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Um monumento à estupidez plantado pela desinformação vai desaparecer no Paraná, artigo de Norberto Staviski


Pinus elliottii é uma espécie de pinheiro originária do Novo Mundo. Faz parte do grupo de espécies de pinheiros com área de distribuição no Canadá e Estados Unidos da América (com excepção das áreas adjacentes à fronteira com o México). Existem muitas áreas de reflorestamento com esse tipo de pinus na América do Sul, especialmente na região sul do Brasil. Foto e informação da Wikipédia.

[Gazeta Mercantil] Quem desce em direção ao litoral paranaense, no lado esquerdo da BR-277, em pleno contraforte da majestosa Serra do Mar, dá de cara com uma imensa plantação de Pinus elliottii, a conhecida conífera que tomou conta de todos os projetos de reflorestamento do Sul do País por causa de sua alta produtividade e facilidade com que cresce em qualquer tipo de terreno. O que faz ali, em meio a um bioma superprotegido de Mata Atlântica, e numa das áreas mais bem preservadas deste tipo de vegetação no País, não dá para entender. Afinal, quem derrubou a cobertura dos morros, limpou a delicada floresta original e plantou com ousadia estas árvores alienígenas numa reserva garantida e bem preservada de biodiversidade tão cara aos ambientalistas?

Esta história começou há cerca de 40 anos, na época dos generosos incentivos fiscais para a implantação de projetos de florestas plantadas que deveriam abastecer a futura indústria de papel, celulose, siderúrgicas e madeira. Quando se têm recursos fartos, alguma pressão econômica, um governo com autoridades ambientais despreparadas e, no final da fila, empresários sem visão de longo prazo, tem-se também a receita para que se cometam alguns erros colossais. Há vários no Paraná, mas este ficou mais evidente porque é visível por todos a partir da movimentada estrada que leva ao porto de Paranaguá.

A boa notícia é que mais este monumento à estupidez plantado pela desinformação deverá desaparecer. Uma empresa dinamarquesa adquiriu em 2000 os 9 mil hectares da Fazenda Arraial, uma área de preservação permanente em Morretes, onde está o projeto, e resolveu fazer voltar os 1.300 hectares de pinus ali plantados a sua forma original de Floresta Atlântica. A área toda, por sinal, faz divisa com o Parque Estadual do Marumbi e com o Parque Estadual do Pau Oco e, nas suas fronteiras, há também os exemplares de uma floresta de transição, a que existe entre a Mata Atlântica e floresta ombrófila mista, onde há pinheirais nativos (Araucaria angustifolia), também ameaçados de extinção. O Instituto Ambiental do Paraná (IAP), já deu sua autorização para a iniciativa e consta que esta é uma das primeiras autorizações “do bem” da instituição, ou seja: vai ser dada licença para um projeto que irá recuperar, em vez de causar danos à natureza, mesmo que sejam mínimos, algo que o IAP não está acostumado a fornecer no trato com empresas.

Vai ser um trabalho lento e difícil. As árvores estão de bom tamanho e a tecnologia para sua retirada é dispendiosa. Há de se ter muito cuidado na criação de acessos para a retirada das toras para não se comprometer partes boas do bioma. Os exemplares de pinus nem para produzir papel e celulose servem mais. Agora é para madeira serrada, sua melhor utilização. Depois, este reflorestamento tem uma capacidade incrível de se regenerar, o que significa dizer que, se simplesmente forem retiradas as árvores, milhares de árvores vão rebrotar ou nascer de sementes ainda existentes pelo chão, o que invalidaria a área como bioma.

Resolver isso vai exigir um trabalho braçal duríssimo durante pelo menos cinco anos, porque todo brotinho de pinus que nascer terá de ser arrancado do solo um a um para que a mata nativa comece seu processo de regeneração e uma floresta com espécies locais também começe a ser plantada. Se deixar o pinus agir sozinho, ele ganha esta parada e logo a conífera tomará conta do local novamente. A empresa dinamarquesa está disposta a assumir a empreitada porque não há realmente muito o que fazer na sua Área de Preservação Permanente. A venda ou beneficiamento das coníferas certamente vai pagar o custo da operação devido ao alto valor que a madeira possui hoje em dia, quando 80% da madeira consumida para fins industriais no País provém de plantações florestais de pinus ou de eucalipto. Perder, evidentemente, ela não vai. Mas quem vai ganhar realmente será a paisagem da Serra do Mar e o meio ambiente, que vão assistir a uma cicatriz se fechar e não deixar marcas se o projeto for bem executado.

NORBERTO STAVISKI* – Correspondente em Curitiba

* Artigo originalmente publicado no Gazeta Mercanti, 28/11/2008

[EcoDebate, 29/11/2008]

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