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Artigo

Matriz energética: biomassa no lugar de combustíveis fósseis, artigo de Luiz Vicente Gentil


Roberto Fleury/UnB Agência

Os combustíveis fósseis da Matriz Energética Brasileira podem ser substituídos em parte pela energia da biomassa florestal ou agrícola com benefício ambiental, econômico e social. Inclusive afastando a ameaça do “apagão”, termo usado para a falta de energia no Brasil programada para 2012, se não houver novos investimentos e políticas públicas.

Combustíveis poluentes e geradores de efeito estufa como petróleo, carvão e gás natural respondem por 56,3% da matriz primária do Brasil. A biomassa da lenha e cana-de-açúcar responde por 27,9%, o maior índice mundial – emparelhado com a Finlândia –, revelando a vocação brasileira pela biomassa, energia limpa e renovável em forma de calor, potência ou co-geração elétrica. O Brasil tem um grande potencial para a biomassa pela fartura de água, temperatura, solos férteis, grandes áreas não cultivadas e tecnologia agroflorestal já desenvolvida.

Resíduos não aproveitados – agroflorestais ou da madeira –, no Brasil, produzem por ano cerca de 55 milhões de toneladas, o equivalente a 7,1% de toda energia primária do Brasil, ou 13,3% dos combustíveis fósseis, 18,4% do petróleo e 54,1% da energia hidráulico-elétrica, aliviando assim o efeito estufa mundial e oferecendo energia de menor preço para a população.

Os países não suportam mais o preço do petróleo que chegou a US$ 150/barril, quando o patamar máximo seria US$ 50/barril para continuar o desenvolvimento da civilização ocidental, conforme declaração pública de Alan Greenspan, ex-chairman do Federal Reserve dos Estados Unidos. Para solução deste quadro, a energia da biomassa florestal, madeireira ou agrícola é um caminho gerador de emprego, renda e crescimento social em áreas rurais.

A madeira tem 18,4 giga joules de energia por tonelada e preço de U$ 12,3 por giga joule, enquanto o óleo diesel tem 42,7 giga joules e preço de U$ 22,1. Ou seja, o preço da energia da madeira é 44% menor que a do óleo diesel. Esta é a razão do declínio dos combustíveis fósseis e ascensão da energia da madeira no Brasil, mudando o perfil da Matriz Energética nacional.

Como exemplo prático, uma panificadora ou uma grande agroindústria que usa óleo combustível, eletricidade, gás de cozinha, gás natural ou óleo diesel, pode e deve substituir estes produtos pela lenha plantada ou catada, poda urbana, briquetes, resíduos madeireiros de construção civil ou de indústrias entre eles de móveis.

Quando se janta em uma pizzaria por exemplo, a energia demandada é da madeira e não dos combustíveis fósseis, pelo menor preço e não poluente. Da mesma forma, as indústrias estão substituindo os combustíveis fósseis pela biomassa como fonte de energia, por ser de menor preço e renovável. Até 20 anos atrás, o óleo combustível rico em enxofre era usado nas fornalhas das indústrias. Hoje, a biomassa assumiu a maior parcela e tende a dominar o mercado, inclusive com plantações próprias em cooperativas agrícolas de até cinco mil hectares de eucalipto energético produzidos na região Centro-Sul do Brasil.

Neste quadro, o Brasil é o mais ambiental país do mundo, não só por ter em sua matriz 27,9% de biomassa da lenha e da cana-de-açúcar, gerando carbono neutro e baixa emissão de CO2, como ser também um grande pulmão com a segunda maior área de cobertura florestal da Terra com12%, logo atrás da Rússia com 20%.

Isto significa que o Brasil aliado à Rússia, seqüestram um terço do CO2 da atmosfera planetária, limpando as emissões dos outros países da Europa, Estados Unidos, Japão e China. A produção de CO2 no Brasil é de 1,9 toneladas por habitante ao ano; nos Estados Unidos é de 19,6 e a média mundial 4,2.

A energia florestal brasileira poderia ser transformada em eletricidade equivalente a 45,1% da geração nacional. Já existem indústrias no Brasil de co-geração com 30 MW movidas à biomassa florestal, vendendo eletricidade e vapor com preço abaixo do mercado. Em função disso, acreditamos ser irreversível no médio e longo prazo, a substituição parcial dos combustíveis fósseis pela biomassa florestal-madeireira na Matriz Energética do Brasil.

Luiz Vicente Gentil é doutor em Ciências Florestais, mestre em Engenharia Agrícola pela Universidade de São Paulo (USP), engenheiro agrônomo pela Unversidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e professor adjunto da Faculdade de Agronomia da Universidade de Brasília (UnB).

[Ecodebate, 06/10/2008]

2 thoughts on “Matriz energética: biomassa no lugar de combustíveis fósseis, artigo de Luiz Vicente Gentil

  • Missao Tanizaki

    O Brasil pode sair na FRENTE., promovendo o seu Desenvolvimento SOCIAL e Econômico de Fato SUSTENTÁVEL.

    A Produção de Biomassa Marinha (Aguapé) poderá promover Redução Drástica do Carvão Mineral, Petróleo e Gás Natural, como promover a Auto-Recuperação de Áreas Degradadas de todo o MUNDO e da sua Biodiversidade, podendo, também, recuperar Produção Pesqueira Marinha Mundial, mas requer estabelecer um CONSÓRCIO MUNDIAL.

    Para iniciar precisamos desenvolver um Projeto Nacional, onde é necessário o apoio da Sociedade Brasileira, nisso incluo os nossos Governantes e Parlamentares, como dos Pesquisadores das diversas Àreas da Ciência e Tecnologia.

    MISSAO TANIZAKI
    Fiscal Federal Agropecuário
    Bacharel em Química
    missao.tanizaki@agricultura.gov.br
    Esplanada dos Ministérios, Bloco “D”, Sala 346-B, Brasíla/DF

    TUDO POR UM BRASIL / MUNDO MELHOR

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