Carvoeiros em situação semelhante à de escravidão são resgatados na Bahia
[Coalmen in situations similar to slavery are redeemed in Bahia]
Riachão das Neves (Bahia) – Fiscais do Ministério do Trabalho resgataram nesta quinta-feira (6/11) 35 carvoeiros trabalhando em situação comparável à de escravidão em uma fazenda da cidade de Riachão das Neves, no noroeste da Bahia.
De acordo com o auditor do Trabalho Eduardo Santos da Costa, a maioria não tem carteira assinada e tem descontado do salário até as botinas usadas para proteção contra o calor dos fornos.
“Já pude avaliar que há desconto dos salários para comprar cigarros, gasolina e tudo para uma motoserra funcionar. Isso significa servidão por trabalho”, disse.
Paulo Francisco da Silva é carvoeiro da fazenda há quatro anos. Ele lamenta as próprias condições de trabalho e acusa o patrão de cobrar, inclusive, o sabonete e a pasta de dente.
“Eles descontam o que nós usarmos da propriedade. Sabonete, pasta de dente e até a botina. Ganho R$ 450, mas no final do mês fica cerca de R$ 300”, denunciou.
O trabalho semelhante à escravidão é apenas uma das irregularidades na fazenda, segundo o auditor. O proprietário tem autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para fazer queimadas. No entanto, os fiscais encontraram os fornos lotados com madeira de lei, como aroeira, protegida pela legislação ambiental.
O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, acompanhou a fiscalização de perto e demonstrou indignação. “É um duplo crime. Crime de escravidão e crime ambiental. Nós vamos punir com todo o rigor da lei”, afirmou.
O proprietário da fazenda, Waldemar Gertlen, disse que foi surpreendido pela fiscalização. Segundo ele, a fazenda está arrendada e ele não é responsável pelos crimes.
“Quando nós fazemos o arrendamento, a responsabilidade é do chefe da carvoaria. Eu tenho uma atividade produtiva e não tenho nada pra esconder”, disse.
O responsável pela carvoaria não estava presente no momento da fiscalização.
O prejuízo ao Cerrado se estende até o Parque Nacional das Nascentes do Rio Parnaíba. Lá, em plena área de preservação ambiental, foi instalada a fazenda Mauá. São 2.200 hectares de plantações de soja e milho irregulares, segundo o ministro Minc.
“Isso é completamente irregular. Isto é um parque nacional, uma das principais áreas de conservação”, afirmou.
O plantio dentro do parque já tinha sido embargado pelo Ibama em 2003. O proprietário, Haroldo Uemura, contesta o próprio decreto que criou o parque. Ele disse que jamais foi indenizado para sair da região.
“Estou aqui desde 2001. Estamos na Justiça contestando a existência do parque. Nunca recebi nada de indenização”, garantiu.
Como tinha duas espingardas de caça, sem registro, Uemura foi detido. Ele recebeu duas multas por crime ambiental, cada uma de R$ 440 mil. O proprietário disse que também vai contestar as autuações na Justiça.
Matéria de Roberto Maltchik, da TV Brasil, publicada pelo Ecodebate, 08/11/2008
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A escravidão no Brasil nunca acabou.