Pesquisa mostra que negros são maiores vítimas de doenças da pobreza
Os brasileiros pretos ou pardos são as maiores vítimas de doenças ligadas a condição de vida precária, chamadas também de doenças da pobreza. A informação consta do Relatório Anual das Desigualdades Raciais do Brasil, divulgado há pouco pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com base na Pnad 2007 e nas informações mais recentes do Ministério da Saúde.
A pesquisa mostra que os pretos e pardos são a maioria absoluta dos mortos por malária (60,6%), por hanseníase (58,3%), por leishimaniose (58,1%), por esquistossomose (55,5%) e por diarréia (50%).
De acordo com o coordenador do estudo, professor Marcelo Paixão, a incidência dessas doenças na população preta e parda comprova a desigualdade no acesso a serviços básicos. “Significa que vivem em condições, principalmente os locais de moradia mas também os demais padrões, que os levam a um nível de exposição a doenças típicas da falta de saneamento básico e de vacinação, por exemplo. Enfim, daqueles que têm as piores condições econômicas”.
Mulheres negras morrem mais de aborto que as brancas
As mortes decorrentes de abortos clandestinos vitimam mais mulheres pretas e pardas que mulheres brancas, no Brasil. Estudo divulgado ontem (15) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), feita com os dados mais recentes do Ministério da Saúde, revela que das 565 vítimas de aborto entre 1999 e 2005, 50,6% eram mulheres pretas e pardas.
A pesquisa da UFRJ mostra também que, embora os homens brancos ainda sejam as maiores vítimas do HIV/Aids, no período estudado, a doença avançou mais (44,1%) entre as mulheres pretas e pardas, contra 27,7% entre as brancas, 20,4% entre os homens pretos e pardos e 0,07% entre os brancos.
De acordo com o coordenador do estudo, Marcelo Paixão, os dados refletem a falta de acesso a políticas públicas. “A exposição a esse contágio está incidindo de forma desigual nesse grupo, provavelmente, relacionado às baixas condições econômicas e de acesso a informações, inclusive, de tratamento da doença, que é gratuito”, lembrou.
A publicação da UFRJ mostra também que a população preta e parda, em geral, é a mais afetada por doenças ligadas à pobreza como a malária, hanseníase e leishmaniose. E, ao contrário de todos os outros segmentos, os homens pretos e pardos têm nos fatores externos, como a violência, a principal causa de morte.
Baixo número de deputados negros atrasa debates sobre igualdade racial
A dificuldade de tratar os problemas vivenciados pelos afrodescentes brasileiros no Congresso Nacional, o que inclui a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, pode ser justificada pelo pequeno número de parlamentares negros e pardos na Casa.
A avaliação é do professor Marcelo Paixão, que coordenou o Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil, divulgado hoje (15) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UERJ). O estudo traz um recorte sobre a raça dos deputados eleitos em 2006.
De acordo com o estudo, dos 513 deputados federais, 11 se declaram negros. Desses, apenas uma mulher. Outros 35 se identificaram como pardos, sendo dois homens. Cerca de 87% se declaram brancos, 0,8% amarelos e nenhum, indígena.
O professor Marcelo Paixão destaca que o número de deputados negros e pardos é pequeno em comparação com o total dessa população no país. Juntos, os dois grupos representam 9% da Casa, frente a 49,5% do total dos brasileiros.
Segundo ele, com a atual configuração, os problemas dos negros encontram dificuldades para serem discutidos. Ele cita como exemplo o Estatuto da Igualdade Racial, que tramita no Congresso Nacional há quase uma década.
“Não é verdade que os problemas dos negros tenham que ser trabalhados apenas por deputados negros. Pessoas brancas, amarelas, qualquer que seja, podem fazer. Agora, segundo a história brasileira, é um fato que a baixa presença de negros no parlamento dialoga com a baixa presença desse tema no debate público.”
A pesquisa da UFRJ também destaca que o contingente de mulheres está “sub-representado” na Câmara Federal. No total, as deputadas somam 8,8% do total de eleitos. A única deputada negra, corresponde a 0,02% de todos os deputados.
Matéria de Isabela Vieira, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 16/10/2008.
[EcoDebate, 16/10/2008]
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