul e leste da capital. Acar também afirmou que os gases de efeito estufa emitidos pela circulação dos caminhões de lixo não compensariam os benefícios provenientes da reciclagem.

A superintendente operacional da Essencis, Luzia Galdeano, explicou que a coleta seletiva pode prejudicar o trabalho nos aterros sanitários e que materiais com taxa lenta de decomposição, como o plástico, desempenham papel importante na estabilização e acomodação da montanha de lixo.

Volume total de resíduo industrial é desconhecido

O tratamento de resíduos industriais no Brasil dobrou entre 2004 e 2007 – o volume subiu de de 2,9 milhões de toneladas para 5,9 milhões de toneladas no período. Os dados são de um estudo da Associação Brasileira de Empresas de Tratamento de Resíduos (Abetre) e da PricewaterhouseCoopers. Mas não há informações sobre o total desses resíduos no País ou no Estado.

Segundo o gerente de Tecnologia de Solos, Águas Subterrâneas e Resíduos Sólidos da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), Giuseppe Michelino, o inventário dos resíduos cabe ao gerador. “O que fazemos é fiscalizar o gerenciamento desse material produzido pela indústria”, explica.

Os números gerais não são conhecidos porque muitas empresas depositam os detritos no parque industrial ou em aterros municipais e até clandestinos. Para o diretor da Abetre, Diógenes Del Bel, as tecnologias de tratamento têm avançado justamente sobre essas opções. “Fatores como legislação ambiental e exigências da matriz sobre multinacionais levaram ao crescimento do setor.”

Os aterros privados recebem 75% das sobras industriais tratadas do País, mas as pesquisas avançam para desenvolver outros modelos. “Há parcerias com universidades e empresas para buscar melhorias. Um dos projetos, com a Escola Politécnica, transforma em energia resíduos da produção de plástico”, afirma o vice-presidente do Instituto de Ciência e Tecnologia de Resíduos e Desenvolvimento Sustentável, Jorge Tenório.

O tratamento especializado é usado por grandes indústrias. As pequenas têm a opção da Bolsa de Resíduos, da Fiesp. Desde 2000, ela permite a oferta e compra online de sobras. “É uma política indutora de práticas ambientais corretas”, diz o coordenador da Bolsa, Ricardo Garcia.

Destinação adequada também significa descontaminar áreas com resíduo acumulado há mais de um ano, o passivo ambiental. “Em tempo de crise, as indústrias tendem a cuidar da geração diária de resíduos e o passivo deixa de ser prioridade”, diz o especialista em Direito Ambiental Alexandre Parigot.

[EcoDebate, 08/12/2008]

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