contaminação por urânio nas águas superficiais e subterrâneas em Caetité, BA: Igreja busca casos de câncer junto a famílias
[contamination by uranium in surface water and groundwater in Caetité, BA: Church seeks cases of cancer among the families]
Pároco de Caetité e Lagoa Real estimula população dos municípios a informar sobre casos de câncer ocorridos na região, sob suspeita de contaminação. Objetivo é suprir falta de dados sobre causas de óbitos
Numa iniciativa que poderia ser considerada “epidemiologia popular”, a que se referem autores como Joan Martinez Alier, em seu livro O Ecologismo dos Pobres, o pároco de Caetité e Lagoa Real (a 757 km e 731 km da capital), Osvaldino Alves, decidiu buscar junto às famílias informações sobre os casos de câncer ocorridos na região. Por Maiza de Andrade, mandrade@grupoatarde.com.br, do A Tarde, BA, 06/11/2008.
“A Secretaria de Saúde daqui não cuida disso. Não se conhece o número de casos, apesar de o senso comum ter a percepção de que o índice de câncer aumentou”, diz ele. Em contato com 131 comunidades de Caetité e 35 de Lagoa Real, ele pediu aos fiéis para listarem casos de óbitos por câncer, na família, e os atestados como de causa ignorada, caso tenham tido sintomas da doença.
Osvaldino destaca, ainda, o fato de a região não ter um centro de diagnóstico e tratamento de doenças oncológicas. “Os casos são levados para Vitória da Conquista e não há preocupação em notificá-los em Caetité”, afirmou.
Outra preocupação dele é com a falta de conhecimento das pessoas dos riscos a que estão expostas, pelo fato de o urânio estar presente no subsolo da região.
“As pessoas não têm noção do risco ou do não-risco”.
Segundo ele, os motivos do “silêncio” sobre o urânio se explica, de um lado pelo temor de represálias aos trabalhadores da empresa exploradora do minério (INB) e de seus familiares, e, de outro, “pelo marketing” em torno da idéia de que o urânio não oferece riscos e a situação está sob controle. “Por que não tratar esse assunto com a atenção que merece, até para evitar mal-entendidos?”, questiona.
À frente da Comissão Pastoral de Meio Ambiente, o padre Osvaldino chama a atenção para o caso de cerca de mil pessoas que vivem nas comunidades próximas à mineração, pobres, sem energia elétrica e que consomem água sem qualidade. “A presença deles (INB) ali, como empresa estatal, deveria ajudar as pessoas”, diz o religioso, que reclama monitoramento regular da água e que a população seja “devidamente informada”.
VIGILÂNCIA – Coordenadora de vigilância epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde de Caetité, Werla Aparecida Alves dos Santos Brito confirma o alto índice de mortes por causas ignoradas no município, que em 2007 chegou a 39,3% dos óbitos registrados em certidões. “O câncer é a terceira causa de mortalidade no município de Caetité.
As causas indeterminadas estão em primeiro”, diz ela.
Com a metade da população vivendo nas áreas rurais do município, onde, segundo ela, não há médicos, a definição da causa da morte é, na maior parte das vezes, apontada por oficiais de cartórios de registros que, por não terem informações médicas, acabam recorrendo à opção “causa indefinida” para lavrar o documento. A Declaração de Óbito passou a ser obrigatória para a realização de todos os sepultamentos.
Werla também confirma que a percepção das pessoas da comunidade é de que esteja aumentando o índice de câncer, “mas não há estudos concretos para a gente se respaldar”, diz ela. A falta de estrutura das unidades hospitalares para diagnóstico e tratamento do câncer também é confirmada por Werla, que atribui a isso o baixo índice de internações por doenças neoplásicas na cidade, que é de 0,3%, apesar de a doença ser a terceira em causa de morte no município.
Riscos ambientais da atuação da INB são avaliados pelo INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).
Primeira licença foi de 2002 (4 anos). Em 2006, INB foi multada (R$ 300 mil) por falta de relatórios. Licença foi renovada por 6 anos.
[EcoDebate, 07/11/2008]
Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta que envie um e-mail para newsletter_ecodebate-subscribe@googlegroups.com . O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.
Olá, sou estudante de medicina e gostaria de fazer um trabalho sobre esse assunto. Há anos venho pensando em publicar um artigo, mas estudo em Minas e, por isso, tenho dificuldade de acesso. Sou da Bahia, a família do meu pai é toda da região de Caetité e o índice de câncer em minha família é altíssimo. Gostaria muito de que alguém pudesse entrar em contato comigo para me fornecer mais informações. Vou para a Bahia em dezembro e pretendo viajar até Caetité.
Obrigada
Nota do EcoDebate: O EcoDebate é o portal com maior cobertura em relação à denúncia de contaminação em Caetité. Sobre a denúncia de contaminação radioativa em Caetité sugerimos que leia, também:
contaminação por urânio nas águas superficiais e subterrâneas em Caetité, BA: Audiência pública: MPF/BA requer auditoria independente
contaminação por urânio nas águas superficiais e subterrâneas em Caetité, BA: ATA de AUDIÊNCIA PÚBLICA
contaminação por urânio nas águas superficiais e subterrâneas em Caetité, BA: Fiocruz investiga casos de doenças na região
contaminação por urânio nas águas superficiais e subterrâneas em Caetité, BA: Igreja busca casos de câncer junto a famílias
denúncia de contaminação por urânio nas águas superficiais e subterrâneas: Governo da Bahia garante assistência às famílias de Caetité
Mineração de urânio em Caetité/BA: os custos socioambientais da energia nuclear, artigo de Zoraide Vilasboas
Governo investiga denúncias de contaminação das águas por urânio em Caetité
INB nega contaminação em Caetité, acusa Greenpeace de alarmismo e ameaça processar a ONG internacional
Dentes radioativos
Greenpeace denuncia que a produção de urânio contamina água em Caetité(BA)