EUA: Falta de crédito ameaça promessa de priorizar energias renováveis
Para colocar política em prática, governo americano depende, em larga escala, da capacidade das companhias de geração e de distribuição de energia de financiar novos e volumosos investimentos necessários
O presidente eleito dos EUA, Barack Obama, prometeu promover energia limpa e renovável, reiterando que sua “Presidência vai marcar um novo capítulo na liderança americana em mudança climática”. Mas as elétricas do país parecem subitamente estar com dificuldade para transformar essa promessa em realidade. Por Rebecca Smith, do The Wall Street Journal.
“O financiamento empacou”, diz Ezra Green, diretor-presidente da Clear Skies Solar, uma empresa de energia solar de Nova York. A Clear Skies cancelou recentemente planos de construir uma megausina de energia solar no Deserto de Mojave, na Califórnia, por falta de financiamento, apesar de uma elétrica do Estado ter concordado em comprar toda a produção.
“Cancelamos o pedido de painéis solares”, diz Green. Abaladas pela crise financeira, empresas de geração de energia dos EUA estão cortando orçamentos e cancelando projetos de eletricidade limpa. O crédito para novas usinas de energia nuclear parece incerto. Algumas empresas do setor estão com dificuldades até para suprir suas necessidades de dinheiro no curto prazo.
Forjar uma política energética que propicie a geração de grande quantidade de energia eólica, solar e nuclear continua a ser uma das prioridades de Obama e foi um dos grandes temas de sua campanha. Mas colocar essa política em prática depende, em larga escala, da capacidade das companhias de geração e de distribuição de energia de financiar os novos e volumosos investimentos necessários.
Há apenas poucos meses, o setor energético estava na crista da onda, papando lucros gordos com a alta tanto na demanda quanto nos preços da eletricidade. As ações do setor dispararam. Muitas empresas acumularam linhas de crédito a juros baixos que as ajudavam a financiar grandes projetos de infra-estrutura.
Mas essas condições evaporaram quando a crise financeira se ergueu nos últimos meses. As ações despencaram. O enfraquecimento econômico arrefeceu a demanda por eletricidade. Energéticas, que são o terceiro maior tomador de empréstimos, atrás do governo e da indústria de serviços financeiros, não podem mais contar com tanto crédito barato.
Muitas empresas de energia estão com problemas para rolar dívidas e usaram as linhas de crédito para manter dinheiro em caixa e evitar depender dos mercados financeiros desfavoráveis. A Calpine, uma geradora do Texas, por exemplo, está juntando dinheiro para se proteger até 2011. Suas ações caíram 60% este ano.
Um das primeiras medidas tomadas pelas empresas foi o corte de projetos de energia renovável que seriam a vanguarda do novo futuro energético dos EUA.
A Duke Energy cortou pela metade um plano de investimento de US$ 100 milhões pelo qual ela iria alugar espaço nos telhados de residências e empresas. O plano era instalar painéis solares da Duke para injetar eletricidade diretamente na rede de transmissão. Sob pressão de autoridades preocupadas com o custo, porém, a Duke cortou o projeto para cerca de 4 mil telhados na Carolina do Norte. Ela também está engavetando um projeto de energia eólica de US$ 400 milhões que planejava executar com um sócio.
A Public Service Enterprise Group, a maior distribuidora de energia do Estado de New Jersey, anunciou que vai cortar o orçamento para investimentos de capital no ano que vem em 14%, para US$ 1,55 bilhão, uma redução de US$ 325 milhões. “Os mercados estão difíceis e, por isso, estamos ajustando nosso padrão de gastos”, diz Ralph Izzo, diretor-presidente da companhia.
O FPL Group, um dos maiores produtores de energia eólica do país, informou que está cortando as despesas de capital em projetos de geração da ordem de US$ 1 bilhão em 2009, reduzindo em 27% a capacidade dos projetos planejados.
E uma das maiores empresas de geração de energia do país, a American Electric Power, informou que espera cortar as despesas de capital em 23%, para cerca de US$ 2,6 bilhões em 2009, com mais da metade dos cortes sendo em gastos ambientais. Ela planeja adiar a instalação de equipamento de controle de poluição em usinas termelétricas.
Entre os grandes defensores da energia renovável nos EUA estão as pequenas empresas que desenvolvem projetos eólicos ou solares e vendem a produção para as grandes distribuidoras. Esses projetos eram investimentos atraentes porque muitos deles podiam receber créditos fiscais. Mas muitos dos investidores que procuravam esses incentivos desapareceram por causa da queda das bolsas e do congelamento do crédito.
John Eber, diretor de investimentos em energia renovável da JP Morgan Capital, disse que sua empresa investiu US$ 1,7 bilhão e levantou outros US$ 2,8 bilhões para 43 fazendas de geração eólica e um projeto de energia solar entre 2003 e 2007. Mas alguns dos grandes investidores, como Wachovia, Lehman Brothers e American International Group, saíram de cena. Os investimentos de portfólio em energia renovável devem cair 20% este ano, para US$ 4 bilhões, estima Eber.
Até os planos de construir uma nova geração de reatores nucleares nos EUA enfrentam futuro incerto. Há alguns meses, muitas empresas faziam fila para participar do que parecia ser a revitalização da energia nuclear no país, expandindo um setor considerado parte importante da redução de emissões de dióxido de carbono.
Mas os preços de aço, concreto e equipamentos de construção subiram ao mesmo tempo em que a capacidade das empresas de obter financiamento ficou reduzida. Os juros dobraram ou quadruplicaram em relação a dois anos atrás.
A aprovação da legislação para gases do efeito estufa daria um incentivo à energia nuclear porque poderia aumentar os custos de geradores que queimam combustíveis fósseis como carvão.
Mas muitos executivos e analistas do setor agora acreditam que o Congresso vai abafar leis de meio ambiente por temer que elas possam aumentar o preço da eletricidade para os consumidores.
Matéria do The Wall Street Journal, publicado no Valor Econômico, 25/11/2008
[EcoDebate, 26/11/2008]
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