Nuvem de poluentes, com 3km de espessura, cobre a Ásia e mata ao ano 340 mil, diz ONU
Imagem da nuvem de poluição na Ásia, em foto da NASA, no Terradaily
Nuvem gigante mascara efeitos do aquecimento. Mas camada de fuligem sobre a Ásia multiplica mortes por problemas pulmonares e prejudica a agricultura
Uma nuvem de 3 quilômetros de espessura formada por fuligem e outros poluentes está escurecendo grandes cidades da Ásia, matando milhares de pessoas e prejudicando a agricultura, mas ao mesmo tempo protege a região dos piores efeitos do aquecimento global, informou ontem a Organização das Nações Unidas (ONU). A imensa coluna de fumaça formada por emissões de fábricas e carros e incêndios contém partículas que refletem os raios do Sol, atenuando o efeito estufa. Matéria das Agências AP e Reuters, Pequim.
“Uma das conseqüências da nuvem marrom tem sido mascarar a natureza real do aquecimento global”, explicou Achim Steiner, chefe do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. As declarações foram dadas no lançamento, em Pequim, de um novo relatório sobre o fenômeno, resultado de um estudo que durou sete anos.
O volume de luz que chega à Terra através da nuvem caiu cerca de 25% nas áreas mais afetadas. Se o véu marrom se dispersar, as temperaturas globais podem subir até 2°C.
Ao mesmo tempo que a sufocante nuvem de poluentes regula a temperatura, a poluição acelera o aquecimento em algumas das áreas mais vulneráveis. O complexo impacto da nuvem, que tende a esfriar áreas próximas da superfície da Terra e aquecer o ar em altitudes elevadas, estaria provocando o encurtamento da temporada de monções na Índia e intensificando as enchentes ali e no sul da China.
A fuligem também é depositada nas geleiras, um dos problemas que mais preocupam ambientalistas e políticos, pois elas alimentam os maiores rios da Ásia e fornecem água para bilhões de pessoas.
Segundo o relatório, cerca de 340 mil pessoas morreram prematuramente por causa de problemas nos pulmões e no coração ligados ao fenômeno. Outras milhares correm mais risco de desenvolver câncer.
PRODUÇÃO AGRÍCOLA
Os cientistas estudam ainda o impacto do fenômeno na produção agrícola. Entre os problemas esperados, conta-se uma diminuição das safras em razão de haver menos energia para a fotossíntese e por causa de níveis elevados de concentração de ozônio.
Como consolo, no entanto, o relatório aponta que, se o mundo parar de emitir as partículas responsáveis pela formação da nuvem, o fenômeno desapareceria dentro de semanas, ao contrário de muitos dos resistentes gases do efeito estufa.
Os ingredientes da nuvem não divergem muito daqueles encontrados na fumaça que envolve muitas das grandes cidades do planeta, em particular as dos países em desenvolvimento, como a Cidade do México.
Há nuvens marrons semelhantes sobre partes da Europa, da América do Norte, da África e da bacia Amazônica. Os cientistas, porém, concentraram-se por enquanto somente na nuvem asiática, que se estende da península Arábica ao Oceano Pacífico.
Matéria das Agências AP e Reuters, publicadas no O Estado de S.Paulo, 14/11/2008.
[EcoDebate, 15/11/2008]
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