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Notícia

Cultura florestal no Brasil dificulta percepção da importância ecológica do bioma Pampa


Pampas. Foto: Eridiane Lopes

Falta de políticas públicas específicas para estudo e proteção desse bioma destoa do conhecimento existente e de suas potencialidades para o desenvolvimento sustentável

Pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), reunidos na 4º reunião Ciência, Tecnologia e Sociedade, alertaram nesta quinta-feira, 27 de novembro, para a falta de políticas públicas destinadas ao bioma Pampa, que, segundo o grupo, é um dos mais ameaçados do país. Eles acreditam que o desconhecimento sobre a importância ecológica desse bioma se deve a uma “cultura eminentemente florestal no Brasil”.

Integrantes do grupo de trabalho sobre a flora do Pampa, Ilsi Boldrini, Carlos Nabinger, Rogério Both e Eduardo Vélez Martin, todos pesquisadores da UFRGS, frisaram que a carência de políticas de apoio específicas para o bioma Pampa destoa do conhecimento existente e de suas potencialidades para o desenvolvimento sustentável.

Durante o grupo de trabalho, foi ressaltada a inexistência de editais ou programas de pesquisa para este bioma, ao contrário do que vem ocorrendo para a Amazônia, Mata Atlântica e Caatinga. Foi unânime o entendimento de que a falta de apoio financeiro para as iniciativas científicas tem comprometido a cooperação com os países vizinhos que compartilham o mesmo bioma.

Potenciais do Pampa

Os campos do bioma Pampa correspondem à porção norte de um dos ecossistemas pastoris naturais mais importantes do planeta, que inclui, além do Brasil, o Uruguai e a Argentina.

A pesquisadora Ilsi Boldrini ressaltou que existem mais de 2.000 espécies de plantas, a maioria herbáceas, constituindo um patrimônio genético notável até então negligenciado. Centenas destas espécies têm valor forrageiro que permite o desenvolvimento de uma pecuária ecológica, baseada na conservação do campo nativo, ao contrário de outros sistemas baseados na produção com espécies forrageiras exóticas e dependentes de insumos.

Esta condição singular representa uma grande oportunidade para o desenvolvimento sustentável da região, mas que infelizmente não tem sido devidamente reconhecida e valorizada, defendem.

Dados sobre a produção pecuária baseada nas espécies forrageiras nativas do bioma foram apresentados por Carlos Nabinger, da Faculdade de Agronomia da UFRGS. Pesquisas e experimentos de campo realizados nos últimos trinta anos comprovam que é possível produzir carne mais saudável, e com características diferenciadas, a partir do manejo do campo natural e ao mesmo tempo aumentar a renda, inclusive com maior competitividade frente a outras opções econômicas.

Várias formas de aproveitamento econômico sustentável foram apontadas como alternativas para o desenvolvimento econômico do bioma, como o turismo rural e ecológico, a utilização de espécies ornamentais e medicinais, dentre outras.

Os biólogos Rogério Both e Eduardo Vélez apresentaram um panorama geral sobre o grau de insuficiência de unidades de conservação neste Bioma, com apenas 3,22% protegido, sendo apenas 0,63% em unidades de proteção integral, muito distante da meta de 10% defendida pela Convenção sobre Diversidade Biológica.

Confira a seguir as propostas elaboradas pelo grupo de trabalho, para a cooperação científica envolvendo a flora e unidades de conservação no bioma Pampa:

1 – Elaborar a criação de um programa de cooperação regional em torno da produção do conhecimento multidisciplinar da biodiversidade;

1.1 – Aproximar grupos que desenvolvem mapeamentos e inventários de espécies em iniciativas para gestão cooperativa e compartilhada;

1.2 – Desenvolver iniciativas regionais para formação e intercâmbio de pesquisadores nas áreas de taxonomia, ecologia da vegetação e produção sustentável;

1.3 – Fomentar a cooperação de grupos que atuam na área de ecologia de paisagem e gestão e planejamento territorial.

2 – Identificar lacunas de conservação da biodiversidade supranacionais ou trans-fronteiriças e estudos sobre espécies com distribuição compartilhada.

3 – Promover a congregação de informações e de bases de dados sobre a biodiversidade e de iniciativas de pesquisa, conservação e manejo do bioma Pampa.

4 – Promover iniciativas de divulgação científica e de educação e formação profissional em torno da biodiversidade do Bioma.

5 – Desenvolver estratégias de comunicação de massa sobre a importância da biodiversidade para diferentes setores da sociedade.

6 – Estabelecer uma harmonização técnica sobre as denominações para as unidades de conservação de diferentes categorias e objetivos.

7 – Estabelecer cooperação para propor políticas de promoção de iniciativas de produção e desenvolvimento sustentável compatíveis com a conservação da biodiversidade e baseadas na vocação natural do Bioma.

Matéria do Jornal da Ciência, SBPC, JC e-mail 3651, de 28 de Novembro de 2008.

[EcoDebate, 29/11/2008]

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