É tempo da piracema. A Vida agradece, artigo de Jorge Gerônimo Hipólito
Piracema, foto CapitalNews
O fenômeno da piracema teve início em 01 nov 08 com término previsto para 28 fev 09. Os pescadores devem estar atentos para as normas, pois elas são criadas com o objetivo único de se manter a vida em equilíbrio. Na teoria tudo é maravilhoso, mas na prática, interesses mil são contrariados, principalmente, aqueles decorrentes do uso do cachimbo, ou seja, “farinha pouca meu pirão primeiro”. Curioso, percebem que peixe tem a ver com pirão. Pois é, logo haverá apenas farinha, vez que os peixes…
Tempos atrás, os peixes subiam os rios para a desova e as águas eram límpidas e até sombreadas, em especial no período da tarde. Os peixes frugíveros descansavam sob a sombra do ingá, do jenipapeiro, da canelinha, do tarumã e ali se alimentavam. Ao mesmo tempo os peixes insetívoros também paravam por ali, pois, os frutos amadurecidos eram apreciados pelos insetos, esses, por circunstâncias alheias as suas vontades acabavam também se tornando alimentos e, assim por diante inclusive os peixes onívoros. E tudo ia tão bem, até que o homem resolveu aumentar o espaço para assim expandir a produção e levou de roldão as matas ciliares. Educação ambiental seria solução? Não! Não para os homo sapiens, esses, não aceitam imposição de normas, pois se consideram soberanos e ponto final. Bem, nesse caso nos restam as lembranças e as saudades dos bons tempos. Por conta disso transcrevo abaixo dois momentos importantes de minha vida e peço a vocês para que viagem comigo na imaginação, evidentemente, cada qual com sua tela em particular. Eu garanto que a viagem será maravilhosa.
O Rio Turvo e o Rio Grande já foram ricos em peixes e não tem como não sentir saudades. Certa vez, década de oitenta, quando navegávamos no Rio Turvo fomos surpreendidos pelo fenômeno da piracema. Iniciamos a navegação nas imediações da ponte que liga Olímpia a Tabapuã e o término seria lá na Corredeira do Tiãozinho – Palestina. Nesse trecho navegaríamos por aproximadamente dezenove horas, isto é, das 09h00min de hoje as 04h00min de amanhã. (infelizmente a gente se aposenta). Na medida em que descíamos o rio e, principalmente, quando fazíamos as curvas éramos surpreendidos por dezenas ou centenas de lambaris que saltavam sobre a embarcação. Muitos caiam dentro e nós os devolvíamos para o rio. Às vezes, saltavam curimbatás, piaparas e até dourados. Mas, a surpresa maior foi quando passamos por um enorme cardume de curimbatás, bem ali na região do 27, pois, a impressão que tivemos, foi a de que o rio estava sujo, cheio de folhas. Mas não, o que víamos se tratava das barbatanas e os focinhos dos peixes que ficavam próximos a superfície. Meu Deus aquilo foi lindo demais. Eu desliguei e levantei o motor para não machucar os peixes. Na verdade fiquei emocionado e ao mesmo tempo me sentindo orgulhoso em poder pertencer a Polícia Ambiental. Essa me privilegiava com a função de intermediar com homens e peixes no sentido de preservar a vida de ambos, uma vez que “nenhum homem pode ser considerado melhor que um peixe e ao mesmo tempo nenhum peixe pode ser considerado melhor que qualquer homem”. Outra vez, foi no Rio Grande, nós estacionamos a lancha próximo das comportas, onde a missão era impedir que pescadores ali adentrassem. “Percebam que, às vezes é melhor prevenir”.
A nossa posição impedia os pescadores de infringirem a lei. Pois bem, por volta das 02h00min da madrugada o cansaço era imenso, tudo se fazia silêncio quando, de repente, ouvimos um barulho que mais parecia alguém jogando milhares de pedrinhas na água. Nós, já estávamos adaptados ali na escuridão, no entanto, não dava para visualizar nada. Preparamos-nos e quando o barulho de novo aconteceu, imediatamente acendemos o sealed bean e pronto, descobrimos. Os dourados atacavam o cardume de lambaris, esses saltavam e todos ao mesmo tempo o que provocava todo aquele barulho. Mais uma vez agradeci a Deus por estar ali. Eu sabia que muitos pescadores ficavam com muita raiva, mas, eu também sabia que eles não tinham consciência de que o nosso trabalho a eles beneficiava. Hoje, tanto no Rio Turvo quanto no Rio Grande, provavelmente, não possibilita mais esse tipo de história, no entanto, acredito ser possível revitalizar os dois rios. Obviamente, essa revitalização dependerá também da revitalização do amor e da consciência humana.
A vida agradece.
a foto 1 comprova que a pecuária suprime vegetação natural, basta observar que a margem esquerda está degradada enquanto a margem direita está intacta.
a foto 2 mostra que o desenvolvimento obstrui o avanço da vida (piracema), pois ali os peixes se encabeçam e se tornam presas fáceis daqueles que também são presas fáceis do desenvolvimento, principalmente, em decorrência da injusta distribuição de renda.
* Jorge Gerônimo Hipólito é colaborador e articulista do Ecodebate.
[EcoDebate, 12/11/2008]
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Muito oportuno o artigo publicado pelo Sr. Jorge Hipólito, uma vez que fala com conhecimento de causa, haja vista eu poder ter tido a oportunidade de trabalhar com tão disposto e apaixonado homem pela nossa natureza. Continue dando sua contribuição ao Meio Ambiente como sempre fez.UM abraço do Batista.
Jorge Hipólito incorpora de forma exemplar, todos os preceitos de configuração de um SERVIDOR PÚBLICO, na mais pura acepção positiva que o conceito dessa profissão pode alcançar. Em especial, orgulha-nos como sendo uma grande referência de amor a causa ambiental, como também de companheirismo e amor fraternal. Um abraço, TÚLIO, Natal-RN.