A crise financeira global e a necessidade de uma economia mais sustentável
Imagem: Stockxpert
A GM é o tipo de empresa assentada na matriz energética fóssil, no caso o petróleo, e que, mais dia menos dia, estará com os dias contados, sem contar os graves problemas ambientais resultantes deste tipo de energia.
Urge, pois, apostar numa nova economia que seja mais sustentável ecologicamente. Essa nova e outra economia deve se basear sobre uma nova matriz energética, sobre a criação de outro tipo de empregos. Além disso, deverá questionar as bases de compreensão do que seja riqueza.
Em termos energéticos, a humanidade estará passando da era do petróleo – altamente concentrada e concentradora, além de refém de seu gigantismo – para uma era em que a produção de energia se dará em escala descentralizada e com impactos menores sobre o ambiente. Jeremy Rifkin nos dá uma idéia do que está por vir.
“Estamos no início da terceira revolução industrial: no período dos próximos trinta anos, tudo mudará, como mudou quando o vapor foi substituído pela eletricidade. Desta vez, quem vencerá será a intergrid, a Internet da energia: uma rede elétrica interativa e descentralizada, que transformará milhões de consumidores em pequenos produtores de energia criando um sistema mais confiável, mais seguro e mais democrático. Os edifícios serão envoltos em fotovoltaicos e, em vez de sugar a energia, produzirão. Os motores dos automóveis poderão, por sua vez, transformar-se em minicentrais, os tetos dos pavilhões beberão a energia solar com seus painéis e a restituirão. Uma parte da eletricidade será consumida diretamente no local de produção, reduzindo a dispersão. É uma revolução radical que mudará toda a arquitetura do nosso sistema produtivo. E quem compreender isso primeiro guiará o novo salto industrial”.
Para Rifkin, o mundo tem pressa, pois “o aquecimento climático deve ser interrompido agora”. Isso explica a preocupação dele com Obama, que poderá ser absorvido pelo lobby das montadoras, ligadas à economia do petróleo, e perder a “radicalidade” que o momento exige.
Um argumento de Obama para apostar nas montadoras – o mesmo argumento vale também para o caso brasileiro – poderá estar, e certamente o está, relacionado à questão dos empregos. Razão mais que justa, pois em momentos de crise, de modo geral são os trabalhadores e, principalmente, os pobres que mais sofrem com as suas conseqüências, como já vimos em análises anteriores da crise financeira.
“É preciso encontrar maneiras de planejar a desaceleração econômica que será benéfica aos países centrais, e evitar a todo custo que esse caminho seja um desastre, com os horríveis impactos sociais causados pelo aumento do desemprego”, aponta o economista José Eli da Veiga.
Mas, não ofereceria a nova economia também oportunidades de geração de empregos? Com certeza sim, se depender das perspectivas entreabertas por Rifkin, mas também dos estudos realizados por Lester Brown e pela ONU.
Um estudo recente realizado pelo Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas (UNEP), Green Job – towards decent work in a sustainable, low-carbon world (Emprego Verde – para o trabalho decente em um mundo sustentável, de baixo carbono) mostra que as mudanças climáticas têm tudo para gerar milhões de empregos se houver um investimento estratégico por parte de corporações e governos em todo o mundo. O setor de energia eólica e solar, por exemplo, dispõe de potencial para gerar mais de oito milhões de postos de trabalho nas próximas duas décadas, segundo estimativas do UNEP. Diante desse quadro, novas funções serão criadas, e outras até mesmo perderão relevância, o que levará à extinção de alguns cargos dissonantes com a nova economia sustentável.
Também Brown, em seu novo livro – “Plan B 3.0: mobilizing to save civilization” – defende que, por meio do desenvolvimento e uso de energias renováveis, é possível criar novos empregos, conduzindo a economia para a sustentabilidade. Brown concorda com Rifkin quando afirma ainda que a humanidade precisa rever particularmente a matriz energética.
Novos nichos de empregos podem ser criados à medida que se entra na nova economia. “Com as fontes renováveis de energia em desenvolvimento há uma oportunidade enorme para criar postos de trabalho. Na Alemanha, divulgou-se que o número de postos criados por capacidade de produção de megawatt de energia elétrica, vinda de energia eólica ou solar, é dez vezes maior do que em usinas termoelétricas de carvão ou nucleares. Vejamos a situação dos Estados Unidos. Só na transição de fontes de energia, saindo dos combustíveis fósseis, a projeção é de sete milhões de empregos gerados”, prevê Brown, que há quase 40 anos se dedica ao tema.
O fundador do Earth Policy Institute defende também a necessidade de políticas econômicas para reestruturar taxas e pressionar o mercado a “contar a verdade ambiental”. “Uma das coisas que o mercado não faz é incorporar impactos indiretos da queima de combustíveis fósseis. Se reestruturarmos os impostos, abaixando o imposto de renda e aumentando a taxação sobre atividades ambientalmente destrutivas, podemos levar o mercado a dizer a verdade ambiental. Ao fazermos isso, a economia energética começará, muito rapidamente, a se reestruturar e responder aos sinais de preço do mercado”, sustenta Brown.
Um terceiro elemento a considerar é que os indicadores de riqueza hoje estão “obsoletos”, como observa José Eli da Veiga e requerem novos índices, mais abrangentes. “O PIB, como indicador de desempenho econômico, é uma coisa obsoleta, que só continua a ser usada devido a uma fortíssima inércia institucional e às dificuldades de se encontrar um substituto que supere suas deficiências. E é isso que também explica a precariedade do IDH, um índice sintético de desenvolvimento e não de crescimento. Ele resulta de uma média de três indicadores referentes à saúde, à educação e ao nível de vida material”. Implica em criar um índice de desenvolvimento que incorpora também a destruição dos recursos naturais.
Vale ainda destacar que tanto Lester Brown como José Eli da Veiga estão de acordo sobre outro aspecto: a introdução de políticas e mecanismos que desestimulem a produção de energias fósseis como forma de enfrentar o aquecimento global.
E por fim, mas não por último, remetemos novamente o leitor ao interessantíssimo artigo de André Gorz ao qual já fizemos menção em outros momentos, mas que agora se encontra disponível na sua íntegra. Ele ajuda a compreender a crise financeira e a urgência de pensar uma outra economia, assentada em outro paradigma de produção e de consumo.
(http://www.EcoDebate.com.br, 05/12/2008) publicado pelo IHU On-line, Conjuntura da Semana. Uma leitura das ‘Notícias do Dia’ do IHU de 12 a 18 de novembro de 2008 [IHU On-line é publicado pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]
Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta que envie um e-mail para newsletter_ecodebate-subscribe@googlegroups.com . O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.