Embrapa cria programa para medir impacto de agrotóxicos no solo
A Embrapa Meio Ambiente vai colocar à disposição, no início de 2009, o primeiro software nacional que calcula o impacto ambiental do uso de agrotóxicos no solo. Inédito no Brasil, o programa é uma resposta ao decreto federal número 4.074, de 2002, que determina a realização de uma avaliação de riscos desses produtos na natureza.
Desenvolvido em parceria com a Fatec Botucatu, responsável pela conversão dos dados matemáticos em programa, e pela Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp, o software consumiu dois anos de pesquisas e um investimento de R$ 60 mil, desembolsados integralmente pela Embrapa Meio Ambiente. Por Bettina Barros, de São Paulo, no Valor Econômico, 21/11/2008.
De acordo com Claudio Spadotto, chefe-geral da Embrapa Meio Ambiente, o novo produto propiciará um avanço nas análises deste tipo. Isso porque serão incorporadas, pela primeira vez, informações sobre solo e clima. Hoje, o governo tem condições de aferir apenas a qualidade do agrotóxico, mas não o seu impacto após a aplicação no solo.
Ainda sem nome, o software será oferecido gratuitamente no site da Embrapa Meio Ambiente, a partir de janeiro. Nesta primeira fase do projeto, o programa calculará os riscos que os agrotóxicos podem causar à água subterrânea (como lençóis freáticos e poços artesianos) e à água superficial (lagos e açudes), de acordo com o tripé de informações sobre o agrotóxico, o solo onde ele será aplicado e o regime de chuvas da região. Baseado em modelos matemáticos e nos cenários agrícolas, o programa estimará o potencial de contaminação química da água, em qual concentração e se ela é tóxica para plantas, animais e consumo humano.
O público alvo é o próprio governo – personificado no Ministério da Agricultura, no Ibama e na Anvisa -, a quem cabe fazer os registros e as renovações de produtos agrotóxicos no país. Mas os fabricantes e os engenheiros agrônomos vinculados a produtores rurais podem lançar mão da ferramenta.
“Não temos o poder de impor a sua utilização, isso é uma decisão de política pública. Mas o software sistematiza a rotina e os procedimentos e amplia a análise”, diz Spadotto. “Com as novas informações, será possível antecipar problemas e os fabricantes poderão modificar e, eventualmente, até abortar o desenvolvimento de alguns agrotóxicos.” O cálculo, diz o pesquisador-chefe, é muito próximo do cenário real no campo. “Se errar, é para mais. O programa é conservador.”
Dependendo da aceitação do mercado (e das verbas), a Embrapa Meio Ambiente pretende fazer atualizações no programa para incluir outros aspectos importantes de impacto ambiental no campo – além da contaminação da água, o uso contínuo de agrotóxicos atinge diretamente mamíferos e aves. “Não estamos apregoando o uso de agrotóxicos”, explica Spadotto. “Simplesmente partimos do pressuposto que usamos muito agrotóxico no Brasil devido ao tipo de agricultura feita aqui”.
Trata-se de um mercado encorpado: a previsão é de que o país fechará o ano com vendas de agrotóxicos de R$ 8,5 bilhões, uma alta de 35% frente a 2007. Cerca de 30 mil toneladas desses produtos, capitaneados pelos fungicidas, herbicidas e inseticidas, são vendidas a cada ano. Segundo Spadotto, ainda não existe no país um trabalho de monitoramento sistemático de contaminação por agrotóxico.
[EcoDebate, 22/11/2008]
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