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Trabalho mede teor de mercúrio, que pode ter efeitos nocivos para o organismo, em crianças do litoral de São Paulo

Pescadores em Cananéia, uma das cidades mais antigas do país
Pescadores em Cananéia, uma das cidades mais antigas do país

Exposição ao mercúrio é avaliada pela primeira vez em crianças do litoral paulista

O mercúrio é um elemento tóxico que pode ter efeitos nocivos para os sistemas neurológico, cardiovascular, imunológico e reprodutivo. Pesquisadores mediram o teor dessa substância em amostras de cabelo de crianças matriculadas em três escolas da cidade de Cananéia (SP), duas delas localizadas em bairros de pescadores. Os resultados – publicados na última edição da revista Cadernos de Saúde Pública, um periódico da Fiocruz – mostram que, em média, as crianças dos bairros de pescadores apresentavam um teor de mercúrio dez vezes maior que as demais. Apesar desta grande diferença, o nível de mercúrio no cabelo das crianças, independentemente do bairro, ficou abaixo do limite máximo de 2 mg/kg preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para população adulta não exposta.

O estudo foi feito pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), em parceria com a Universidade de São Paulo (USP). Os pesquisadores escolheram Cananéia para o trabalho porque, além de não haver estudo desse tipo no litoral paulista, a cidade se situa em uma área reconhecida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como reserva da biosfera. Isto significa que Cananéia tem importância ambiental e cultural. Trata-se de uma das cidades mais antigas do país, fundada em 1531, cuja economia se baseia no turismo e na pesca. Como o consumo de peixes contaminados por mercúrio é uma das principais formas de exposição do homem a este elemento tóxico, os pesquisadores identificaram Cananéia como um local relevante para o desenvolvimento do estudo.

Ao todo, foram coletadas amostras de cabelo de cerca de 100 crianças entre 4 e 12 anos de idade. Para a medição do teor de mercúrio no cabelo, os pesquisadores utilizaram uma técnica chamada espectrometria de absorção atômica com geração de vapor frio, e o controle de qualidade confirmou a precisão e a exatidão dos resultados. Os pais das crianças também participaram da pesquisa, respondendo a questões sobre características familiares, como renda, hábitos alimentares e espécies de peixes mais consumidas.

No grupo de crianças do bairro de não pescadores, os resultados mostraram um teor médio de 0,04 mg/kg. Já no grupo de crianças dos bairros de pescadores, esse teor foi de 0,39 mg/kg. A pesquisa também confirmou que um maior nível de mercúrio no organismo está associado a um maior consumo de peixe: no segundo grupo, cerca de 50% das crianças ingeriam tal alimento duas ou mais vezes por semana, contra apenas 33% no primeiro grupo.

A espécie de peixe mais consumida também variou. Nos bairros de pescadores, 45% dos pais citaram a pescada, que é uma espécie predadora, isto é, ela se alimenta de outros peixes e, por isso, tende a acumular mais mercúrio no músculo. No bairro de não pescadores, por sua vez, a pescada foi citada por somente 33% dos pais e o mesmo percentual fez referência à tainha, que não é uma espécie predadora.

Os autores da pesquisa advertem, no entanto, que o teor de mercúrio encontrado no litoral paulista é baixo, em comparação ao verificado nas comunidades amazônicas, onde investigações já registraram níveis médios de até 20 miligramas de mercúrio por quilo de cabelo em crianças. “A Região Amazônica é seriamente impactada por mercúrio devido à extração de ouro, com cerca de meio milhão de pessoas diretamente envolvidas na atividade”, explicam os pesquisadores Luciana A. Farias, Nathália Renata dos Santos, Débora I. T. Favaro e Elisabete S. Braga no artigo da revista da Fiocruz.

O objetivo da equipe do Ipen e da USP é avaliar a exposição ao mercúrio em região costeira, pois é pequeno o número de publicações para este ecossistema. Os pesquisadores chamam a atenção para a necessidade de estudos padronizados, nas diferentes regiões brasileiras, levando-se em conta suas peculiaridades ambientais e culturais. Eles pretendem, posteriormente, contribuir para o estabelecimento de limites máximos para a exposição ao mercúrio em crianças, considerando-se especificamente a realidade brasileira, e, assim, promover a vigilância para evitar a intoxicação por este elemento.

Matéria de Fernanda Marques, da Agência Fiocruz de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 10/11/2008

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[EcoDebate, 10/11/2008]

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