Operação promete salvar mais de 332 mil filhotes de tartarugas
A Operação Pró-Quelônios, realizada por servidores do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) na Reserva Biológica (Rebio) Abufari, centro-oeste do Amazonas, já salvou, em menos de três meses, 600 quelônios adultos das armadilhas de traficantes de animais. Agora, nas primeiras semanas de novembro, a operação chega a sua fase mais importante: a eclosão dos filhotes. A expectativa da chefia da Rebio é superar o recorde do ano passado, quando foi registrado o nascimento de 332 mil tartaruguinhas.
“ Estamos esperando um número recorde de nascimentos. Provavelmente, 240 mil tartarugas-do-Amazonas ganharão os rios que cortam a Rebio. Se contabilizarmos a eclosão de iaçás e tracajás, o número superará as 332 mil tartaruguinhas nascidas em 2007”, afirma o chefe da Rebio Abufari, Fernando Weber, que é oceanólogo e atua na unidade há três anos.
Desde julho, os analistas ambientais da unidade de conservação se revezam para proteger as tartarugas que desovam nas areias dos rios e igarapés que passam pela reserva. Este ano, o trabalho recebeu o reforço de seis homens cedidos pela prefeitura de Tapauá e dois fiscais do Ibama. O monitoramento é feito 24 horas por dia. A equipe já aplicou R$ 1 milhão em multas e apreendeu 58 redes do tipo “capa-saco”.
O manejo dos quelônios é feito há sete anos na unidade. Neste ano, foi possível aprimorar os trabalhos para preservar as tartarugas que desovam na reserva. Atualmente, a operação conta com atividades intensivas de fiscalização, além da proteção e monitoramento dos ninhos contra os predadores naturais. A Coordenação Geral de Proteção e o Centro de Conservação e Manejo de Répteis e Anfíbios, do ICMBio, também está envolvida no esforço para salvar esses animais.
A Rebio Abufari tem 288 mil hectares e um perímetro de 325 Km. As tartarugas que escolhem o local para se reproduzir são acompanhadas pelos analistas ambientais desde a migração dos lagos e igapós aos locais de desova até o retorno às áreas de alimentação.
Para o chefe de unidade, a fiscalização constante para inibir a presença dos traficantes e a guarda dos ninhos contra os predadores naturais é fundamental para preservar as espécies que vivem nas águas do rio Purus. “Ele é um dos mais ricos do estado do Amazonas e a principal hidrovia que liga a capital a diversas cidades do interior. O Purus corta a reserva. Nos limites dela, é permitido o tráfego de embarcações, mas elas não podem parar no local”, destaca.
De acordo com Weber, em 2007, os analistas da unidade apreenderam 2.600 quelônios. “O ano passado não tivemos condições de intensificar a fiscalização, então, o número de apreensões foi maior. Quanto mais rondas fizermos, menos traficantes tentam a sorte na reserva”, explica o chefe da Rebio.
A Rebio Abufari fica no município de Tapauá, a 850 km de Manaus por via fluvial. Não há estradas para a região da reserva, que ainda encontra-se praticamente inalterada. Na área, existem vários tabuleiros de desova de tartarugas da Amazônia (Podocnemis expansa), iaçá (Podocnemis sextuberculatta), tracajá (Podocnemis unifilis) e cabeçuda (Peltocephalus dumerilianus).
“ Trata-se de uma das regiões mais importantes do estado para a conservação e manejo dos quelônios aquáticos. Infelizmente, a questão fundiária ainda não foi definida na unidade e ela é ocupada por algumas famílias que vivem da pesca, caça e extração de produtos que suportam a vida do homem amazônico”, relata o responsável pela unidade.
O oceanólogo lembra que os quelônios são de grande valor para os ribeirinhos. Sua carne e seus ovos fazem parte da alimentação das famílias, que em sua maioria vive em condições precárias. Devido ao alto valor conseguido na venda destes animais, muitos se embrenham na pesca e comércio ilegais das espécies encontradas na região, colocando-os na lista de animais vulneráveis à extinção.
“ No entanto, os maiores predadores das tartarugas são os traficantes de cidades como Manaus, Manacapuru e Beruri, que chegam muito bem equipados e armados. Esses animais são culturalmente utilizados na culinária amazonense. Uma tartaruga adulta das espécies que habitam a região da Rebio Abufari pode pesar até 65 Kg e ser vendida por R$700”, lamenta Fernando Weber.
Todos os animais apreendidos até agora na Operação Pró-Quelônios eram adultos e foram soltos pelos analistas nas águas e areias dos rios da reserva. “Fazemos uma avaliação para checar o estado de saúde dos animais. Se estiver tudo bem, realizamos a soltura imediatamente, pois é assim que esses bichos devem viver, livres”, enfatiza. A operação termina somente no dia 30 de janeiro de 2009.
Márcia Neri, marcia.neri@icmbio.gov.br, Ascom/ICMBio
[EcoDebate, 27/10/2008]
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