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Notícia

Livro sugerido: O Ecologismo dos Pobres, de Joan Martinez Alier

O Ecologismo dos Pobres: Uma reflexão sobre economia ecológica, por Arnaldo Sampaio de Morares Godoy

O Ecologismo dos Pobres estimula o debate em torno dos motivos da proteção ambiental. De autoria de Joan Martinez Alier, que redigiu também prefácio para a edição brasileira, o livro inventaria, classifica e problematiza as correntes do ecologismo. Identifica motivos de percepção ingênua e faz um culto à vida silvestre. Apresenta segunda vertente, que prega um evangelho da ecoeficiência, em favor do desenvolvimento sustentável. Identifica um terceiro grupo, vinculado à justiça ambiental e ao ecologismo dos pobres, e que é ativo nos conflitos ecológicos distributivos. Nesse último grupo poderíamos inserir Chico Mendes e sua luta pelos seringueiros do Acre.

O culto à vida silvestre é leitura do problema ecológico centrada na preservação pura e simples de natureza idílica. Não se pronuncia sobre a industrialização e a urbanização; propõe uma bambificação da natureza. O credo da eficiência ocupase de problemas de manejo sustentável, do uso prudente dos recursos naturais; a internalização das externalidades negativas é o mote desse pragmatismo ambiental. O ecologismo popular dispensa o discurso ambientalista convencional, preocupado que está com problemas de sobrevivência e de vida decente.

O ecologismo popular propõe reflexão sobre uma economia ecológica. Questiona-se lugar comum de péssimo gosto, e que insiste que muitas vezes se é muito pobre para se ser verde. Martinez defende visão sistêmica das relações entre economia e meio ambiente, sem cair na pieguice do ambientalismo escatológico. Engendra meios de traçar um perfil metabólico das economias, a partir de conflitos ecológicos distributivos e respectivos discursos de valoração. Teorizam-se o consumo e o modo como a desmaterialização das economias, a ecologia industrial e a aplicação na economia das empresas influem na macroeconomia ecológica. O ecologismo popular ocupa-se também dos impostos pigouvianos, especialmente com base na tese de Salah El Serafy, para quem é necessário que se esverdeie o PIB; isto é, as rendas provenientes da comercialização de um recurso não renovável devem ser apenas parcialmente alocadas no montante do PIB, desprezando-se a descapitalização que decorre da perda do capital natural não renovável.

Martinez retoma temas da literatura marxista, a exemplo do fetichismo das mercadorias, avançando para um fetichismo de mercadorias fictícias, que decorre de métodos de valoração contingente. Martinez procura fortalecer nexos entre marxismo e economia ecológica. Conceitos de mochila ecológica, capacidade de carga e pegada ecológica são ilustrados com casuísmo muito rico, a exemplo dos movimentos de justiça ambiental, nos Estados Unidos e na África do Sul. O superfund, tal como engendrado pela criatividade normativa norte-americana, assemelha riscos incertos a passivos ambientais. A dívida ecológica, que fraciona o mundo em norte e sul, qualifica historicamente um intercâmbio ecologicamente desigual. É nesse campo que Martinez pretende que nós pobres transitemos.

O ecologismo dos pobres é movimento que se opõe à carcinicultura. Defende manguezais. Opõe-se à captura de tartarugas, à mineração desordenada do ouro, à prospecção megalomaníaca do petróleo, à biopirataria. Plantações não são florestas. O conhecimento local não é monopólio dos laboratórios; não há direitos indiscutíveis para a simplificação da complexidade.

Nesses tempos de literatura de ambientalismo apologético e oportunista, o livro de Martinez é aviso e convocação. Convoca para que se problematize o meio ambiente em dimensão contemporânea e não futurológica. E avisa que nesse campo não há espaço para a digressão imaginária de um mundo que não existe mais. Ensina-nos, porém, que nunca é tarde para se ser verde.


O Ecologismo dos Pobres
Joan Martinez Alier
Tradução: Márcio Waldman
Editora Contexto, 2007, 384 páginas, R$ 53,00

Fonte: Revista Desafios do Desenvolvimento, IPEA

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[EcoDebate, 21/11/2008]

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