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Eletricidade solar para os telhados do Brasil, artigo de Ricardo Rüther e Roberto Zilles

“Um bom exemplo para a aplicação da geração distribuída com sistemas fotovoltaicos integrados em edificações é sua implantação em prédios públicos, quase todos com uma curva de carga mais expressiva no período diurno”

[Valor Econômico] A geração de energia elétrica a partir das chamadas células solares fotovoltaicas, dispostas em pequenas usinas distribuídas pelos telhados das edificações e conectadas ao sistema de distribuição de centros urbanos, é uma aplicação crescente da tecnologia solar em todo o mundo.

Diferentemente dos coletores solares térmicos para aquecimento de água, a tecnologia solar fotovoltaica converte a luz do sol diretamente em energia elétrica. A Associação da Indústria Solar Alemã (BSW) contabilizou no ano de 2007 a conexão de 130 mil novas instalações fotovoltaicas conectadas que representam a incorporação de 1.100 MW, ou seja, a potência prevista para cada uma das fontes contempladas no Proinfa.

Com isto, o total de instalações na Alemanha passa a 430 mil sistemas, com uma potência total de 3.800 MW. Os alemães estão fazendo isto através de um programa de incentivo, que paga aos geradores solares tarifas-prêmio que têm um impacto tarifário muito pequeno e que está distribuído por toda a população daquele país.

A geração solar com sistemas conectados à rede elétrica é normalmente vista como uma tecnologia para os países desenvolvidos, enquanto que os pequenos sistemas solares isolados, como aqueles que vêm sendo utilizados no Programa Luz para Todos do governo federal, são vistos como a aplicação mais apropriada desta tecnologia para os países em desenvolvimento como o Brasil.

Esta lógica está baseada no ainda alto custo da geração solar, que para aplicações urbanas tem custo mais elevado do que a geração convencional, mas que para a eletrificação rural em pequenos sistemas dispersos é em muitos casos a alternativa de menor custo.

A análise da curva de redução de custos da geração solar (a “curva de aprendizado” da produção industrial desta tecnologia) mostra que cada vez que a produção acumulada desta tecnologia dobra, seu custo de produção tem caído em cerca de 20%.

Por outro lado, as tarifas de energia elétrica residencial têm experimentado aumentos consideravelmente superiores à inflação e não existem indicativos de que esta tendência se modifique nos próximos dez anos.

Neste contexto, se pode esperar que em algum momento estas duas tendências conduzam ao que se pode denominar de paridade tarifária: o momento em que o preço da tarifa convencional e o da geração fotovoltaica em telhados solares conectados à rede elétrica é o mesmo. Com as taxas de juros que se pode atualmente utilizar para avaliar investimentos em geração, se pode demonstrar que em várias regiões do Brasil este momento irá ocorrer durante os próximos dez anos.

A boa notícia e a má notícia são a de que 10 anos pode ser um espaço de tempo curto para que o setor elétrico e a indústria brasileira acumulem a experiência necessária para receber quantidades consideráveis de pequenos geradores pulverizados em seu sistema de distribuição e para desenvolver as capacidades de produção necessárias para atender a este novo mercado.

Um bom exemplo para a aplicação da geração distribuída com sistemas fotovoltaicos integrados em edificações é sua implantação em prédios públicos, quase todos com uma curva de carga mais expressiva no período diurno.

Essa particularidade, curva de consumo coincidente com o período de geração, permite o estabelecimento de estratégias de redução de consumo em edificações urbanas e conservação de energia primária nas unidades de geração centralizada. Em 2001, no denominado “apagão elétrico”, foi exigido dos consumidores uma redução de 20% em seu consumo e recentemente foi priorizado o uso de gás para geração termoelétrica para conservação de água nas hidroelétricas.

Portanto, a integração de unidades de geração fotovoltaica em edificações urbanas, públicas ou privadas, além de representar um passo importante para o desenvolvimento da geração distribuída com sistemas fotovoltaicos no país, é uma ferramenta que deveria ser considerada nas estratégias de conservação de recursos primários, como por exemplo, água nos reservatórios das hidroelétricas.

