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Tecnologias para preservar meio ambiente podem gerar milhões de empregos

Peter Poschen

O especialista sênior da Organização Internacional do Trabalho (OIT) em Genebra, Peter Poschen, explica o relatório que indica o crescimento de empregos verdes, decorrentes das mudanças climáticas. Foto de Janine Moraes (Estagiária sob sup. de Marcello Casal Jr/ABr)

As tentativas mundiais de frear o aquecimento global estão surtindo efeito na geração de empregos. A constatação foi apresentada no relatório Empregos Verdes: Trabalho Decente em um Mundo Sustentável e com Baixas Emissões de Carbono, da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

De acordo com o estudo, os chamados “empregos verdes” – aqueles relacionados às novas tecnologias ambientais – estão em praticamente todas as áreas que têm se adaptado às reduções da emissão de CO2, como a construção civil, de energias renováveis, na agricultura, na indústria e nos serviços.

Além dos empregos que já vêm sendo gerados, o relatório ressalta que dezenas de milhões de outros postos de trabalho podem surgir com o investimento em tecnologia ambiental.

Na área de energias renováveis, por exemplo, atualmente existem 2,3 milhões de empregos, mas a OIT espera que sejam 20 milhões até 2030. Na agricultura, 12 milhões de novos postos de trabalho podem surgir da produção de biomassa, e espera-se que o mercado global de serviços e produtos ecologicamente corretos suba dos atuais US$ 1,37 bilhão para US$ 2,74 bilhões até 2020.

No Brasil, a área mais promissora é a de reciclagem. Cerca de 500 mil trabalhadores já estão empregados no país reciclando ou reaproveitando materiais.

O relatório demonstra, no entanto, que não há garantias de que esses empregos surjam em “transações justas” e faz um apelo para que aja “diálogo social entre governos e empresários para se criar trabalho decente, que diminua a pobreza e promova o desenvolvimento econômico e social”.

Crise é oportunidade de investir em “empregos verdes”

Apesar de a Alemanha ter se manifestado recentemente dizendo que os países da União Européia deveriam diminuir o ritmo de seus programas de redução das emissões de carbono por causa da crise mundial, o conselheiro principal para desenvolvimento sustentável da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Peter Poschen, disse ontem (27) que a crise é, na verdade, uma oportunidade favorável para as políticas ambientais, com a criação dos chamados “empregos verdes” (postos em atividades ambientalmente sustentáveis).

“Em crises anteriores, como a de 1929, as ações do governo para reverter os problemas econômicos acabaram se tornando as obras que alavancaram o desenvolvimento de países como Estados Unidos durante os anos seguintes”, explicou Poschen.

Segundo ele, com a crise financeira, os investimentos governamentais vão se repetir e é a oportunidade de “pensar no que vai ser a infra-estrutura do século 21”.

“Não é uma questão de consciência ambiental e, sim, de cálculos. A inconsciência energética é um desperdício de recursos”, avaliou o conselheiro da OIT.

De acordo com ele, quando um país investe em economia de energia na construção civil, por exemplo, está apostando numa tecnologia que dará retorno financeiro ao longo dos anos, quando aquele prédio construído deixar de gastar.

Poschen também defendeu que os países invistam em pacotes financeiros para gerar os “empregos verdes” – os postos de trabalho gerados a partir das necessidades de frear o aquecimento global, como a reciclagem ou a produção de biomassa. Segundo ele, além da geração de empregos, esse tipo de pacote também garante que o dinheiro será distribuído em diversas áreas e que vá gerar demanda.

“Quando você injeta dinheiro diretamente na mão do cidadão, ele pode apenas usar esse dinheiro para pagar créditos anteriores Não há garantias de que vá gerar novas demandas. E o dinheiro também pode ficar mais concentrado em uma área do que em outras”, explicou Poschen.

Os Estados Unidos, de acordo com ele, já têm um pacote para a geração de empregos verdes que vai investir US$ 100 bilhões e criar 2 milhões de novos postos de trabalho.

Matéria de Mariana Jungmann, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 28/10/2008.

Nota do EcoDebate: há que se ter cuidado ressaltar os 500 mil “trabalhadores” que estão “empregados”(?) no país reciclando ou reaproveitando materiais como um grande destaque positivo desta valorizada economia verde. Mais de 90% destes “trabalhadores” são catadores, uma atividade informal e insalubre, um caso clássico de subemprego.

É evidente que o trabalho dos catadores é gerador de renda e possui grandes ganhos econômicos e ambientais. Sua atividade é importante para oferta de matéria prima, mas os principais ganhos são apropriados pelos intermediários e pela própria indústria.

A indústria da reciclagem pode ser ambientalmente “verde” mas, socialmente, depende do trabalho pesado e insalúbre de centenas de milhares de trabalhadores informais, que continuam na miséria e, na maioria das vezes, à margem de direitos e garantias sociais, econômicas e previdenciárias.

O seu trabalho é importante e até pode ser tratado como um mal menor diante da miséria e do desemprego, mas, nem por isto, deve ser “festejado” como um “milagre” da economia verde.

Acho que a foto abaixo, que mostra catadores de lixo assando bifes para o almoço no meio do aterro sanitário conhecido como Lixão da Estrutural, em Brasília, já expõe, com veemência, um pouco da vida destes 500 mil “trabalhadores” que, segundo a OIT, estão “empregados” no país reciclando ou reaproveitando materiais.


Foto: Janine Moraes (Estagiária sob sup. Marcello Casal Jr/ABR)

Henrique Cortez, henriquecortez@ecodebate.com.br
coordenador do EcoDebate

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One thought on “Tecnologias para preservar meio ambiente podem gerar milhões de empregos

  • Refinar energia exige o emprego de energia. Dinheiro é energia pois existe um padrão de conversibilidade. Conquanto seja uma energia de potência “flutuante” permite que a inteligência humana crie cada vez mais conversibilidades e aplicações.
    GOLD SAVE THE GREEN, foi o apelo que fiz em 2001.
    Serrano Neves

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