Tramita na Câmara dos Deputados um projeto de lei cuja aprovação pode dar impulso a iniciativas neste sentido. Outra iniciativa que pode alavancar a tecnologia solar fotovoltaica no Brasil é o projeto aeroportos solares desenvolvido pela Universidade Federal de Santa Catarina e a Infraero, cujo objetivo é estudar a integração de geradores solares aos principais complexos aeroportuários do Brasil.

Os aeroportos são uma ótima vitrine para demonstrar esta tecnologia e, ao mesmo tempo, compensar um pouco das emissões de CO2 relacionadas à aviação comercial. Em uma viagem de ida e volta Florianópolis-Brasília, cada passageiro é responsável pela emissão de cerca de 680 kg de CO2 na atmosfera, o que corresponde, à cotação de hoje no mercado internacional, a quase R$ 40.

Por enquanto não estamos pagando o custo das emissões relacionadas a nossas viagens de avião, mas esta situação deve mudar em algum momento. O Brasil pode aqui também dar ao mundo um bom exemplo e “solarizar” seus aeroportos como medida compensatória ao impacto ambiental causado pelos seus usuários, utilizando o princípio de “o poluidor paga”. Assim, se pode imaginar um programa de dez anos em que a cada ano alguns aeroportos passam a integrar geração solar fotovoltaica.

Para tornar o aeroporto de Florianópolis completamente abastecido por energia solar, basta que, ao longo de um ano, cada um dos mais de 100 milhões de passageiros que anualmente tomam um avião no Brasil pague menos de 25 centavos. Para fazer a mesma coisa no aeroporto de Brasília, o custo para cada passageiro fica em torno de R$ 1,40. Se parece caro, mais caro será o custo de nossa falta de ação na questão das fontes renováveis de energia e do aquecimento global.

Urge agora, enquanto a paridade tarifária não chega, estabelecer um amplo programa de telhados solares para que o Brasil comece a preparar o campo para as realidades que virão após a Copa de 2014.

Ricardo Rüther é professor da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC (http://www.fotovoltaica.ufsc.br) e diretor técnico do Instituto para o Desenvolvimento das Energias Alternativas – Ideal (http://www.institutoideal.org).
Roberto Zilles é professor associado do Instituto de Eletrotécnica e Energia e Coordenador do Programa Interunidades de Pós-graduação em Energia da Universidade de São Paulo. (http://www.energia.usp.br).

Artigo originalmente publicado no Valor Econômico, 20/10/2008

[EcoDebate, 22/10/2008]

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2 thoughts on “Eletricidade solar para os telhados do Brasil, artigo de Ricardo Rüther e Roberto Zilles

  • Missao Tanizaki

    O Brasil tem vocação para Geração de Energia Elétrica por meio de Células Foto-Voltáica, em especial a Região Nordeste.

    O Custo da Energia Foto-Elétricam através da utilização do “Silício Negro já pode competir com aquela produzida por Geradores Elétricos que funcional a base de Diesel ou Gá Natural, segundo o inventor do referido recurso.

    Os nossos Governantes e Parlamentares precisam fomentar a instalação de Indústrias do “Silício Negro” no Brasil e junto criar Pequenas Montadoras de Painéis Solares que devem atuar em Cooperativas ou Associações ÉTICAS. Isso pode pode contribuir muito para o Desenvolvimento SOCIAL e Econômico, de Fato SUSTENTÁVEL, gerando muitos Empregos Dígnos e Melhor Distribuição de RENDA, como pode Reduzir a Criminalidade no país.

    MISSAO TANIZAKI
    Fiscal Federal Agropecuário
    Bacharel em Química
    missao.tanizaki@agricultura.gov.br
    Esplanada dos Ministérios, Bloco “D”, Sala 346-B, Brasíla/DF

    TUDO POR UM BRASIL / MUNDO MELHOR

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